11 Agosto 2022
Entre as questões urgentes identificadas pelos bispos alemães está o acesso igualitário de todos os batizados a cargos da Igreja.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada por The Tablet, 10-08-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A fim de restaurar a credibilidade da Igreja, que foi destruída pelos escândalos de abusos sexuais “os bispos precisam assumir uma clara posição sobre questões urgentes de nosso tempo”, afirmaram os participantes do Caminho Sinodal alemão, que em 05 de agosto publicou, por meio da Conferência Episcopal da Alemanha, em uma contribuição de 13 páginas para o Sínodo dos Bispos de 2023.
Entre as questões urgentes identificadas pelos bispos e participantes estão “acesso igualitário de todos os batizados a cargos da Igreja; uma reavaliação da moral sexual; e uma abordagem não-discriminatória de homossexuais e queers”.
As discussões do caminho sinodal atraem um ávido interesse na Igreja e no público em geral na Alemanha, e ainda mais longe, tem recebido comentários de conferências episcopais de todo o mundo. O Papa Francisco também tem exposto nitidamente sua percepção.
Em 29 de junho de 2019, Francisco publicou uma carta “para o povo peregrino de Deus na Alemanha”, na qual ele diz que “a Igreja universal vive em e das Igrejas particulares assim como as Igrejas particulares vivem e florescem em e desde a Igreja universal. Se elas se encontrarem separadas do corpo eclesial, elas enfraquecem, apodrecem e morrem. Portanto, a necessidade é de sempre assegurar a comunhão com o corpo inteiro da Igreja”. A carta era claramente uma lembrança para qualquer um que precisasse ser lembrado que a Igreja da Alemanha não era uma entidade autônoma.
Em 21 de julho deste ano, a Secretaria de Estado publicou uma declaração não assinada dizendo que era necessário esclarecer “que o Caminho Sinodal na Alemanha não tem o poder de obrigar bispos e fiéis a adotar novas formas de governo e novas orientações de doutrina e moral”. Os presidentes da Conferência Episcopal Alemã e do Comitê Central dos Católicos Leigos Alemães (ZdK) disseram estar chocados com a intervenção, mas vozes poderosas no Vaticano estavam obviamente preocupadas.
No voo de volta do Canadá, em 29 de julho, o Papa Francisco foi questionado sobre essa declaração. Ele confirmou que veio da Secretaria de Estado, mas insistiu que havia dito “tudo o que tinha a dizer” sobre o Caminho Sinodal alemão em sua carta de 2019 aos católicos alemães.
Em seu documento de 5 de agosto, os participantes do caminho sinodal revelaram que menos de 10% dos fiéis diocesanos, a maioria das classes média ou alta da sociedade, participaram da pesquisa para o Sínodo Mundial dos Bispos.
Desejaram expressamente que as quatro questões fundamentais em que se têm concentrado nos últimos três anos, nomeação e separação de poderes na Igreja, o ministério sacerdotal hoje, moralidade sexual e o papel da mulher na Igreja, sejam integrados no Sínodo Mundial 2023. Estas são as questões, eles afirmam, que são de grande importância para as igrejas locais.
Essas questões foram delineadas pelos autores do estudo de abuso de 2018 encomendado pela conferência dos bispos alemães, que examinou as causas do abuso sexual sacerdotal. “Dar nova credibilidade à Igreja na Alemanha e à sua missão na sociedade de hoje é visto como um pré-requisito para enfrentar as reformas necessárias dentro da Igreja relacionadas a esses tópicos. O objetivo central do Caminho Sinodal é abordar as causas sistêmicas do abuso e seu encobrimento, para que o Evangelho possa ser proclamado com credibilidade mais uma vez no futuro”, afirma o documento de 5 de agosto. Ou seja, os participantes tinham como certo que as quatro categorias identificadas precisavam ser abordadas se a questão do abuso em si fosse abordada.
O tema “escutar” foi amplamente discutido, segundo o documento. “Escutar a Deus, aos fiéis e às pessoas, assim como os sinais dos tempos, é visto como o fundamento do processo sinodal”. Escutar envolvia, entre outras qualidades, a vontade de mudar. “Uma ‘escuta’ que não leva a decisões conjuntas e ações concretas não é suficiente”, enfatizaram os participantes.