10 Junho 2022
Hilarion foi destituído de seu cargo de número dois na Igreja Ortodoxa Russa por ter ousado, nos mesmos dias em que as sanções da UE eram decididas, ir à Hungria para falar com o cardeal católico Peter Erdo, que muitos consideram papável. Agora Hilarion terá que ficar na Hungria, em exílio.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada em Formiche, 09-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
De nada lhe valeu ter obtido em fevereiro de 2022 a ordem de Nevsky das próprias mãos do presidente Putin. Não foi suficiente. Com a entrada na guerra contra a Ucrânia, o Patriarca oligarca de Moscou Kirill retomou firmemente em suas mãos as relações com o "Czar" e o controle do Patriarcado. Assim, alguns dias depois de evitar as sanções da UE graças ao veto do líder húngaro Orban, Kirill demitiu Hilarion de sua posição como número dois na Igreja Ortodoxa Russa, rebaixando-o a simples arcebispo, além disso, fora da Rússia.
Justamente em Budapeste, onde, na opinião de Kirill, ele não poderá causar muitos danos, porque evidentemente existe um aliado de Kirill em Budapeste e apenas um, Orban. Uma manobra sancionada pelo Santo Sínodo de Moscou que substituiu Hilarion pelo jovem Antonij (36 anos), ex-secretário do próprio Kirill, arcebispo ortodoxo de Paris e com um papel importante no passado nas dioceses ortodoxas russas italianas.
Com isso Kirill colocou Antonij na pole position para a sucessão a número um, como aconteceu entre Alexei II e o próprio Kirill. De acordo com dom Stefano Caprio, professor de história e cultura russa no Pontifício Instituto Oriental e um dos maiores conhecedores do mundo russo e do Patriarcado de Moscou na Itália, "há uma constante no comportamento do Patriarca para com seus colaboradores mais próximos que de vez em quando, sem aviso prévio, e muitas vezes dependendo do humor, são transferidos e enviados para outros lugares e para outras funções”.
No caso de Hilarion - pelo menos até onde podemos entender - o humor se dá pelo fato de o metropolita ser muito independente, ele tomava muitas iniciativas por conta própria, principalmente na tentativa de abrir caminhos de diálogo e relações diplomáticas. Afinal, era o seu trabalho. No entanto, não foi apreciado quando o Patriarca assumiu posições mais rígidas e intransigentes em relação à guerra. O professor Caprio acrescenta que agora para o Vaticano “está cada vez mais difícil manter relações com os russos. A Santa Sé fez de tudo para não romper as relações, mas é extremamente difícil”.
Pois bem, Hilarion ousou, nos mesmos dias em que eram decididas as sanções da UE, ir à Hungria para falar com o cardeal católico Péter Erdő, um expoente da hierarquia cujo papel cresceu muito desde a celebração do último Congresso Eucarístico, no último outono. Um cardeal que muitos consideram papável. Agora Hilarion terá que ficar na Hungria, em exílio.
Em todo caso, a verdade é que o Papa Francisco reiterou em 29 de maio em uma nota pessoal enviada ao presidente da associação russa de antigos crentes (ligada ao metropolita Hilarion) que queria ir a Moscou.
No dia seguinte, o influente amigo de Putin, Serghej Markov, quando questionado sobre a iniciativa de Salvini de ir a Moscou, disse ao Corriere della Sera que o patriarca Kirill havia expressado uma opinião não positiva sobrea visita de Francisco.
Em suma, o torpedeamento de Hilarion também é um tapa na cara de Francisco.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O afastamento de Hilarion por Kirill é um tapa na cara do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU