Ortodoxos. Com quem está São Jorge? As orações de russos e ucranianos ao guerreiro que derrotou o dragão

(Foto: Pixabay | Creative commons)

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10 Mai 2022

 

"Quem é o dragão do mal que hoje deve ser trespassado por São Jorge, o icônico guerreiro do Bem?", questiona Fabrizio D'Esposito, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 09-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo. 

 

Quem é o dragão do mal que hoje deve ser trespassado por São Jorge, o icônico guerreiro do Bem?

 

Na sexta-feira, 6 de maio, russos e ucranianos ortodoxos celebraram este santo mártir chamado de Vitorioso e sermões e orações foram inevitavelmente entrelaçados com a guerra desencadeada por Mad Vlad.

 

O agora conhecido Kirill, patriarca bilionário de Moscou e de todas as Rússias, como bom "coroinha de Putin" (papa Francisco dixit) exaltou em primeiro lugar sua virtude militar: "Não é por acaso que no Império Russo - um país ortodoxo que teve de conquistar com força o direito à vida não segundo os modelos dos outros, não segundo as leis dos outros, mas segundo a sua própria verdade, proveniente precisamente das fontes da nossa fé - a Ordem de São Jorge, o Vitorioso tornou-se o mais alto reconhecimento militar". E é precisamente a fita laranja e preta (lentochka) de São Jorge, o símbolo do Dia da Vitória (Den 'Pobedy) que é comemorado hoje em toda a Rússia.

 

Naquele 9 de maio de 1945 (na realidade na Alemanha era o dia 8, devido aos fusos horários) em que a União Soviética derrotou o nazismo. Em seu sermão de 6 de maio, Kirill prestou homenagem até mesmo ao general protagonista da batalha de Berlim, em nome do abrangente nacionalismo russo:

 

"E é surpreendente que mesmo o marechal da vitória Georgy Zhukov carregasse o nome em homenagem ao santo grande mártir Jorge. De alguma forma, tudo se encaixou em um determinado ponto. Alguns conseguiram ver nisso a manifestação indubitável da providência de Deus, alguém pensou por nós, chamados a compreender os sinais da história e os sinais dos tempos: tudo o que aconteceu em 1945 foi uma prova indubitável da misericórdia de Deus para com o nosso povo”.

 

Tudo se encaixou em um determinado ponto”, graças à fé, do czar a Stalin e agora a Putin.

 

Obviamente, na Ucrânia, São Jorge, o Vitorioso, foi invocado por razões opostas. O patriarca de Kiev Epifânio, depois de rezar pelos soldados que “defendem a Ucrânia”, referiu-se a Putin como o Anticristo a ser derrotado:

 

Que Deus e São Jorge nos sustentem nesta luta, da qual sairemos vitoriosos. E essas provações nos tornarão mais fortes espiritualmente. Com a ajuda de Deus vamos derrotar o inimigo, vamos derrotar o novo Anticristo, Putin, que decidiu destruir o povo ucraniano”.

 

Epifânio é o primaz da Igreja autocéfala da Ucrânia, reconhecida pelo patriarca de Constantinopla (primus inter pares entre os ortodoxos, sucessor de André, o apóstolo), mas não por Kirill e Moscou.

 

Também Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Greco-Romana da Ucrânia (fiel ao Papa Francisco) também em fim se demorou nos poderes de São Jorge, tanto mártir quanto vencedor:

 

"Pedimos agora ao grande mártir Jorge que nos ajude a descobrir o poder que ele testemunhou de estar presente em nós. Afinal, com nosso sofrimento, nosso heroísmo, desmascaramos a maldade daqueles torturadores que vieram para a terra ucraniana. Mesmo quando os carrascos se adornam com as chamadas fitas de São Jorge, tentando reivindicar a vitória do Grande Mártir Jorge, ele mesmo os desmascara”.

 

E então, afinal: com quem está São Jorge?

 

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