"De acordo com essa perspectiva instrumentalista, a democracia é boa desde que seu setor vença. Quando perde, já não é boa, então que venha os tanques, os aviões e os helicópteros para fazerem o trabalho sujo. Essa coisa que pensávamos que havia ficado nos anos 1970 e 1980 do século passado, mais uma vez se assoma no horizonte e é algo com o qual temos que ter muito cuidado num futuro imediato", afirma Álvaro García Linera, ex-vice-presidente da Bolívia, matemático, sociólogo, estudioso dos movimentos sociais e da ‘esquerda indígena’ boliviana e professor titular de Sociologia e Ciências Políticas da Universidad Mayor de San Andrés, em texto publicado por Outras Palavras, 01-06-2022. A tradução é de Rôney Rodrigues.
Este texto é um trecho do ensaio La política como disputa de las esperanzas, de Álvaro García Linera, vice-presidente da Bolívia entre 2006 e 2019. O ensaio foi publicado em formato de e-book pela Clacso e a obra pode ser baixada gratuitamente aqui [em espanhol].
Certamente o que aconteceu na Bolívia [golpe de 2019] apresenta um certo grau de excepcionalidade. Não conseguiram vencer eleitoralmente e, por isso, recorreram à violência. No entanto, essa forma de retorno da direita também pode assumir outras formas em outras partes do continente e do mundo. Os golpes policialescos-militares não são a única maneira pela qual a direita pode recuperar o poder. Por exemplo, no Brasil, houve um golpe de estado judicial ou lawfare, que se refere ao uso do poder judicial para desconsiderar a vontade do povo e as maiorias eleitorais.
Outra forma vem da mão de devastadoras cadeias de agressão midiática que, aproveitando-se do monopólio corporativo da mídia privada e de campanhas multimilionárias de manipulação nas redes sociais, destroem a opinião pública, insuflam medos artificiais na população e obtêm vitórias eleitorais adulando as “tristes paixões” de uma sociedade já degradada.
Em todos os casos, essas táticas perversas de desestabilização política encontram eficácia ao capitalizar as fragilidades do progressismo, especialmente aquelas que surgem quando há distâncias entre as elites dos governos e as organizações sociais populares que as apoiam, ou também quando estão esgotadas ou foram cumpridas as reformas de primeira geração de governos progressistas.
Em ambos os casos, com o golpe de 2019 aprendemos algumas lições. A primeira é que a direita que enfrentamos hoje não é a mesma do início do século XXI. Naquela época a direita do continente estava em frangalhos, o sistema de dominação da região havia sido abalado pelas grandes revoltas plebeias com as quais o século começou. Na Venezuela, na Argentina, na Bolívia, no Equador, houve grandes mobilizações sociais, em alguns casos insurreições populares, que permitiram que o horizonte das expectativas coletivas neoliberais rachasse e fosse encurralado. O Consenso de Washington já não gerava qualquer esperança – e havia perdido seu otimismo histórico.
Hoje a direita não é mais a mesma. Ela está incrustada e enfurecida. Já não mobiliza o imaginário de universal em que todos se encaixam, mesmo os “perdedores”, pois sempre produziu a ilusão de um novo “desafio” em que o “perdedor” era outro. Hoje ela transmite um ressentimento sórdido e uma melancolia. Ressentimento contra a plebe igualada, contra a juventude pobre que põe em risco sua “segurança”, contra o migrante que ocupa empregos que ela despreza, contra as mulheres que não toleram mais a tirania patriarcal, contra os “comunistas” que querem expandir o Estado protetor. E melancolia pelos velhos tempos de glória, quando não havia progressismos, quando as mulheres estavam nas casas, quando os jovens eram vigiados, quando os trabalhadores não tinham sindicatos e quando as decisões do Estado eram tomadas nas embaixadas estrangeiras ou nos escritórios das grandes corporações empresariais.
São os nostálgicos furiosos de um passado de consensos generalizados em torno da ideologia empresarial transformada em senso comum. Hoje, essa ilusão empobrecedora explodiu em mil pedaços divergentes e, então, o que resta de seus fragmentos é uma violenta cruzada contra os “infiéis” de uma ordem crepuscular e mofada. Contra os pobres, especialmente os jovens, ameaçados de prisão profilática em suas quebradas. Contra os trabalhadores, aos quais é prometido o retorno de uma autocracia da precarização do trabalho. Contra as mulheres, intimidadas pelo retorno de seu encarceramento através das disciplinas da velha família tradicional. E aos indígenas, a ameaça de devolvê-los ao chicote do latifúndio e da marginalidade social.
Estamos, portanto, diante de uma direita em guerra enlouquecida contra o colapso de sua velha ordem mundial. Não tenta mais seduzir, mas aniquilar; não procura convencer, mas punir; não convoca, ameaça trajando uma armadura de ódio contra os insolentes. É por isso que ela se tornou cada vez mais autoritária, violenta e descaradamente antidemocrática.
A direita pós-ditatorial que conhecemos no final do século XX era liberal-democrática porque havia um consenso entre livre mercado e democracia eleitoral. Por que houve consenso? Porque não havia divergência entre as elites políticas. Nas décadas de 1980 e 1990, todos, de direita ou de esquerda, compartilhavam esse horizonte. A União Soviética havia caido, o Estado de Bem-Estar entrou em crise em todo o mundo e todos abraçaram o livre mercado e a globalização, inclusive esquerdistas arrependidos e derrotados. Portanto, a democracia representativa foi articulada com o livre mercado.
A partir do ano 2000, isso muda. Há uma divergência entre as elites em todo o mundo e, especialmente, na América Latina. Seja por rebeliões contra as políticas de “ajuste” neoliberal ou pelo colapso das soluções de livre mercado, uma grande divergência foi desencadeada nos projetos político-econômicos dos partidos e organizações sociais. A Inglaterra se separou da União Europeia; os Estados Unidos estabeleceram a meta, com Donald Trump e, depois, com Joe Biden, de favorecer o mercado interno, ou seja, o protecionismo, sob o lema “America First”. A globalização estava bem quando eles detinham a hegemonia mundial, mas é um problema quando outros, neste caso a China ou a Índia, começam a se tornar a fábrica do mundo e nos inundam, inclusive os Estados Unidos, com seus produtos.
A pandemia de covid-19 exacerbou essas contradições. Para enfrentá-la de forma global, as soluções de mercado foram abandonadas. Todos se voltaram para o Estado, começando pelas bolsas de valores e os CEOs das megacorporações que imploraram aos Estados para que emitissem dinheiro para pagar salários, recomprar ações e pagar dívidas. Foram os bancos centrais dos EUA, da Inglaterra e do resto da Europa – isto é, instituições do caluniado espaço público – que distribuíram dezenas de trilhões de dólares por toda parte; foi não Wall Street. E assim salvaram o capitalismo mundial da pior crise econômica dos últimos cem anos.
Essa fratura do consenso mundial em torno do livre mercado, essa nova disputa entre o protecionismo, por um lado, e o livre comércio, por outro, essa renovada exigência do Estado para corrigir a tragédia social produzida pela globalização está marcando o crepúsculo de uma modelo neoliberal que não está disposto a se aposentar sem antes gerar uma batalha patética e raivosa. Sua violência é inversamente proporcional à sua legitimidade. E é por isso que a centro-direita se rebaixou, transformando-se em uma extrema-direita autoritária e racializada. O golpe de 2019 na Bolívia é um exemplo extremo. Mas não é uma exceção irreprodutível, é uma tendência.
Também não é por acaso que nos EUA, uma das democracias liberais mais antigas do mundo, o Parlamento foi invadido em janeiro de 2021 e os perdedores das eleições falaram de fraude; ou que na Espanha um famoso romancista de filiação liberal assinalou que “o importante da democracia não é que haja liberdade de escolha, mas que ela seja uma boa escolha”. Ou seja, se eles não escolhem “bem”, ou seja, os do seu próprio grupo, então é melhor tirar o direito de escolha das pessoas. Esta ameaça vai diretamente para os pobres, para os humildes, para os camponeses, porque são propensos a escolher “populistas”, “esquerdistas”, o que significa que escolhem “mal”.
De acordo com essa perspectiva instrumentalista, a democracia é boa desde que seu setor vença. Quando perde, já não é boa, então que venha os tanques, os aviões e os helicópteros para fazerem o trabalho sujo. Essa coisa que pensávamos que havia ficado nos anos 1970 e 1980 do século passado, mais uma vez se assoma no horizonte e é algo com o qual temos que ter muito cuidado num futuro imediato. E não é apenas uma degeneração política da América do Norte ou do Sul. É mundial. Quando se vê prestigiados filósofos franceses e alemães incitando novas versões de guerras religiosas com a intenção de proteger a “pureza” da cidadania europeia diante da migração, ou pedindo a formação de um exército europeu para conter a ameaça “asiática”, notamos que estamos diante de um liberalismo corrompido, que apela ao racismo e ao militarismo para resguardar seus feudos encolhidos.
Paralelamente, essa direita reciclada inovou em seus métodos e meios de incidência. Não só ocupa as instituições, manipula oligopólios midiáticos, financia partidos políticos, esbanja financiamento empresarial; agora também ocupa as ruas, trava guerras ideológicas moleculares, alimenta narrativas de ódio e revanchismo. Ela aprendeu as lições dos últimos vinte anos, quando a esquerda tinha o monopólio das ruas e das estratégias moleculares de formação da opinião pública. É uma direita, digamos, mais “gramsciana”, que aprendeu com o que aconteceu nas últimas décadas, o que gera uma situação mais complicada. Aliás, às vezes eles ocupam mais a rua do que nós. E isso é um grande erro porque a rua, o bairro, a fábrica, a universidade, a praça, a marcha, a assembleia, a ação coletiva devem ser sempre nosso território, o território do progressismo, da esquerda, dos revolucionários.
Dali viemos, dali somos, dali construímos tudo. Mesmo a luta pelo poder institucional é frágil se não for correlacionada com a presença ativa e o protagonismo das ruas.
Analisemos agora a situação em que se encontram as forças progressistas e de esquerda que chegaram ao poder. Elas apresentam mudanças e, inevitavelmente, dificuldades.
A primeira onda progressiva, que ocorreu entre 2000 e 2015, foi sem dúvida a década mais virtuosa dos últimos cinquenta anos em nosso continente. 70 milhões de pessoas que foram para a cama com fome foram retiradas da pobreza e da extrema pobreza para ingressarem numa situação de renda média. Isso significa que a pessoa que nos vende doces na esquina, que o jovem trabalhador precário que trabalha em uma fábrica, que a vizinha que mora em um quartinho alugado com seus três filhos e não tem emprego, naquela década eles puderam encontrar um emprego digno, ou economizar um pouco para comprar um pedaço de terra, ou melhorar a alimentação de seus filhos, ou mandar sua filha para a universidade, ou ampliar seu pequeno negócio, ou pagar o empréstimo do apartamento; ou seja, significou uma revolução material nas condições de vida de milhões de famílias humildes e trabalhadoras.
Nessa década os salários melhoraram, houve um enorme crescimento econômico e a riqueza foi redistribuída. O caso da Bolívia pode servir de ilustração: se no início desse período 6 em cada 10 bolivianos eram pobres e 4 em cada 10 eram extremamente pobres, em uma década essa situação melhorou para 3 e 1 em cada 10, respectivamente. A economia cresceu em média 5% ao ano por 13 anos consecutivos. O salário mínimo de um trabalhador boliviano – o país mais pobre da América Latina depois do Haiti – também passou de US$ 42 para US$ 302 no mesmo período. Milhares e milhares de famílias camponesas deixaram de recolher água das poças para beber e puderam abrir uma torneira em casa para desfrutar de água potável. As salas de aula rústicas com goteiras e lousas imaginárias de escolas públicas de bairros populares e do interior deram lugar a grandes prédios modernos, onde as crianças aprendem e comem com dignidade. O indígena e o camponês, sempre pobres e discriminados, não só foram reconhecidos e retirados da pobreza, mas também se tornaram poder estatal para reorganizar a fisionomia do comum de uma sociedade plurinacional.
Temos experimentado essas mudanças, com maior ou menor intensidade, em todo o continente que se tornou “rosa” ou “vermelho”, ou seja, majoritariamente progressista. No entanto, a partir de 2015, a primeira geração de reformas começou a ser cumprida e, ao se cumprir, começou a se esgotar. Porque hoje essas reformas que fizemos na primeira onda já são insuficientes diante da crise ambiental, da crise médica que vivemos e da crise econômica que desencadeou tudo isso. O mundo regrediu economicamente. Em média, a América Latina caiu nove pontos em seu produto interno bruto, ou seja, voltamos à riqueza que tínhamos em 2008 ou 2010. A pandemia ainda é uma ferida aberta que trouxe mais pobreza, fechou negócios, gerou desemprego e endividamento e debilitou a riqueza social, ou seja, um panorama muito complexo. Então, as reformas da primeira geração do progressismo, que já vinham dando sinais de enfraquecimento, tampouco têm a iniciativa para enfrentar de maneira duradoura e sustentável essas novas circunstâncias históricas desencadeadas pelo “grande confinamento” de 2020-21.
Estamos, portanto, diante de um fato paradoxal que caracteriza o mundo: nem o neoliberalismo propõe um plano de longo prazo que não seja um mero retorno violento e melancólico ao passado, tampouco o progressismo apresenta um horizonte com capacidade de superar as dificuldades que emergiram da pandemia e da crise econômica e ambiental. É assim que se produz esse momento de estupor coletivo, de certa paralisia, em que o tempo parece estar suspenso. É um tempo liminal.
Tomamos consciência do tempo que passa apenas quando imaginamos uma linha concatenada de eventos que se dirigem a um fim. Talvez nunca saberemos ao certo qual é esse fim, mas em nossa imaginação organizamos nossas vidas, nosso cotidiano, nossas relações com nossos parceiros, nossa universidade, nossa turma, nossos amigos, em uma concatenação voltada para um objetivo que funciona como horizonte. Mas quando isso desmorona porque não sabemos se estaremos vivos em um ano, se manteremos nossos empregos, se poderemos economizar ou se nossa filha poderá ir para a escola ou universidade, ou seja, quando nossa capacidade de vislumbrar de forma imaginativa o futuro é quebrada, como agora, o tempo para. Embora o tempo físico continue passando, o tempo social parece dilatado; acontecem uma infinidade de coisas cotidianas e ainda assim é como se estivesse parado porque não há mais uma concatenação de eventos orientados para um destino imaginado. A incerteza é o espírito da época.
Estamos diante de um portal em que sabemos o que não funciona mais, o que está errado, o que nos incomoda; mas não sabemos o que irá superá-lo, o que está por vir.
Esta é uma característica atual do tempo que se acentua porque os projetos políticos em conflito se mostram fracos em disputar o imaginário da esperança coletiva; tanto o neoliberalismo requentado e zumbi que persevera e não é mais capaz de conquistar o otimismo diante da história, quanto o progressismo de primeira onda, que fez um bom trabalho, mas não está conseguindo delinear a próxima onda de reformas. Então, em geral, existe esse momento paradoxal, tempo suspenso ou liminal. O importante nestes tempos paradoxais é a suspensão do horizonte preditivo. Durante tais lapsos, a angústia e o estupor passa para, mais cedo ou mais tarde, uma disponibilidade a novas crenças, o que produz uma crise cognitiva. As pessoas podem suportar um, dois ou três anos com o tempo suspenso, mas em algum momento precisam se agarrar a um futuro, mais ou menos realista ou fantasioso, mas portador de certezas imaginadas. Os humanos são, acima de tudo, seres de crença. Essa é a grande diferença entre os seres humanos e os demais seres vivos: precisamos inventar uma crença sobre como será o porvir.
Hoje estamos no estágio de estupor universal, mas mais cedo ou mais tarde virá a etapa da disponibilidade cognitiva para revogar velhas crenças – e colocar novas em seu lugar. E, nesta luta de novas ideias-força, duas tendências se enfrentam hoje. De um lado, as direitas, que levantaram a bandeira de uma nova guerra santa e se apresenta como os novos cruzados, com seus capacetes, suas couraças, seus escudos e suas lanças. Pretendem enfrentar os supostos novos inimigos da liberdade, que seriam os progressistas, os “populistas”, os indianistas, os “comunistas”.
Quando a prefeita ultraconservadora da Espanha disse: “o indianismo é o novo comunismo”, ela estava apelando para aquela maneira maniqueísta de dividir o mundo, típica dos anos 1950. Hoje não há muitos comunistas, mas não há dúvida de que o comunismo é para o capitalismo o espectro aterrorizante de sua própria morte, a lembrança perpétua de sua contingência. O que temos agora é o progressismo, e dentro dele estão os comunistas, os socialistas, os indianistas, os nacional-populares, etc. Mas o que englobamos sob o nome de “progressismo” tornou-se o grande inimigo das direitas. E para elas não é apenas um adversário político, mas – o que é pior e mais grave – um inimigo moral.
A outra força em conflito, que ainda luta timidamente pela organização desse horizonte de previsibilidade do futuro, é a esquerda, o progressismo, o nacional-popular. E é aqui que temos uma obrigação ou responsabilidade histórica: recuperar para o nosso lado as bandeiras da esperança, porque a política é, em essência, a condução das esperanças coletivas e o Estado, como síntese hierárquica da sociedade, é o monopólio dessas esperanças.
Por isso, quem monopoliza ou administra os desejos coletivos torna-se um poder de Estado. Nessa disputa, o que vai acontecer no continente vai depender de quais são as forças que delineiam a nova geração de esperanças da sociedade, e não podemos parar por aí. A primeira onda de esperanças e reformas progressistas nasceu no início do século XXI e durou uma década e meia. Ela cumpriu seu ciclo. Agora cabe a todos nós, e especialmente aos jovens, gerar, lutar, produzir os objetivos ou reformas da segunda geração do progressismo latino-americano e mundial capazes de recuperar o entusiasmo na luta pela igualdade, justiça social e comunidade universal.
Este programa de novas e mais radicais transformações do Estado, da economia e da sociedade não surgirá de uma ruminação isolada, de um esforço especulativo de como o mundo deveria ser. São criações coletivas que correspondem ao espírito de uma época, a tudo que emerge como expectativa coletiva em meio e contra o desespero, o estupor e a paralisia. Ou seja, é um produto social; não apenas um produto governamental ou acadêmico. As reformas de primeira geração também emergiram da sociedade, e o protagonismo dos líderes progressistas que acompanharam essas mudanças surgiu justamente de sua capacidade de entendê-las, de dar-lhes um corpo representável, uma narrativa bem fundamentada e eficiência na tomada de decisões a partir do governo.
As reformas de segunda geração dessa nova onda progressista também devem estar enraizadas na sociedade, ou seja, ser fruto do nosso debate, das nossas marchas, das nossas mobilizações, dos nossos escritos, das nossas pesquisas, das nossas assembleias. Em meio ao mal-estar que quer sufocar o horizonte, de forma encoberta, fragmentada, até certo ponto caótica, estão os lampejos de esperança coletiva. E a tarefa de um líder social, de um líder político revolucionário, de um pesquisador comprometido com a igualdade, é separar essa esperança da escória que a aprisiona ou deforma, ajudar a articulá-la com as esperanças de outros setores populares, condensar melhor sua enunciação para dar lugar à sua irradiação molecular mobilizadora. Se o espírito da época é realmente capturado, essas propostas rapidamente se colam como demanda social, porque se enquadram no quadro de expectativas e disponibilidades das pessoas e tornam-se senso comum popular em ação.