01 Junho 2022
Órfãos e menores arrancados de seus pais na Ucrânia poderão ser legalmente adotados. Mas eles serão obrigados a fazer um juramento de fidelidade ao regime - O saque da Ucrânia avança todos os dias. Depois do trigo do Donbass e do aço de Mariupol, começa oficialmente o grande roubo das crianças. Vladimir Putin já conquistou grandes áreas do leste e sul do país e não perde tempo em confiscar o que a Ucrânia tem de mais precioso ou o que falta à Rússia mais dramaticamente. Dos últimos dias são as informações sobre o transporte de metal para Rostóvia do Dom através do Mar de Azov ou de cereais das cidades sob o calcanhar de Moscou.
O comentário é de Federico Fubini, jornalista, publicado por Corriere della Sera, 31-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ontem, no entanto, o ditador do Kremlin colocou sua assinatura na decisão talvez mais descarada: um "ukaze" (édito) para fazer espólio de guerra até mesmo da infância da nação agredida. O objetivo é russificar à força órfãos e menores arrancados de seus pais na Ucrânia, obrigá-los a fazer um juramento de adesão e fidelidade ao regime que destruiu suas famílias, dar-lhes novas mães e pais alinhados com o exército que hoje devasta suas terras. A intenção do ukaze de Putin é tornar os pequenos ucranianos sem pais - milhares deles nas regiões subjugadas - jovens russos que no futuro poderão se juntar ao exército de Moscou. Também por isso o invasor leva tudo o que pode, enquanto pode, enquanto a guerra ainda está em curso.
O edital do ditador traz a data de ontem, 30 de maio de 2022, no cabeçalho com a águia imperial de duas cabeças coroada com a efígie de São Jorge a cavalo. A simbologia é bizantina e czarista. A substância do documento, por outro lado, é o mais próximo possível das guerras de conquista dos anos 1930: a humanidade subjugada - aquela nos primeiros anos de vida, ainda psicologicamente maleável - torna-se um tesouro a ser assegurado à Rússia.
Formalmente, a medida é uma emenda a um decreto de 2019, que visa estabelecer procedimentos simples e rápidos e transformar milhares de menores ucranianos em cidadãos russos que a guerra separou de seus pais ou deixou órfãos. Não importa que eles já sejam refugiados na Rússia. As crianças que residem nas autoproclamadas repúblicas putinianas de Donetsk e Lugansk, mas também - novo elemento - as das regiões de Zaporizhzhia e Kherson no sul estão sujeitas à disposição e, portanto, podem ser russificadas com efeito imediato.
Quanto a Mariupol, não é nomeada, mas é considerada incluída no território de Donetsk. É extraordinário como a russificação possa ocorrer, com base no ukaze de Putin, independentemente da vontade ou orientação daqueles que são seu objeto. "Têm o direito de requerer" a cidadania para crianças - lê-se - também "os chefes de organizações de acolhimento de órfãos ou menores não acompanhados" ou "os chefes de instituições educacionais", além de "tutores" e "guardiões" dos pequenos. Em outras palavras, as entidades agora sob controle de Moscou nas cidades ocupadas - escolas, orfanatos, centros médicos ou centros sociais - podem decidir sobre a futura nacionalidade de seus assistidos. O próximo passo poderá ser a adoção por uma família na própria Rússia, conforme previsto pelo "Comissariado para a proteção das crianças" do Kremlin (ver Corriere de 24 de maio).
Uma passagem nos formulários de solicitação de cidadania, anexados ao ukaze, revela os objetivos de Putin. O requerente deve assinar uma declaração: "Comprometo-me a ser fiel à Rússia, a cumprir escrupulosamente o meu dever cívico e a cumprir as minhas obrigações de acordo com a Constituição e as leis da Federação Russa". Em outras palavras, o Kremlin já vê futuros soldados nos pequenos ucranianos a serem russificados à força. E é um aspecto que na realidade revela até que ponto foi dura a guerra até agora também para a Rússia: aqueles que conhecem o sistema putiniano de dentro destacam como o ditador esteja assim buscando uma compensação para as dezenas de milhares de jovens russos que ele mesmo enviou para a morte na Ucrânia. Os mais jovens tornam-se espólio de guerra justamente para serem enviados para matar ou serem mortos em guerras imaginadas por alguns poucos anciões fechados há décadas nos muros do Kremlin.
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Crianças “roubadas” na Ucrânia, o decreto de Putin que autoriza a adoção - Instituto Humanitas Unisinos - IHU