Cardeal Koch: o Papa disse a Kirill que somos pastores do povo e não clérigos do Estado. Não sei se o Patriarca percebeu o que o Santo Padre quis dizer

Fonte: Vatican News

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03 Mai 2022

 

"O Deus cristão é um Deus de paz e não um Deus de guerra. E não posso apoiar a guerra e fazê-la em nome deste Deus cristão. Esta é uma posição não-cristã", relembra Cardeal Kurt Koch, ao citar antiga fala de Papa Francisco, em entrevista ao Domradio.de.

 

A entrevista foi publicada por Domradio.de e reproduzida por Il sismógrafo, 02-05-22. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Em 28 de abril “Domradio.de”, um serviço de imprensa ligado à arquidiocese católica de Colônia (Alemanha), publicou uma breve mas incisiva entrevista com o Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos que, curiosamente, não teve grande repercussão, apesar de sua relevância. Apenas o programa alemão do Vatican News relançou o conteúdo do diálogo com um cardeal de fundamental importância no momento atual no contexto das relações com o Patriarcado de Moscou.

 

Eis a entrevista.

 

O senhor já disse isso: muitas pessoas olham para a Ucrânia com grande preocupação. Temos cristãos de ambos os lados e líderes da igreja de ambos os lados que enviam também os cristãos para a batalha.

 

Sim, é uma tragédia particular, porque o Patriarcado Ortodoxo Russo sempre afirmou que nos sentimos obrigados a proteger os cristãos e que devemos nos opor à perseguição dos cristãos. E hoje são os cristãos que lutam contra outros cristãos, mesmo ortodoxos que lutam contra ortodoxos. Esta é uma mensagem terrível para todo o cristianismo no mundo.

 

Que possibilidades tem a diplomacia dos cristãos? A da Igreja Católica, em particular, tem séculos de experiência.

 

Sim, é muito importante. Acima de tudo, é essencial redescobrir o consenso sobre o fato de que devemos estar ao serviço da paz. Portanto, como disse o Papa Francisco, o Deus cristão é um Deus de paz e não um Deus de guerra. E não posso apoiar a guerra e fazê-la em nome deste Deus cristão. Esta é uma posição não-cristã.

 

Muitos cristãos tinham grandes esperanças depois do encontro entre o Patriarca Kirill e o Papa em 2016. Foi e é diálogo. O senhor mesmo puxou as cordas desse background a ponto de chegar a uma videochamada. Podemos realmente ainda falar sobre diálogo na situação atual?

 

Nunca se deveria interromper o diálogo, pois é a única maneira de colocar a própria posição em jogo. E o Papa Francisco disse muito claramente nesta videoconferência que estava grato pela conversa. Ele continuou dizendo: Você sabe, não somos clérigos de estado, somos pastores do povo e, portanto, não temos outra mensagem a anunciar senão o fim desta guerra. Mensagem muito clara. Não posso julgar se o Patriarca a recebeu assim.

 

O senhor ainda tem esperança de que esse diálogo dê frutos?

 

Eu nunca renuncio à esperança... aos seus frutos. Mas acho que agora devemos finalmente discutir em nossos diálogos também sobre uma questão que sempre deixamos de lado. Ou seja, a questão da relação entre Igreja e Estado. Aqui temos uma concepção completamente diferente. No Ocidente tivemos que aprender com os desenvolvimentos dos séculos e também aprendemos que a relação adequada entre Igreja e Estado é a separação, precisamente, entre Igreja e Estado, ambos chamados à cooperação simultânea. Este é um conceito desconhecido no Oriente, na Ortodoxia. Entre nós se fala da sinfonia entre Igreja e Estado. Em outros lugares essa concepção está em segundo plano, e bastante. O diretor Oeldemann, do Instituto Ecumênico Paderborn, afirmou muito claramente, em um artigo na KNA (Agência Católica de Notícias), que esse conceito - com a guerra na Ucrânia - agora levanta alguns pontos de interrogação.

 

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