A admiração e a coragem do primeiro encontro

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25 Abril 2022

 

"Por vezes, estamos tão longe do Senhor que não temos a sensibilidade de João para perceber e captar a sua presença e admirarmo-nos com as maravilhas que Ele faz, mesmo durante as longas noites escuras em que aparentemente nada acontece".

 

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.

 

Na sequência da leitura da Palavra durante a Oitava da Páscoa, o Evangelho da última sexta-feira (Jo 21,1-14) narra a terceira aparição de Jesus aos discípulos, à margem do mar de Tiberíades, enquanto eles nada pescavam. A cena lembra o primeiro encontro deles com o Senhor, narrada por (Lc 5, 1-11):

 

"Certo dia Jesus estava perto do lago de Genesaré, e uma multidão o comprimia de todos os lados para ouvir a palavra de Deus. Viu à beira do lago dois barcos, deixados ali pelos pescadores, que estavam lavando as suas redes. Entrou num dos barcos, o que pertencia a Simão, e pediu-lhe que o afastasse um pouco da praia. Então sentou-se, e do barco ensinava o povo. Tendo acabado de falar, disse a Simão: 'Vá para onde as águas são mais fundas', e a todos: 'Lancem as redes para a pesca'.

Simão respondeu: 'Mestre, esforçamo-nos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes'.

Quando o fizeram, pegaram tal quantidade de peixe que as redes começaram a rasgar-se. Então fizeram sinais a seus companheiros no outro barco, para que viessem ajudá-lo; e eles vieram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase começarem a afundar.

Quando Simão Pedro viu isso, prostrou-se aos pés de Jesus e disse: 'Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!'

Pois ele e todos os seus companheiros estavam perplexos com a pesca que haviam feito, como também Tiago e João, os filhos de Zebedeu, sócios de Simão. Então Jesus disse a Simão: 'Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens'.

Eles então arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram".

 

 

 

No episódio narrado por João nesta semana, mais uma vez os discípulos haviam atravessado a noite sem pescar nada. Mas, assim como no primeiro encontro, desta vez eles também ouviram a palavra do Mestre - “Lançai a rede à direita da barca, e achareis" - e obedeceram - "Lançaram pois a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes”. O emocionante nesta cena não é a escuta e a obediência à palavra, porque inicialmente eles nem distinguiram a voz de quem os orientava, mas, sim, as reações de João e Pedro, descritas na sequência:

 

"Então, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: 'É o Senhor!' Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu uma roupa, pois estava nu, e atirou-se ao mar".

 

João, ao ver o acontecimento, admira-se, maravilhado, e reconhece que aquilo só pode ser obra do Senhor e, por isso, exclama a Simão: 'É o Senhor!' A reação de Simão Pedro, diante Daquele que É, expressa sua total confiança e entrega: atirou-se ao mar. Se Jesus estava ali, diante deles, não era possível esperar.

 

Na sequência, obediente à ordem de Jesus - "Trazei alguns dos peixes que apanhastes” -, o chefe dos discípulos, Simão Pedro, tal como havia sido instituído anteriormente, "subiu ao barco e arrastou a rede para a terra", porque é ele, guiado pelo Espírito Santo, que conduz a barca.

 

 

Depois de serem convidados para comer com o Senhor - que também providenciou as "brasas acesas, com peixe em cima, e pão" -, o Evangelho nos diz que "nenhum se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor".

 

 

Nós, diferentemente dos discípulos, muitas vezes não conseguimos nos admirar com a presença do Senhor; ouvimos sua Palavra, mas não distinguimos corretamente quem fala e o que fala. Por vezes, estamos tão longe Dele que não temos a sensibilidade de João para perceber e captar a sua presença e admirarmo-nos com as maravilhas que Ele faz, mesmo durante as longas noites escuras em que aparentemente nada acontece. Tampouco temos facilidade de nos assemelhamos a Pedro, que se atira ao mar quando sabe que quem está diante dele é o próprio Senhor. É preciso crer para ter a coragem de lançar-se. Mas não há outra escolha quando Ele mesmo chama, quando Ele mesmo guia, quando Ele mesmo nos ensina a crer. Ele está vivo. Ressuscitou!, como nos disse o sucessor de Pedro na homília da Vigília Pascal; não morreremos afogados.

 

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