08 Março 2022
"As lideranças indígenas relatam a degradação do meio ambiente, a poluição dos rios, a carência de alimentação, especialmente caça e peixes; o aumento do consumo de álcool e de drogas nas comunidades onde o garimpo é mais intenso; o aliciamento de lideranças; o crescimento de conflitos armados com os garimpeiros; o estupro e a prostituição de mulheres indígenas", escreve Frei Betto, escritor, autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros.
Este ano a Campanha de Quaresma será dedicada aos povos originários que habitam a Terra Indígena Yanomami (TIY), com cujos líderes mantenho contato. Em maio deste ano, completará 30 anos da sua homologação. Localizada entre Roraima e Amazonas, a TIY é a maior área destinada a povos indígenas no Brasil, com 9,6 milhões de hectares de floresta. Nela vivem 700 pessoas da etnia Ye'kwana e, aproximadamente, 26 mil indígenas da etnia Yanomami, distribuídos em 321 aldeias.
Os Yanomami são um dos maiores povos indígenas do planeta que ainda mantêm seu modo de vida tradicional. Constituem um conjunto cultural e linguístico composto por seis idiomas diferentes: Yanomam, Yanomami, Sanöma, Ninam, Yaroamë e Yanoma.
Este grupo de caçadores-agricultores é considerado povo de contato recente. O contato com a sociedade não indígena passou a ocorrer na segunda metade do século XX. E logo foram marcados por epidemias que dizimaram muitas comunidades. Entre 1974 e 1976, a abertura da Perimetral Norte impactou severamente os grupos que habitavam as margens dos rios Ajarani e Lobo D´Almada. Na década de 1980, o território Yanomami foi invadido por 40 mil garimpeiros, o que causou a morte de um grande número de indígenas e fortes impactos ambientais.
Após a homologação da TIY, em 1992, e implementação de atendimento de saúde, houve crescimento populacional. Contudo, nos últimos anos há, novamente, invasão da TIY.
O Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami indica que, em 2020, o garimpo avançou 30% daquela área. Foi o ano em que se expandiu com maior intensidade. Entre janeiro e agosto de 2021, o crescimento das cicatrizes de garimpo na TIY foi de 694,61 ha, totalizando 2.933,95 ha destruídos. O acréscimo corresponde ao aumento de 31% em relação a dezembro de 2020, e supera o total observado durante todo o ano de 2020, que foi de aproximadamente 500 ha.
As lideranças indígenas relatam a degradação do meio ambiente, a poluição dos rios, a carência de alimentação, especialmente caça e peixes; o aumento do consumo de álcool e de drogas nas comunidades onde o garimpo é mais intenso; o aliciamento de lideranças; o crescimento de conflitos armados com os garimpeiros; o estupro e a prostituição de mulheres indígenas.
Estima-se que hajam mais de 20 mil garimpeiros atuando ilegalmente no TIY. Os Yanomami e Ye’kwana percebem mudanças entre os garimpeiros, que passaram a utilizar mais armamentos.
Em junho de 2020, dois Yanomami da comunidade Xaruna, região do Parima, foram assassinados por um grupo de garimpeiros armados.
Em fevereiro de 2021, um conflito na comunidade Helepe, no rio Uraricoera, resultou na morte de um garimpeiro a flechadas e ferimentos em um Yanomami.
Em maio de 2021, a comunidade Yakepraopë, região Palimiu, também situada no rio Uraricoera, foi atacada a tiros por garimpeiros fortemente armados, motivando a saída dos agentes de saúde. Um Yanomami foi ferido de raspão, e duas crianças morreram afogadas enquanto fugiam. Os ataques perduraram por mais de um mês, sem proteção do Estado.
Tais episódios trágicos evidenciam a fragilidade das comunidades em lidar com as frequentes invasões de garimpeiros. Soma-se a isso o total abandono da assistência a saúde dos povos indígenas. Em razão da presença de garimpeiros, em 2020 aumentou o número de casos de Covid-19 na TIY, apesar da Portaria nº 419, de 17 de março de 2020, da Funai, que estabelece medidas de prevenção à doença, e restringe a entrada no território apenas a atividades essenciais.
Em 2021, as infecções avançaram 250% entre os indígenas. Além disso, a malária explodiu em todo o território, ressurgiu inclusive em locais onde já tinha desaparecido, e foi a principal comorbidade associada aos óbitos por Covid-19.
As lideranças apontam e denunciam diversos casos de crianças desnutridas, especialmente em locais que sofrem com a exploração dos garimpos.
A Hutukara, fundada em 2004, é a associação da Terra Indígena Yanomami com maior reconhecimento, nacional e internacional, por sua atuação, principalmente devido à atuação de seu presidente, Davi Kopenawa Yanomami, na luta pela defesa dos direitos indígenas. Com os recursos desta Campanha de Quaresma, a associação apoiará as comunidades, e criará um fundo para enfrentar casos emergenciais, como os narrados acima.
Sua doação, ainda que de R$ 1, poderá favorecer a aquisição de cestas básicas, com alimentação adequada aos costumes alimentares dos povos que habitam a TIY; o envio de kits com ferramentas, materiais de pesca e outros utensílios industrializados, atualmente necessários para os Yanomami; além de apoiar ações de saúde, como o envio de testes rápidos para Covid e/ou malária, e atendimento a pacientes internados nos postos de saúde na TIY e/ou na Casa de Saúde do Índio, localizada em Boa Vista.
Os recursos eventualmente poderão ser aplicados também em viagens de lideranças tradicionais e/ou representantes das associações para denunciar casos de violência e desrespeito aos direitos humanos.
Conta bancária:
Hutukara Associação Yanomami
Banco do Brasil
Agência: 2617-4
Conta corrente: 58.918-7
CNPJ: 07.615.695/0001-65
Chave aleatória PIX: 8b323044-0123-49e5-8938-03bdc8491277
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(Identificar a mensagem com o título Campanha Quaresma Yanomami)
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Carta de Quaresma 2022 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU