03 Março 2022
Mesmo mantendo o aumento da temperatura em 1,5°C, a degradação natural pode ser irreversível, adverte um dos mais mais preocupantes relatórios do IPCC. O aquecimento também tornará o mundo mais doente, avaliam os cientistas.
A reportagem é publicada por Outra Saúde, 03-03-2022.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) publicou no dia 28 passado o segundo volume da sua sexta avaliação do estado do planeta, que trata dos efeitos das transformações globais sobre as sociedades. O primeiro volume, em agosto, havia relatado as últimas evidências científicas sobre o assunto: elas são inequívocas, reafirma-se agora. “A mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde planetária”.
Com mais de 3.500 páginas, o relatório detalha os efeitos concretos observados até hoje. Na América do Norte, por exemplo, as mudanças climáticas reduziram a produtividade agrícola em 12,5% desde 1961. Essas consequências estão em curso e podem se agravar dependendo do ritmo em que as medidas de retificação vierem a ser aplicadas. Uma das três conclusões cruciais do documento diz respeito à saúde, conforme observou a revista The Atlantic, citando o IPCC.
“As mudanças climáticas afetaram negativamente a saúde física das pessoas em todo o mundo e a saúde mental das pessoas nas regiões avaliadas”, escreve o relatório. Observa-se que aumentaram os riscos de dengue, uma doença viral transmitida por mosquitos. O aumento atingiu todos os continentes, exceto Antártida e Austrália. Também o vírus da Chikungunya ganhou espaço no mundo mais escaldante. A mesma preocupação vale para patógenos como o coronavírus – que se readaptam de animais para pessoas, conforme se alteram as condições ambientais.
Como as alterações se tornam mais frequentes, mais vírus poderão migrar para os humanos. A probabilidade da transmissão de doenças pela água aumentou em alguns pontos do planeta. Observa-se também crescimento no risco de algas tóxicas espalharem-se pelos oceanos e mares. O ar em muitas partes do mundo ficou mais sujo de partículas de poeira e de fumaça, piorando a saúde do coração e dos pulmões.
O aumento da temperatura da superfície terrestre, desde o período de referência em 1850-1900, foi da ordem de 1 °C – muita coisa, tendo em vista a imensa massa da Terra. E tudo indica que a elevação está se acelerando. Toda prudência é pouca, nesse cenário. Mas ela tem sido suficiente? Não, calculam cientistas. Em um estudo publicado recentemente na revista Nature, um grupo de pesquisadores levantou os vastos recursos gastos por governos para escapar da recessão.
Foram quantias sem precedentes e ampliadas no período da pandemia, observaram. Entre 2020 e 2021, o grupo do G20, das 20 maiores economias globais, despendeu pelo menos 14 trilhões de dólares – equivalente à produção econômica da China. Mas a ação climática recebeu menos do que devia – apenas 6% do total. Com certeza, seria preciso destinar a maior parte desse montante para reforçar os sistemas de saúde, salários e bem-estar geral da população, ponderam os cientistas. Mas tendo em conta a urgência apresentada pelas mudanças climáticas, os investimentos feitos em seus projetos deixaram muito a desejar.
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Painel do Clima adverte: calor pode sair de controle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU