Da Itália aos Estados Unidos, da Europa às Américas, o negacionismo antivacina tem no mundo católico mais conservador – e, portanto, nas fileiras dos antagonistas do pontificado de Francisco – um robusto afluente. Como, aliás, há apenas dois meses, o próprio pontífice explicitou no voo que o levava de volta a Roma, no retorno da viagem à Hungria e à Eslováquia: “Até no colégio cardinalício há alguns negacionistas”.
A reportagem é de Carlo Bonini, Paolo Mastrolilli e Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 21-11-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Por simplificação jornalística e narcisismo do protagonista, a projeção pública desse emaranhado acabou assumindo, pelo menos dentro das fronteiras italianas, o rosto de Dom Carlo Maria Viganò, 80 anos, ex-núncio da Santa Sé em Washington.
Mas, na realidade, a parte não emergente desse partido que considera o papado de Francisco, que começou no dia 13 de março de 2013, um parêntese e, como tal, destinado a se fechar, tem a sua força justamente na sua extraordinária capacidade de não se expor. De trabalhar silenciosamente nos bastidores da Cúria assim como nas das dioceses espalhadas pelo mundo. O que explica a paradoxal satisfação despertada no Vaticano entre os fidelíssimos de Francisco após a última aparição televisiva de Viganò sobre o vírus.
Definir a Covid como uma “psicopandemia” – é o raciocínio que se manifesta no Vaticano – desqualifica Viganò e o seu mundo. E, em todo o caso, “nunca se disse um belo silêncio”, sublinhou Marco Tarquino no Avvenire, órgão oficial dos bispos italianos. O jornal – ao estigmatizar as “loucuras” e os “delírios” do ex-núncio que, durante o primeiro Vatileaks abandonou o Vaticano pelos Estados Unidos, convencido de que a sua promoção era fruto de uma maquinação para colocá-lo em maus lençóis junto ao então secretário de Estado, Tarcisio Bertone – explicitou, caso houvesse dúvidas, de que lado a Conferência Episcopal Italiana (CEI) pretende ficar, na esperança de que todos os prelados a sigam.
Na Itália (como, aliás, na Europa), o mundo católico antibergogliano reúne soberanistas, populistas, negacionistas e tem a sua projeção política nos votos na Liga e nos Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália), e no flerte muitas vezes ostentado com as siglas da direita neofascista. Em novembro de 2020, em Roma, no meio da segunda onda da pandemia, durante uma manifestação negacionista, o Pe. Floriano Abrahamowicz, lefebvriano, celebrou uma missa na Piazza della Bocca della Verità, na presença de algumas dezenas de militantes. Eles a definiram como uma missa “contra a tirania”, celebrada em um altar coberto com uma bandeira italiana, sob o olhar complacente e compenetrado de Roberto Fiore, líder nacional da neofascista Forza Nuova.
“Hoje, Roma e os romanos se reuniram na Piazza della Bocca della Libertà para uma Santa Missa pela Itália”, escreveu Giuliano Castellino, líder romano da Forza Nuova. O mesmo que, no dia 9 de outubro de um ano depois, reencontraríamos à frente do ataque à sede da CGIL e arquiteto do fracassado plano de tomada do Montecitório [sede da Câmara dos Deputados da Itália].
E ainda: “A missa de sempre, pelo futuro da nossa nação e do nosso povo. Ajoelhem-se diante da Cruz, símbolo de Fé, Tradição e Vitória. Outra ação, desta vez espiritual e comunitária, contra a tirania criminosa da Covid, para chamar os italianos a levantarem a cabeça. Hoje estamos mais fortes e determinados. Obrigado ao Pe. Floriano que desceu à praça com o povo”.
O fato é que o mundo católico tradicionalista joga o seu jogo principalmente nas margens do Rio Tibre. Mas, por favor, não devemos imaginar um exército de números exorbitantes. No entanto, estamos falando de militantes inamovíveis nas suas convicções e também bastante aguerridos. Que consideram o primeiro papa jesuíta um herege e a sua decisão de vacinar imediatamente todos os funcionários da Santa Sé uma loucura.
“O Green Pass [passaporte vacinal] é a Marca da Besta”, disse Viganò. E, ao fazer isso, convocou, em torno das palavras de ordem do negacionismo, uma parte significativa daqueles que, na Itália, trabalharam nos últimos anos para sabotar a lei sobre as uniões civis, redespertando o Family Day e a campanha contra o referendo das células-tronco entre 2005 e 2007.
Entre outros, não por acaso, foi o católico Massimo Gandolfini, presidente da associação Family Day, quem escreveu: “Consideramos inaceitável impor uma espécie de ‘obrigatoriedade vacinal’, fazendo uma ilegítima discriminação entre os próprios estudantes. O direito ao estudo é de todos, e qualquer discriminação odiosa entre estudantes ‘vacinados e não vacinados’ irá provocar perigosas condições de conflito social dentro da comunidade nacional”.
Simone Pillon, político da Liga e figura proeminente do próprio Family Day, por sua vez, declarou que “não se pode forçar à administração de vacinas que ainda estão em fase experimental”. Mais uma vez: foi a associação Pro Vita e Famiglia, conhecida sobretudo por organizar todos os anos a “Marcha da Vida”, que defendeu, no ano passado, que “impor o Green Pass aos menores de idade significa criar um exército de psicopatas rasteiros” e a tornar esse tema uma campanha.
Jacopo Coghe, porta-voz da associação, escreveu em um tuíte: “É preciso condenar firmemente um sistema que explora linhagens celulares de crianças abortadas na pesquisa, produção ou experimentação de vacinas, remédios e produtos cosméticos”.
É claro que nem todos os críticos de Francisco – e, entre os nomes mais conhecidos, podemos citar o jornalista Antonio Socci e o intelectual Roberto de Mattei – têm posições antivacina. Ambos, de fato, e com eles também o cardeal Eijk (médico internista antes de entrar no seminário) que aderiu aos “dubia” sobre a Amoris laetitia, são a favor das vacinas. Eijk, por exemplo, chegou a defender que se vacinar é provavelmente até “uma obrigação moral” pelo bem comum. O que demonstra que a linha anti-Bergoglio não se sobrepõe perfeitamente à linha negacionista dos antivacina.
Alguns padres e bispos levam a questão para o nível teológico e doutrinal. Dizem que as vacinas são moralmente ilegítimas devido ao uso que seria feito de fetos abortados. Cinco bispos católicos, em particular, condenaram as vacinas contra a Covid, alegando que elas utilizam na sua composição tecido proveniente de material biológico resultante de interrupções da gravidez.
O bispo auxiliar Athanasius Schneider e o arcebispo Tomasz Peta, de Astana, no Cazaquistão, o cardeal Janis Pujats, de Riga, na Letônia, o arcebispo emérito Jan Pawel Lenga, de Karaganda, e o bispo Joseph Strickland, de Tyler, Texas, junto com um grupo internacional de cientistas e médicos, assinaram a declaração que rejeita “o crescente coro de conferências episcopais, bispos e padres individuais que permitem essas vacinas”. Segundo eles, tais vacinas devem ser rejeitadas por serem categoricamente inaceitáveis, assim como, “sem sombra de dúvida”, “o aborto”, um “ato maligno moralmente grave, que clama vingança ao céu”. De acordo com o documento assinado pelos cinco prelados, o aborto – considerado “o pior genocídio conhecido pela humanidade” – é um tema central a ser levado fortemente em consideração no julgamento sobre as vacinas anti-Covid.
E de nada valeu a decisão da Congregação para a Doutrina da Fé, que, com o consentimento do Papa Francisco, deu luz verde, neste tempo de pandemia, às vacinas produzidas utilizando justamente linhagens celulares provenientes de dois fetos abortados nos anos 1960. Com um argumento inequívoco na sua clareza: é “moralmente aceitável utilizar as vacinas anti-Covid-19 que usaram linhagens celulares provenientes de fetos abortados no seu processo de pesquisa e produção”.
No entanto, o bispo Sneider exortou os fiéis a não se vacinarem e a “continuarem nesse caminho que vocês escolheram para testemunhar a verdade de que a vida nascitura é sagrada e que o tráfico de partes do corpo fetal é uma indústria malvada que invoca o Deus Todo-Poderoso pela Sua justiça!”.
Vários padres e freiras também se posicionaram. O Pe. Livio Fanzaga, da Rádio Maria, embora não contrário à vacina, defendeu que, mesmo que “possa ser útil – e certamente foi útil no passado – ela não é a salvação”. E, há um ano, estigmatizou como uma “afronta” o fato de a União Europeia ter apresentado o Vax-Day, o dia da vacinação, “justamente no Natal, como se a vacina fosse o novo Menino Jesus”. É uma “clara declaração de guerra”, disse ele. E ainda: “De guerra contra Deus”.
Mais recentemente, foi a madre Angela Brugnaro, superiora do Mosteiro de Montegalda (Vicenza), parte da Diocese de Pádua, foi denunciada à Cúria com a acusação de fazer propaganda contra a vacinação. Quem a denunciou foi o irmão dela, Primo, um médico aposentado de 72 anos que administra vacinas como voluntário no hospital militar de Pádua. “Apesar do apelo à vacina por parte do papa, dos bispos e do presidente Mattarella, vocês têm um covil de pessoas antivacina que pressiona nesse sentido até com fotos e abaixo-assinados no limite do ridículo”, escreveu o irmão da irmã em uma carta.
E ainda: “É o Mosteiro de Montegalda com a madre superiora que vive à base de celular e de propaganda antivacina cotidiana e tola. O cúmulo é que ela é minha irmã. Agora, me dirijo ao bispo para que tome uma atitude”.
Entre os milhares de católicos conservadores antivacina, está também o pároco de San Giuseppe a Capo le Case, no distrito de Colonna, em Roma, Pe. Giorgio Ghio, que frequentemente recita missa com o rito antigo. “Vacinar-se é pecado”, argumentou. Portanto, “desobedecer é lícito”.
Mais duro ainda foi o Pe. Pietro Cutuli, sacerdote da diocese de Mileto-Nicoletta-Tropea, que disse que, por trás das vacinas, ele via “a promoção de Satanás”.
Por outro lado, o Pe. Fabio, pároco em Latisana, na província de Udine, escolheu as redes sociais para o seu proselitismo negacionista. “Quantos perjúrios!”, escreveu ele, citando a passagem do juramento de Hipócrates em que os médicos declaram: “A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda”. Em outra postagem, ele observou: “Eles nos mentiram desde o início”. E ainda: “Não terás outro deus além da vacina! (uma ova!)!. O Pe. Fabio também corrigiu um pouco o seu alvo: “Vou me vacinar, mas sou cético em relação à narrativa oficial que foi feita sobre a pandemia”.
Por outro lado, um dilúvio de polêmicas foi provocado pela enormidade proferida durante a homilia por um padre de Cesena, Pe. Paolo Pasolini, que, diante de fiéis atônitos, trovejou do púlpito: “Há mulheres engravidadas por empresas estatais ou privadas para que abortem, para que o seu feto vivo seja retirado, e seus órgãos sejam usados para a experimentação das vacinas anti-Covid”.
Em Monterosso, os fiéis da paróquia do Pe. Rocco Grippo, por sua vez, encontraram folhetos afixados na entrada da igreja que minimizavam os perigos da Covid. Neste caso, também entrou em campo o bispo, Dom Luigi Palletti, que intimou o religioso a “não fazer declarações pessoais sobre temas de tamanha importância e urgência social e sanitária como a Covid e as vacinas”.
A rede integralista e negacionista de uma parte do mundo católico episcopal italiano se funde com a ampla frente dos católicos conservadores estadunidenses, que não se legitimam simplesmente a partir das posições críticas do Papa Francisco. Mas também manobraram e conspiraram ativamente para derrubá-lo e, de todos os modos, trabalharam para boicotar o seu pontificado.
Nessa perspectiva, a oposição às medidas contra a Covid é apenas a última manifestação dessa aversão que é muito profunda e une teologia e política. É curioso que esse conluio tenha se desenvolvido de uma forma tão marcante nos Estados Unidos, um país que, não só junto com a Alemanha é o principal financiador da Santa Sé, mas que, no conclave de 2013, por meio dos seus cardeais, também determinou a virada que havia bloqueado os candidatos italianos (principalmente Scola), abrindo caminho para Bergoglio rumo ao sólio de Pedro.
Os conservadores mais confiáveis da era João Paulo II e Bento XVI, como George, de Chicago, e Dolan, de Nova York, haviam favorecido o argentino derrotado por Ratzinger em 2005. Agora, talvez, a maioria deles tenha se arrependido por essa escolha e talvez acalente a ideia de cancelá-la.
Em Chicago, George havia assumido o lugar de Bernardin por vontade de Wojtyla, que havia sido o catalisador desse grupo de conservadores, fazendo com que ele se tornasse dominante na Igreja Católica dos Estados Unidos. Além dos cardeais, originalmente liderados principalmente por O’Connor, de Nova York, e Law, de Boston, depois abalado pelo escândalo de pedofilia na sua diocese, havia se formado um forte núcleo de intelectuais leigos e religiosos, unidos em grande parte em torno da revista First Things, fundada pelo ex-reverendo luterano Richard John Neuhaus, que se converteu ao catolicismo justamente por influência do papa polonês.
Junto com ele, com nuances diversas, haviam se reunido intelectuais ex-democratas, que transitaram para os neoconservadores, como Michael Novak; o biógrafo de Wojtyla, George Weigel; a professora de Direito em Harvard Mary Ann Glendon, líder da delegação do Vaticano na Conferência sobre as Mulheres de Pequim em 1995, onde havia se chocado com Hillary Clinton, embaixadora do governo Bush junto à Santa Sé, e finalmente chamada também por Francisco para os controladores das atividades do IOR.
Esse grupo havia se tornado o espelho da visão pontifícia de João Paulo II e de Bento XVI nos Estados Unidos, senão até o elemento inspirador, pelo menos em certos casos.
Ele havia sido apoiado por personagens como o já falecido juiz da Suprema Corte Antonin Scalia, líder indiscutível dos magistrados conservadores no mais alto tribunal dos Estados Unidos, um homem catolicíssimo e pai de nove filhos, incluindo o Pe. Paul. Suas ideias, depois, foram muitas vezes ampliadas pela Eternal Word Television Network (EWTN), da Madre Angelica, que se tornou a TV de referência para quem se reconhece na visão mais tradicionalista da fé.
A esse grupo também se ligaram jovens que depois seguiriam seu caminho, como o futuro secretário de Estado Mike Pompeo, italiano não católico, mas aluno de Glendon em Harvard. De fato, quando foi a Roma como chefe da diplomacia dos Estados Unidos, ele optou por publicar justamente na First Things um artigo que irritou muito a Santa Sé, instando-a a abandonar o acordo com a China sobre a nomeação dos bispos.
Ou Steve Bannon, que manteve uma curiosa ligação com a família da ex-embaixadora junto à Santa Sé Mary Ann Glendon. Uma vez em Roma, a filha de Glendon, Elizabeth Lev, teve um caso com o Pe. Thomas Williams, dos Legionários de Cristo, do qual nasceu uma criança. No fim, ele foi forçado a deixar a batina e se casar com ela, encontrando trabalho mais tarde como correspondente da Cidade Eterna de Breitbart, ou seja, o supersite conservador liderado justamente pelo futuro diretor da campanha presidencial de Trump.
Esse mundo havia representado a aristocracia estadunidense do Vaticano com João Paulo II e Bento XVI, mas se viu marginalizado por Francisco. Por um lado, ele sofrera a perda de peso político e de cargos. Por outro, cultivava uma sincera aversão teológica e intelectual ao papa argentino.
Durante um jantar no Café Milano, em Washington, para a reunião do Alfalfa Club, diante de uma taça de vinho e de um magnífico prato de massa com frutos do mar, Scalia deixou escapar esta confidência: “Eu sou católico e, portanto, obedeço: quem quer que seja o papa é o papa e manda. Mas este não é o meu papa. E quando ele diz que não devemos fazer filhos como os coelhos, ele me ofende pessoalmente”.
Dom Carlo Maria Viganò entrou nesse mundo em 2011, como núncio de Ratzinger. No entanto, ele havia chegado – enviado a Washington – com uma clássica promoção destinada à remoção, depois do escândalo Vatileaks sobre a corrupção no Vaticano, do qual ele tinha sido a fonte principal.
Foi, portanto, dos Estados Unidos que ele viu a eleição de Bergoglio, ficando pelo menos perplexo com isso. Rapidamente, ele se uniu estreitamente à corrente dos conservadores descontentes, mas em uma posição de poder, pois a prática dita que o núncio é quem propõe a terna de candidatos a partir da qual o papa escolhe os bispos de cada país, quando é preciso nomear alguém. Por isso, Viganò tinha pelo menos uma certa capacidade de condicionar, ou pelo menos dirigir, as escolhas sobre a liderança católica estadunidense.
Foi chocante, depois, a “rasteira” que ele dera em Bergoglio em 2015. Durante a sua visita aos Estados Unidos, ele fez com que o papa se encontrasse com Kim Davis, a ex-funcionária do Condado de Rowan, no Kentucky, que acabou na prisão por se recusar a aplicar a lei federal e entregar as licenças de casamento para pessoas do mesmo sexo.
Raymond Burke, por sua vez, não era uma criatura de Viganò, porque havia sido consagrado bispo por Wojtyla e criado cardeal por Ratzinger, mas as afinidades eletivas entre os dois se tornaram evidentes desde o início, transformando-os em pontos de referência da oposição conservadora a Francisco.
O primeiro, ao assinar os “dubia” sobre a exortação Amoris laetitia, teria essencialmente questionado a infalibilidade do papa, pedindo que ele fosse corrigido. O segundo chegou a acusar Bergoglio de ter protegido os pedófilos na Igreja. Então, no dia 7 de junho de 2020, ele escreveu uma apaixonada carta ao presidente estadunidense, Trump, basicamente dizendo-lhe que ele era o homem enviado pela Providência para salvar o mundo do complô globalista contra Deus.
Nesse quadro, haviam aparecido também as críticas às restrições para conter a Covid, como parte da batalha final entre a luz e as trevas, a liberdade e a escravidão. Assim, Donald, ao se recusar a usar máscara e ao enviar vários milhares de cidadãos ao sacrifício, estava na realidade trabalhando para a maior glória do projeto divino para os seres humanos, ameaçados pelos infiéis.
Da mesma forma, Burke minimizou a pandemia como uma espécie de imbróglio e se opôs à vacina, apenas para depois adoecer de Covid e acabar a um passo do túmulo. No início, ele disse que “o misterioso vírus de Wuhan foi usado por algumas forças, inimigas das de famílias e da liberdade dos Estados, para levar a cabo o seu programa maligno”. Depois, irritou-se com os remédios científicos para o impedir: “A vacinação em si mesma não pode ser imposta de forma totalitária aos cidadãos. Quando o Estado adota tal prática, ele viola a integridade dos seus membros. Embora o governo possa fornecer regulamentos razoáveis para a salvaguarda da saúde, ele não é o último provedor de saúde, só Deus o é. Seja o que for que o Estado proponha, ele deve respeitar a Deus e a sua lei”.
Por fim, ele também abraçou as teorias da conspiração mais irracionais: “Há um certo movimento para insistir que agora todos devem ser vacinados contra o coronavírus da Covid-19 e também que uma espécie de microchip deve ser posto sob a pele de todas as pessoas, para que, em todos os momentos, possa ser controladas no que diz respeito à saúde e a outras questões, que só podemos imaginar como um objeto de controle por parte do Estado”.
Ambos, Burke e Viganò, foram filmados e apresentados pela Eternal Word Television Network. E isso explica por que Francisco acusou a TV fundada pela Madre Angelica de “fazer o trabalho do diabo”, além de se ver atacado e criticado o tempo todo. Essa progressão da história e dos contrastes entre os conservadores estadunidenses e Francisco talvez ajude a compreender como a abordagem à pandemia é apenas a pequena ponta de um enorme iceberg, que há anos tenta afundar o navio do papa por razões muito mais profundas e inegociáveis do que a Covid.
Depois, é claro, nos Estados Unidos também existem pessoas ingênuas que não conseguem distinguir a lua atrás do dedo. Como o Pe. James Altman, da Igreja de São Tiago Menor, em La Crosse, Wisconsin, que exortou os fiéis a não se transformarem em cobaias. Ou o bispo Joseph Strickland, de Tyler, Texas, que escreveu uma carta para pedir aos católicos que “recusem qualquer vacina que utilize restos de bebês abortados na pesquisa, nos testes, no desenvolvimento ou fabricação”.
Por isso, Timothy Broglio, arcebispo dos Serviços Militares dos Estados Unidos, afirmou que os soldados católicos devem ter o direito de recusar a injeção no braço como forma de objeção de consciência, se o conteúdo foi produzido usando tecidos fetais. Mais uma vez, escreve-se vacina, mas se lê oposição integral ao pontificado de Francisco.