19 Julho 2021
O Papa Francisco emitiu novas restrições abrangentes às celebrações do Rito Antigo, dizendo que ele tem sido usado para alimentar a divisão e a rejeição do Concílio Vaticano II.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 16-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A intervenção de Francisco derruba a legislação de Bento XVI intitulada Summorum pontificum, de 2007, que permite um maior uso da missa em latim pré-Vaticano II e estabelece uma série de novas condições rígidas que dão mais autoridade aos bispos locais. A decisão de Bento XVI havia permitido celebrações do Rito Antigo onde quer que um grupo de fiéis as solicitasse.
Mas, com esta última decisão, cada padre que celebra o Rito Antigo deve agora obter a permissão de seu bispo para continuar a fazê-lo, enquanto qualquer padre ordenado após esta última decisão deve submeter um pedido formal ao seu bispo local, que, por sua vez, deve consultar a Santa Sé.
A intervenção de Francisco visa a tornar a liturgia tridentina uma exceção, ao invés da norma, e conter os padres mais jovens e tradicionalistas que desejam rezar o Rito Antigo.
Sua decisão também contesta o argumento que foi desenvolvido em alguns círculos eclesiais e entre certos cardeais de que o Rito Antigo, conhecido como “Forma Extraordinária”, pode coexistir e influenciar as celebrações ordinárias da liturgia.
Francisco, no entanto, determinou que a liturgia que surgiu após as reformas do Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, é a “única expressão” do Rito Romano, e não usa a expressão "Forma Extraordinária". Ele também afirma que uma das condições para a celebração da missa pré-Vaticano II é que “tais grupos não excluam a validade e a legitimidade da reforma litúrgica e dos ditados do Concílio Vaticano II”.
O Rito Antigo exige que os padres rezem as orações da missa em latim muitas vezes de forma inaudível, enquanto se voltam ad orientem (de costas para o povo). Embora muitos sejam atraídos por seu estilo contemplativo e sobrenatural, o Rito Antigo também se tornou um ponto de encontro para a dissidência ao pontificado de Francisco e de oposição ao Vaticano II.
Francisco se diz entristecido, explicando em uma carta aos bispos que acompanha seu motu proprio Traditionis custodes que a Missa Tridentina tem sido cada vez caracterizada “por uma rejeição crescente não só da reforma litúrgica, mas do Concílio Vaticano II, com a afirmação infundada e insustentável de que ele traiu a Tradição e a ‘verdadeira Igreja’”.
O papa diz que duvidar do Concílio é “duvidar do próprio Espírito Santo que guia a Igreja”, argumentando que a liturgia da Igreja foi “adaptada muitas vezes ao longo dos séculos às exigências dos tempos”, sendo não apenas “conservada, mas renovada ‘em fiel obséquio da Tradição’”.
O Papa João Paulo II e Bento XVI, explicou Francisco, procuraram “recompor a unidade do corpo eclesial no respeito às várias sensibilidades litúrgicas”, fazendo provisões para as celebrações do Rito Antigo.
Mas Francisco diz que as tentativas deles de promoverem a unidade foram “usadas para aumentar as distâncias, endurecer as diferenças, construir contraposições que ferem a Igreja e freiam o seu caminho, expondo-a ao risco de divisão”.
Ele acrescentou que a decisão de tomar essa medida foi moldada por um questionário mundial sobre as celebrações da liturgia tridentina, que “revelou uma situação que me entristece e me preocupa, confirmando-me da necessidade de intervir”. Respondendo aos pedidos dos bispos, Francisco diz: “Tomo a firme decisão de revogar todas as normas, as instruções, as concessões e os costumes” que precedem a presente decisão.
Embora tenha sido especulada há algumas semanas, a decisão do papa de 84 anos pegou de surpresa os observadores da Igreja, dada a forma definitiva como ele anulou uma decisão do seu antecessor.
Os tradicionalistas responderam à notícia com raiva. Um site, o Rorate Caeli, descreveu-a como “chocante e aterrorizante”, acusando Francisco de ser “uma figura anticrística desta era”.
A decisão do papa sobre a missa tradicional em latim, no entanto, está alinhada com a posição do Papa São Paulo VI, que liderou o Vaticano II até a sua conclusão e procurou implementar as suas reformas. Paulo VI, de acordo com uma autoridade litúrgica vaticana, previa o Rito Antigo apenas para os padres moribundos ou doentes.
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Papa Francisco impõe restrições ao “divisivo” Rito Antigo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU