04 Novembro 2021
"Não podemos escolher Deus primeiro; no entanto, podemos escolher amar a Deus, podemos escolher obedecer à sua voz e nos manter perto dele. Mas, justamente porque Deus sabe que podemos também escolher não amar a Deus, porque a liberdade de escolha também é dogmaticamente a de escolher o mal, não apenas escolher o bem", escreve Paolo Ricca, teólogo e pastor valdense italiano, professor emérito da Faculdade Valdense de Teologia, em artigo publicado por Avvenire, 31-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A edição de 2021 de “Muitas religiões sob o mesmo céu”, a resenha cultural promovida pelas Acli de Bérgamo. “Escuta o amanhecer está chegando” é a seção da resenha dedicada à espiritualidade: trata-se de meditações matinais propostas por homens e mulheres de fé cristã sobre os verbos fundamentais da fé. Hoje é a vez do teólogo valdense Paolo Ricca, que antecipa neste texto os principais temas de sua reflexão centrada no verbo “escolher”.
Escolher é o ato mais comum e mais constante de nossa vida. A nossa vida, em certo sentido, é uma escolha contínua. Sabemos que não se pode escolher tudo, mas ficamos felizes em escolher o que podemos. Escolher é um ato de liberdade e responsabilidade. Também é um risco. Se alguém escolher mal, as consequências podem ser muito graves.
Porém, escolher é uma prerrogativa do homem, da criatura humana. Os animais, como sabemos, devem seguir e obedecer ao seu instinto. Nós podemos escolher, portanto, escolher é um componente crucial de nossa vida.
Quando me pediram para dizer algo breve sobre a escolha, duas palavras bíblicas imediatamente me vieram à mente: uma palavra de Jesus dirigida para os seus discípulos e uma palavra de Moisés para o povo de Israel. A palavra de Jesus é encontrada no Evangelho de João no capítulo 15, versículo 16 e diz. “Não me escolhestes vós a mim, porém eu a vós”. Assim, de fato, de acordo com o relato do Evangelho, é isso que aconteceu. Nenhum dos doze discípulos, que mais tarde se tornaram doze apóstolos, escolheu seguir Jesus; foi Jesus quem os escolheu um a um, chamando-os pelo nome.
Portanto, a escolha mais importante de nossa vida não é uma escolha nossa. É de Jesus. Isso não significa, é claro, que nós não escolhemos; no entanto, muitas vezes pensamos que se escolhemos, por exemplo, ser cristãos, nós mesmos o escolhemos. Mas não é assim. Nós o escolhemos apenas porque Jesus nos escolheu. Os doze discípulos "escolheram" Jesus, apenas porque Jesus os escolheu. A escolha fundamental, constitutiva de nossa vida e de nossa história individual, não é nossa. Mas de Jesus.
O que é verdade para os discípulos também é verdade para nós. Também nós não escolhemos seguir Jesus e, se o escolhemos, é porque fomos escolhidos primeiro por ele. A escolha de Jesus precede a nossa escolha. Esta é a palavra de Jesus.
A palavra que Moisés dirige ao povo de Israel encontra-se no livro de Deuteronômio (30,19b). É Deus quem assim fala ao povo de Israel: “tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência”. Também aqui é a escolha de Deus que precede toda escolha do seu povo.
Não podemos escolher Deus primeiro; no entanto, podemos escolher amar a Deus, podemos escolher obedecer à sua voz e nos manter perto dele. Mas, justamente porque Deus sabe que podemos também escolher não amar a Deus, porque a liberdade de escolha também é dogmaticamente a de escolher o mal, não apenas escolher o bem.
E precisamente porque Deus sabe que também podemos escolher o mal e não o bem, ele nos alerta que está em jogo, por trás da questão do bem e do mal, a questão da vida e da morte. É por isso que ele diz "escolha a vida", isto é, "escolha o bem e não o mal", já que você também poderia escolher o mal sabendo que escolhe a morte. Então escolha a vida: essa é a escolha fundamental da nossa existência!
Quase nascemos, poderíamos dizer, para isso: para escolher a vida. Como? Amando a Deus, obedecendo à sua voz e nos mantendo perto dele!
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Escolher: o ato essencial do ser humano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU