14 Outubro 2021
Na próxima quarta-feira, dia 20 de outubro, às 10h, o Prof. Dr. Oswaldo Giacoia Junior do Departamento de Filosofia da Unicamp, debaterá sobre “Técnica e Ética no contexto atual. A crise e a (des)humanidade no Brasil no século XXI”. Esta fala integra o Ciclo de Estudos – A condição humana entre a Biosfera, a Tecnosfera e a Infosfera em tempos sindêmicos.
“Em seu The New Organon, Francis Bacon preconiza que a razão esclarecida, uma vez dissipadas as trevas da ignorância e da superstição, poderá assumir a tutela dos interesses fundamentais da humanidade, garantindo a ela o domínio sobre as forças da natureza e provendo a melhoria da situação humana. O tempo era chegado em que a razão emancipada poderia fazer com que, ‘por meio de diversos trabalhos (por meio de diversos trabalhos, não por meio de disputas, certamente, ou mediante vãs cerimônias mágicas)’, a natureza se visse ‘obrigada a conceder o pão à humanidade; o pão, isto é, os meios de vida’”, escreve o professor Oswaldo Giacoia Junior para os Cadernos IHU Ideias número 20.
“Com isso, parece ter-se completado, afinal, a sempre sonhada supremacia humana sobre as demais criaturas. Senhor da ciência e da técnica, o homem poderia doravante tomar integralmente nas próprias mãos a planificação e o controle das condições de existência no planeta. Em nossos dias, alguns indícios extraídos dos mais recentes desenvolvimentos da ciência e da tecnologia parecem apresentar um testemunho irrefutável da realização daquela esperança”, relata.
Em entrevista concedida para o IHU no ano de 2019, Giacoia Junior provoca ao assinalar que “é recorrente o argumento de que o desenvolvimento econômico de um país depende da exploração ambiental e que tais alternativas são incontornáveis. A tese é utilizada para justificar as mais variadas irresponsabilidades em relação à vida. Há 40 anos Hans Jonas levantou esse debate em seu livro O Princípio Responsabilidade. Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2006 [1979]), publicado originalmente em alemão. O mundo em sua dobra 4.0 exige que pensemos outras formas de vida, que além da humana convive conscientemente com inúmeras outras espécies animais e vegetais. A sustentabilidade coloca, portanto, no epicentro das relações entre a tecnologia e a ética, responsabilidade moral, jurídica e política dos agentes humanos, também eles investidos de novas figuras e papéis”.
É hoje enfadonho exemplificar a pandemia como aquilo que intensificou as ditas irresponsabilidades em relação à vida: degradação de biomas, desigualdade social, concentração de renda, insegurança alimentar, subfinanciamento e, portanto, precarização dos sistemas de saúde e demais serviços públicos. Todos estes elementos revelam um profundo descaso pelas vidas humanas e não-humanas, resultado de sistemas econômicos, políticos e culturais mercantis e tecnocratas. Assim, questiona-se, a técnica é invariavelmente alheia a estas questões? Qual o papel dos governantes brasileiros para com os sistemas de extração e exploração ambiental? O que significaria subsumir a Técnica à Ética? Quais os limites e possibilidades do princípio da responsabilidade como força motriz da política e economia em tempos sindêmicos?
Oswaldo Giacoia Junior é graduado em Direito pela Universidade de São Paulo - USP e em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, onde também realizou mestrado e doutorado. Realizou estágio pós-doutoral na Universidade Livre de Berlim, Universidade de Viena e Universidade de Lecce, Itália, e livre docência pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, onde leciona no Departamento de Filosofia. Especialista em Nietzsche, é autor de diversas obras, da quais destacamos Nietzsche versus Kant: um debate a respeito de liberdade, autonomia e dever (Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012) e Heidegger urgente. Introdução a um novo pensar (São Paulo: Três Estrelas, 2013).
O Ciclo de Estudos – A condição humana entre a Biosfera, a Tecnosfera e a Infosfera em tempos sindêmicos debate interdisciplinarmente questões relacionadas às cosmotécnicas, ética, transumanismo, pós-humanismo, tecnofeudalismo, digitalização da governança, sistemas de poder, tecnosfera, biosfera e responsabilidade socioambiental. Estas discussões têm o intuito de evidenciar questões humanitárias em meio às transformações ambientais, climáticas e tecnossocietais globalmente vigentes.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Técnica e Ética no contexto atual. A crise e a (des)humanidade no Brasil no século XXI. Um debate com Oswaldo Giacoia Junior - Instituto Humanitas Unisinos - IHU