24 Setembro 2021
Detalhes precisos sobre a data e o programa ainda devem ser definidos. Mas a notícia é confirmada: o Grande Imã de al-Azhar Sheikh Ahmad Al-Tayyeb visitará o Iraque, onde encontrará todas as componentes da sociedade iraquiana. Sayyed Jawad Mohammed Taqi Al-Khoei, um dos principais expoentes do mundo xiita iraquiano, apresentou o contexto e as implicações desta visita ao SIR. “As relações cordiais entre os muçulmanos xiitas e sunitas continuaram mesmo nos momentos mais difíceis da história. Claro que às vezes essas relações são tensas por causa de conflitos políticos, mas convivemos há séculos”. “Alguns atores - ele acrescenta - querem que essas relações emperrem, mas na realidade estamos testemunhando um dos períodos melhores para o diálogo inter-religioso e intrarreligioso”.
Perfila-se, portanto, uma visita do Grande Imã de al-Azhar Sheikh Ahmad Al-Tayyeb ao Iraque e seu encontro com o Grande Aiatolá Ali al-Sistani. As duas "almas" do islamismo sunita e xiita se olham e decidem seguir, eles também, na esteira do Papa Francisco e no contexto do Documento de Abu Dhabi, o caminho do encontro.
A confirmar a notícia ao SIR é um dos principais expoentes do mundo xiita iraquiano, Sayyed Jawad Mohammed Taqi Al-Khoei, secretário-geral do Instituto Al-Khoei de Najaf e neto do Grande Aiatolá Abu Al-Qasim Al-Khoei (1899 - 1992). “Há muitos anos que Grande Irmã de Alzhar, o xeque Ahmad Al-Tayyeb, deseja visitar o Iraque”, explica ele. “Estamos muito satisfeitos por ele ter anunciado sua iminente visita ao Iraque, onde se encontrará com todas as componentes da sociedade iraquiana. Recebeu convites oficiais das autoridades iraquianas, mas os detalhes precisos sobre a data e o programa ainda devem ser definidos”.
A entrevista é de M. Chiara Biagioni, publicada por AgenSIR, 23-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
As relações bilaterais entre sunitas e xiitas praticamente são inexistentes há séculos. É um campo de diálogo muito delicado. Qual a importância das duas almas do Islã se encontrem? Quais são as expectativas?
As relações cordiais entre os muçulmanos xiitas e sunitas continuaram mesmo nos momentos mais difíceis da história. Claro, às vezes essas relações são tensas devido a conflitos políticos, mas convivemos há séculos. Em 2015, os líderes muçulmanos sunitas e xiitas se encontraram em Roma para discutir a crise no Iraque, e todo ano há visitas recíprocas entre líderes religiosos e organizações. O ex-Grande Imâ de Al-Azhar Tantawi até estudou por algum tempo em Najaf com o Grande Aiatolá Al-Khoei. Outro ex-Grande Imã Shaltout até reconheceu oficialmente o Islã xiita como uma das escolas do Islã. Também fizemos muitos religiosos xiitas estudar em Al-Azhar. Desde 2003, encontramos o Grande Imã de Al-Azhar várias vezes, bem como o Grande Mufti do Egito. No mês passado, líderes iraquianos xiitas e sunitas se reuniram para uma conferência inter-religiosa em Meca. Alguns atores querem que essas relações emperrem, mas na realidade estamos testemunhando um dos melhores momentos para o diálogo inter-religioso e intrarreligioso.
De que forma a visita do Papa Francisco ao Iraque influenciou essa evolução nas relações entre Al-Tayyeb e o Grande Aiatolá al Sistani?
Sempre quisemos que os líderes religiosos se encontrassem. Eles são símbolos de convivência e tolerância, seguidos por milhões de fiéis e seu encontro dá aos operadores da paz de todo o mundo a força e o incentivo para continuar seu empenho inter-religioso. Quanto mais os líderes religiosos se encontrarem, mais fácil se torna mostrar às pessoas que essencialmente não temos conflitos religiosos entre nós, mas que todos aspiramos ao respeito pela dignidade humana.
Qual é a contribuição "duradoura" que o Papa deixou no Iraque e como continuar para que o diálogo entre os líderes religiosos se torne uma verdadeira paz para todos?
A visita histórica do Papa ao Iraque enviou uma mensagem positiva ao mundo inteiro, dizendo que no Iraque há esperança além de segurança. Foi também uma mensagem do Iraque para o mundo para dizer que os iraquianos, independentemente de sua raça ou origem confessional ou religiosa, estão abertos para acolhê-los e que o povo deseja viver e coexistir junto. Também foi uma mensagem importante dirigida aos cristãos iraquianos para dizer que o Iraque é a sua pátria e encorajar os deslocados a regressarem para casa.
Os líderes se encontram. Mas os povos estão prontos para o diálogo? Como promover a cura das memórias e um possível futuro de paz?
As pessoas olham e seguem seus líderes. Acreditamos que quando há diálogo entre líderes cristãos e muçulmanos ou líderes muçulmanos sunitas e xiitas, o encontro possa ter um impacto direto na maneira como as pessoas olham umas para as outras. Se as pessoas não estivessem prontas, o Papa não teria podido visitar o Iraque e o Grande Imã de Al-Azhar não teria podido visitar este país. Às vezes, as pessoas podem ser ainda mais abertas umas às outras do que seus líderes. Portanto, existe um apoio mútuo para o diálogo que parte da base e chega aos líderes e vice-versa. É um processo virtuoso a ser incentivado porque se reflete no campo, nas nossas comunidades.
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Visita do Grande Imã de al-Azhar ao Iraque. Depois do Papa Francisco, provas de diálogo entre sunitas e xiitas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU