06 Junho 2021
"Em 2014, a nossa pauta não era a vida, hoje estamos lutando para sobreviver", afirma Marina Mattar.
A reportagem é de Igor Carvalho, publicado por Brasil de Fato, 05-06-2021.
Surgido em 2011, o movimento “Copa pra Quem?” pretendia dirimir os impactos provocados pela realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Dez anos depois da criação, Marina Mattar, uma das fundadoras do coletivo, não acredita em mobilizações contra a chegada da Copa América no país, e vê diferenças entre os dois megaeventos.
“Parar a Fifa, uma megacorporação transnacional, não era possível. Tanto que o mote nunca foi ‘Não vai ter Copa’; esse mote surgiu na rua. Uma coisa muito louca foi a história do ‘não queremos estádio, queremos hospital’; isso apareceu na rua, não era um mote do movimento. Mas o interessante é que isso é prioridade hoje, tem gente morrendo, precisamos de hospitais”, afirma Mattar.
A ativista pondera que as semelhanças das duas copas “estão na violação de direitos da população” e não crê em uma articulação contra a realização da Copa América. “Hoje o movimento é contra o Bolsonaro, contra esse governo da morte, e estamos vendo uma grande movimentação, semana passada tivemos um ato grande como eu não via há anos. Não teremos um movimento contra a copa, mas contra esse governo. Em 2014, a nossa pauta não era a vida, hoje estamos lutando para sobreviver.”
Sete anos após a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, Mattar acredita que o “Copa pra Quem?” deixou importantes contribuições para a população. “O movimento tinha como objetivo questionar as violações e resolver algumas delas. Por exemplo, muitas comunidades foram despejadas para que a copa acontecesse. Mas tivemos vitórias. Em São Paulo, por exemplo, a Favela da Paz não foi despejada. Isso graças ao Comitê Popular da Copa com a comunidade da Favela da Paz, isso foi algo que ficou, as pessoas não foram despejadas.”
A Conmebol está em apuros. Após Colômbia e Argentina se recusarem a receber a Copa América 2021, principal competição de seleções da entidade, o governo brasileiro aceitou sediar o megaevento e agora corre contra o tempo para preparar os estádios, infraestrutura e logística para as equipes.
Porém, a repercussão sobre a realização da copa no Brasil, país com maior número de casos e de mortes por coronavírus na América do Sul, foi negativa em todo o continente e os capitães das seleções estão conversando para decidir se haverá um boicote ao torneio.
No Brasil, os jogadores devem se posicionar após o jogo contra o Paraguai, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, que acontece na próxima terça-feira (8). Na última sexta-feira (4), em entrevista à TV Globo, Casemiro, capitão da seleção brasileira, falou sobre o tema.
“Nosso posicionamento todo mundo sabe, mais claro impossível. Tite deixou claro nosso posicionamento e o que nós pensamos da Copa América. Existe respeito e uma hierarquia que temos que respeitar, e claro que queremos dar nossa posição”, explicou Casemiro.
O jornal AS, da Espanha, noticiou que os jogadores e a comissão técnica da seleção brasileira já decidiram não disputar a Copa América. O desfecho da contenda pode ser a demissão do treinador do Brasil, Tite, que estaria incomodado pelo uso político do torneio por parte do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, que aceitou sediar o certame em parceria com Jair Bolsonaro (sem partido), sem consultar os atletas da equipe.
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Copa pra Quem? Após 7 anos, fundadora do movimento fala sobre Copa América no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU