No centro do “responsum” do dia 15 de março há uma avaliação bastante drástica do ato de bênção. Por isso, é útil ler as considerações que Paolo Farinella, biblista e padre da Diocese de Gênova, na Itália, enviou ao teólogo Andrea Grillo neste texto apaixonado, que pode ajudar a compreender alguns aspectos muito negligenciados da questão.
O artigo foi publicado em Come Se Non, 19-03-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
por Paolo Farinella
A publicação do “Responsum” da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a bênção das uniões entre pessoas do mesmo sexo [2], como era previsível, desencadeou uma série de reações emotivas (a generalidade dos órgãos de informação) e críticas fundamentadas não só no conteúdo, mas também no método teológico que faz água sob muitos aspectos [3]. O documento vem na esteira das declarações da própria Congregação, imóvel no tempo e voltado a perpetuar essa imobilidade que se transforma em imobilismo em um tempo talvez excessivamente “móvel”.
A sensação que se tem é a de se encontrar diante de uma oficina sobrevivente de artesanato que continua produzindo peças que estão fora do mercado, sem se dar conta de que é ela, a Congregação, que está fora do tempo e fora de tudo. Linguagem, método e pretensa teologia são “extra rem” fora da realidade que se recusa não só a aceitar, mas também a observar. Ainda é dominante aí, de uma forma diferente, o princípio de autoridade que se identifica obsessiva e exclusivamente com a “vontade de Deus”.
É o reino do clericalismo que presume ter a exclusiva representação de Deus, contratado em seu serviço em tempo integral. O clericalismo que o Papa Francisco combate com extremo vigor, como fez na conversa com seus coirmãos jesuítas (5 de setembro de 2019), durante a visita apostólica a Moçambique e Madagascar (4 a 10 de setembro de 2019). Naquela conversa privada, o papa disse palavras de fogo:
“O clericalismo é uma verdadeira perversão na Igreja. O pastor tem a capacidade de ir na frente do rebanho para indicar o caminho, de ficar no meio do rebanho para ver o que está acontecendo no seu interior e também de ficar atrás do rebanho para se assegurar de que ninguém seja deixado para trás. O clericalismo, ao invés disso, pretende que o pastor esteja sempre à frente, sempre à frente, estabeleça uma rota e puna com a excomunhão aqueles que se afastam do rebanho. Em suma: é exatamente o contrário daquilo que Jesus fez. O clericalismo condena, separa, chicoteia, despreza o povo de Deus (...) O clericalismo não leva em conta o povo de Deus (...) O clericalismo confunde o ‘serviço’ presbiteral com o ‘poder’ presbiteral. Clericalismo é ascensão e dominação. Em italiano, isso se chama ‘arrampicamento’ [escalada, carreirismo] (...) O clericalismo tem como consequência direta a rigidez. Vocês nunca viram jovens sacerdotes todos rígidos de batina preta e chapéu no formato do planeta Saturno na cabeça? Pois bem, por trás de todo clericalismo rígido, existem sérios problemas (...) Uma das dimensões do clericalismo é a fixação moral exclusiva no sexto ou mandamento. Uma vez, um jesuíta (...) me disse para ficar atento ao dar a absolvição, porque os pecados mais graves são aqueles que têm uma maior ‘angelicalidade’: orgulho, arrogância, dominação (...) E os menos graves são aqueles que têm uma menor angelicalidade, como a gula e a luxúria (...) Focamo-nos no sexo, e depois não se dá peso à injustiça social, à calúnia, às fofocas, às mentiras. A Igreja hoje precisa de uma profunda conversão nesse ponto” [4].
Além disso, na prova dos fatos, retorna sempre e rejuvenescida a obsessão pelo sexo, a verdadeira maldição do clero católico que não consegue superar a repulsa em relação ao objeto primário do desejo, mutilado por um celibato teórico e não real. Enquanto o clero e a estrutura clerical não superarem essa “obsessão patológica”, a Igreja terá sérios problemas para voltar à fonte da sua vida que é o Evangelho e a Bíblia em sentido amplo e à vida daquele Povo de Deus, exaltado em nível de proclamações e totalmente renegado no nível da realidade e da responsabilidade.
Não sou um especialista em direito, não sou um especialista em liturgia/sacramentária, sou apenas um apaixonado servidor da Palavra e, nessa qualidade, também independentemente das notícias, gostaria de oferecer uma reflexão sobre o significado bíblico do palavra “bênção”, que muitas vezes eu vejo ser maltratada precisamente por aqueles que deveriam “ser mestres em Israel” (cf. Jo 3,10), com o risco de que, jogando fora “a chave do conhecimento”, não só não entram, mas também impedem a entrada daqueles que querem entrar (Lc 11,52).
O verbo “abençoar” e o substantivo “bênção”, em séculos de prática cultual, perderam o seu significado original. Queremos tentar recuperar “uma” dimensão bíblica, sem pretender esgotar a complexidade de significado que esse lema e seus correlatos têm.
a) Em acadiano, karābu significa rezar, consagrar, abençoar, saudar. Em árabe, baraká expressa benefício, fluxo benéfico que vem de Deus, dos santos, das plantas, de onde vem bem-estar, saúde ou felicidade. Em hebraico, a raiz B_R_K da qual vêm o verbo bārak (dotar de força vital) e o substantivo berākā (força salutar ou vital), também tem o significado de ajoelhar-se e joelho. No Oriente, o termo “joelho” é um eufemismo, ou seja, uma forma atenuada e indireta para indicar os órgãos sexuais masculinos; nesse sentido, haveria um parentesco com o acadiano birku (joelho e útero).
b) Essas menções etimológicas essenciais falam de um nexo entre abençoar/ajoelhar-se e bênção/joelho, estabelecendo uma conexão entre abençoar/bênção e os órgãos sexuais masculinos. Com base nos seus conhecimentos “científicos”, para os antigos, é o homem que transmite a vida, enquanto a mulher é apenas uma incubadora de sêmen, um thermos para manter o calor. “Descendência”, de fato, em hebraico, diz-se “zera‛”, que o grego bíblico traduz como “esperma” (Gn 12,7; Gal 3,16). Nesse contexto semântico, eis o sentido: abençoar significa transmitir a própria capacidade generativa a outro, transferindo-lhe a própria fecundidade. Por isso, a bênção só pode ser dada uma vez na vida, porque, uma vez dada, não pode ser retomada de volta. Em algumas culturas, ainda hoje (por exemplo, na Sardenha), é a mãe quem abençoa o noivo ou a noiva antes de sair de casa para o local da celebração nupcial.
Quando se bendiz a Deus, usa-se sempre o particípio passado passivo bārûk (“bendito”), porque em Deus a bênção é um estado permanente da sua pessoa, nunca um desejo, como na expressão “Bendito seja!”, que indica um cumprimento no tempo. Deus “é” e permanece Bendito. Sempre. É a própria bênção.
Quando, em vez disso, Deus abençoa, a ação é ativa, porque é ele quem transmite a sua potência vital, a capacidade generativa, para tornar partícipe da sua paternidade geradora. “Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos...’” (Gn 1,28), daí o nexo entre “abençoar” e “ser fecundo”, isto é, gerar é evidente (sobre o conceito de “fecundidade” do casal, veja-se mais abaixo).
Quando o homem abençoa, ele transmite sua própria energia vital a quem é abençoado. Por isso, Caim é “amaldiçoado”, porque impediu que se realizasse a “bênção” do irmão Abel (Gn 4,10). Diz o texto hebraico: “A voz dos sangues – demê (sic! Plural) – do teu irmão grita por vingança a mim da terra”. Os sangues! Isto é, todas as gerações futuras contidas no ventre de Abel e decepadas por Caim clamam a Deus, porque futuro e presente estão ligados na vida e na morte.
Em Gn 27, narra-se a história de Jacó que enganosamente rouba a bênção do irmão Esaú, que, percebendo a estupidez cometida, implora a bênção para si, mas o pai Isaac não pode retomar a capacidade generativa que transmitiu ao irmão, o qual permanecerá bendito/abençoado para sempre (Gn 27,33). Esaú suplica ao pai chorando: “Não guardaste uma bênção para mim?” (Gn 27,36); “Então, tens apenas uma bênção?” (Gn 27,38). Isaac não pode mais abençoar Esaú porque transmitiu toda a sua semente, promessa/premissa do futuro que ele incuba na sua potência generativa, a Jacó. A bênção/fecundidade patriarcal conduz a história da salvação rumo ao futuro e viaja através do filho mais novo, e não do mais velho [5].
Jacó deve escapar da ira do irmão Esaú, e o pai o acompanha com estas palavras: “Que o Deus todo-poderoso te abençoe, te torne fecundo e te multiplique” (Gn 28,3), que são o eco de Deus criador em Gn 1,28: “Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos...’”.
A bênção como ato que transmite não a vida, mas sim a capacidade de gerá-la em todas as relações humanas é complexa na sua implementação; de fato, ela compreende:
1. um gesto: a imposição da mão ou das mãos (o sinal da cruz aparece depois do século IV);
2. uma palavra que acompanha e explica o gesto [6]: o gesto sem a palavra é apenas mímica; a palavra sem o gesto é apenas som evanescente. Nota exegética: é a mesma dinâmica da criação: “Deus disse... e assim foi”. Palavra e fato. Deus fala agindo e age falando. Em hebraico, há apenas um lema para dizer ambos os sentidos opostos: Dabar, que significa “Palavra e fato”. Jo 1,14 sintetiza de modo sublime essa realidade no binômio “Lógos-sarx”, reunindo dois lados opostos: o divino e o humano, dos quais a “sarx” caracteriza a fragilidade, a mortalidade, a caducidade e, enfim, a mortalidade. Não é apenas “Verbo encarnado”, mas também “encarnado” como mortal, frágil na sua essência. A Palavra é o sentido do acontecimento que, por sua vez, é a encarnação visível da Palavra/Verbo.
3. Palavra e Fato estão ordenados à vida: de fato, os acontecimentos da história pessoal, de casal, de família, de comunidade, de povo, de povos são as palavras com que Deus fala aos homens e às mulheres de todos os tempos, enquanto a Escritura é o seu código cifrado para compreender o seu sentido e alcance, em virtude do princípio de que a Palavra de Deus é sempre eficaz, porque, como já disse, Deus fala agindo e age falando: palavra/fato, isto é, dabar.
Em conclusão, abençoar significa estar em comunhão de vida com aquele/aqueles que recebem a bênção, porque ambos, abençoador e abençoado, são “objeto de bênção” que os une em uma única fraternidade, expressão visível da única Paternidade. Em sentido espiritual, quem abençoa gera aquele/aqueles que abençoa, não no sentido de exercer um poder “exclusivo”, mas porque é testemunha da proximidade de Deus, o Bendito. Ele só pode exercer esse ministério de proximidade fazendo-se ele mesmo “próximo” daquele/daquela que abençoa, asseverando assim que todos estão sob o selo da paternidade de Deus.
Podemos dizer com palavras modernas que abençoar é assumir a responsabilidade de caminhar juntos, como Jesus faz com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,15). A bênção não é um selo de propriedade, mas sim o lançamento para um projeto final que deve se realizar na história através da historicidade de cada um, segundo o dom que recebeu “para a edificação da comunidade” (1Cor 14,12; veja-se também 3.5.26, et passim).
Longe de ser um privilégio de uma categoria, a bênção é assumir aqueles que se abençoa, incluindo-os, nunca os excluindo de um caminho que, se verdadeiro, levará à libertação das nossas profundidades, o coração: “Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).
Por fim, abençoar é acolher a diaconia do cireneu que assume sobre si o peso do cansaço de viver de quem tende à plenitude de vida na plenitude do amor: “Carreguem os fardos uns dos outros, e assim vocês estarão cumprindo a lei de Cristo” (Gal 6,2), que tem o mesmo sentido de: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5).
É a mesma atitude e a mesma tensão que Abraão vive enquanto acompanha Isaac ao massacre, aparentemente ordenado por Deus: “Toma teu filho, o teu unigênito, a quem amas, Isaac” (Gn 22,2), onde o crescendo emotivo e dramático desordena o coração do pai, como um trágico crescendo sinfônico: “filho… unigênito… a quem amas… Isaac”. Qual pai poderia aguentar?
Porém, o bendizente e o maldito/bendito, Pai e filho, “foram juntos” (Gn 22,6.8), repetido duas vezes para sublinhar a sua importância. Só no fim do seu caminho é que eles descobririam o rosto e a vontade do Senhor, que se revela como “contestador” dos sacrifícios humanos, muito difundidos no terceiro milênio a.C.
O nosso tempo é marcado por uma desgraça: as palavras se separaram dos acontecimentos e, muitas vezes, as palavras se repetem em vão, chegando ao nada. Corre-se o risco de perder a melhor parte da vida, se não se redescobre a nexo amoroso e gerador entre palavra e evento da vida: é o sentido da bênção da existência, aquele evento de vida e de amor que nos gera para nos tornar fecundos uns aos outros.
A fratura se torna um cataclismo quando são os guias (genitores, professores, formadores, governos, parlamentares, superiores, párocos, bispos e papas...) que perdem a ligação entre palavra e evento, gerando incerteza e dando sinais de morte antecipada: “os sangues” dos eventos calados clamam a Deus.
O mesmo vale para a vida de fé: rito e vida estão juntos, ou os sacramentos são apenas rituais amorfos e sem sabor. Inúteis. Cascas vazias e até mesmo ridículas. No marasmo que assola o mundo inteiro, assistimos a um genocídio das palavras, utilizadas como corpos mortos, sem alma e sem vida, por serem usadas como instrumentos para enganar e camuflar a realidade, curvando-a aos próprios interesses pequenos e mesquinhos. Hoje domina a lógica do útil, não a dinâmica fecunda da bênção geradora.
A hierarquia católica, muitas vezes, e de bom grado, confundida com a Igreja ou, pior, muitas vezes identificando-se com os Ekklesía, é prisioneira de uma visão e de um vocabulário utilizados para defender a si mesma, com o propósito de se perpetuar para além de tudo o que é lícito.
A estrutura do seu pensamento ainda é a neoescolástica degenerada e superada não só pela própria teologia, mas também pela experiência vital “contra quam non valet argumentum”. A hierarquia, oxidada no seu próprio clericalismo que a embalsamou como uma múmia morta e ressecada, tem olhos e coração fixados não na tradição, que é vitalidade em perpétuo devir, mas em um sistema “pré-socrático” que nunca existiu, mas que é evocado constantemente, como fonte das suas próprias declarações, cada vez mais sem justificativas.
Os clericais e os clericalistas, que praticam muito, mas não amam quase nunca, são especialistas em religião e, por isso, expulsaram a fé do seu horizonte, acreditando-se livres para usar Deus como clava para colocar ordem e restabelecer as fronteiras do seu poder: se tudo é e deve permanecer imóvel, eles, proprietários de Deus, estão seguros e garantidos, temendo a fé que é ato de apaixonados e, portanto, aberto aos sentimentos imprevisíveis e imprevistos que a vida traz consigo. A religião deles impede qualquer relação com Deus, a menos que seja de sujeição: qualquer religião é regime de escravidão.
Jesus veio como libertador do jugo da religião, sintetizando a impossibilidade dos 613 preceitos exigidos pela Lei em um único mandamento de realização: “Amar” a Deus através do próximo (e não vice-versa). A fé, coração do Evangelho que é a Pessoa de Jesus, é apelo à consciência e envolvimento afetivo de relação de amor. A fé é coisa de apaixonados; a religião, ao invés disso, é matéria de praticantes habituais. A religião exige a lei da imposição; a fé vive apenas no coração da liberdade que serve.
Encarnados na história, os cristãos têm o dever e a honra de dar testemunho da Palavra com as suas palavras acompanhadas de gestos de verdade e de coerência, para que a sua vida e a sua presença na história sejam uma bênção de fecundidade, capaz de gerar aqueles que encontram no seu caminho de carne para reencontrar em cada um e em todos o rosto velado de Deus, que, abençoando, nos torna fecundos de vida e artífices de História: profetas do amor, por amor e com amor.
O pensamento católico comum congelou a fecundidade do casal nos seus filhos (veja-se acima), sem se dar conta de que o primeiro filho/filha gerado pelo casal é “o próprio casal”, porque, na relação de amor, é-se obrigado a sair do próprio isolamento individual para se tornar o outro em um turbilhão de dom a se perder, razão pela qual não se sabe mais quem gera e quem é parido, porque, no momento do amor doado, sem pedir nada em troca, que é mais do que o amor gratuito, mas é apenas “agápē”, nasce uma “pessoa nova”, o “nós”, a única “imagem de Deus” visível e verificável (cf. Gn 1,27). Se assim não fosse, os casais sem filhos estariam excluídos da bênção de Deus.
Aqui está em jogo a maior fecundidade da generatividade natural, aqui vamos ao plano do Espírito, no qual quem ama gera a si mesmo por amor ao outro, a serviço do qual aceita modelar a própria imagem de Deus.
É a bênção da ternura do Pai e do Filho e do Espírito Santo que desce, fecunda e regenerante, sobre a humanidade redimida.
Gênova, 18-03-2021
Paolo Farinella, padre
Paróquia de São Torpes
www.paolofarinella.eu
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
1. Retomo, revisitando, um capítulo de uma obra minha, “Bibbia, Parole, Segreti, Misteri” [Bíblia, Palavras, Segredos, Mistérios] (Gabrielli Editori, 2008): “Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam fecundos...’ (Gn 1,28)” (ibid., p. 61-65), remetendo a quem quiser aprofundar mais detalhadamente os aspectos bíblicos em chave judaica também aos outros dois capítulos conexos: “Pungente e perfurada os criou (Gn 1,27)” (ibid., p. 37-47) e “À imagem de Deus o criou (Gn 1,27)” (ibid., p. 49-60).
2. “Responsum da Congregação para a Doutrina da Fé a um dubium sobre a bênção de uniões de pessoas do mesmo sexo”, assinado pelo prefeito, Luis F. Card. Ladaria, SJ, e pelo secretário, Giacomo Morandi, em 22 de fevereiro de 2021, Festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo. O Papa Francisco “foi informado e deu seu assentimento à publicação do mencionado Responsum ad dubium, com a Nota explicativa anexa” (Sala de Imprensa do Vaticano, Boletim de 13-03-2021).
3. O comentário mais articulado, como se diria em filosofia escolástica, com um argumento “ad hominem”, isto é, preciso e pontual em relação ao tema, é o de Andrea Grillo, professor de Teologia dos Sacramentos e Filosofia da Religião em várias faculdades na Itália, voz culturalmente importante na rede e na vida, com a sua nota “Bênção e poder: uma confusão ilícita”, de 16 de março de 2021.
4. Antonio Spadaro, SJ (org). “‘La sovranità del Popolo di Dio’. I dialoghi di papa Francesco con i gesuiti di Mozambico e Madagascar”. La Civiltà Cattolica, n. 4063 (5-19 de outubro de 2019), p. 3-12, espec. 8-10, et passim.
5. É a “lei da impossibilidade”. No Novo Testamento, ela é codificada por Paulo: “Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte” (1Cor 1, 27-29); ela inerva toda a história da salvação. Em virtude dessa “lei” revolucionária, Deus subverte os usos, os costumes, as leis pré-ordenadas e escolhe sempre o inesperado e o “escandaloso”, aqui o filho mais novo que, por lei, não tem direitos, contra o primogênito que, pelo contrário, os possui todos (para um aprofundamento, cf. Paolo Farinella, “Il Padre che fu madre. Una lettura moderna della parabola del Figliol Prodigo” [O Pai que foi mãe. Uma leitura moderna da parábola do Filho Pródigo] (Gabrielli Editori, 2010, p. 79-91).
6. É a mesma estrutura dos “sacramentos” individuais na liturgia católica: todo ato de mediação salvífica sempre tem uma matéria que, geralmente, é um elemento/alimento humano (água, vinho, óleo, amor, sofrimento, morte); um gesto simbólico (imersão/emersão no batismo, óleo na testa, no peito, nas mãos e nos pés, entrelaçamento de mãos etc.); uma palavra que “significa” o gesto comum da vida (“Eu te batizo”; “Eu te acolho” etc.).