13 Janeiro 2021
Ao contribuir para uma série documentária para a gigante americana Netflix, o Papa Francisco persegue um desejo de comunicação com o grande público que não é unanimidade...
A reportagem é de Philippe Clanché, publicada por Réforme, 12-01-2021. A tradução é de André Langer.
Como falar para o maior número de pessoas, quando você preside uma instituição que a maioria da população do mundo não escuta mais? Essa é a preocupação do Papa Francisco, que já conseguiu muito melhor do que seu antecessor, especialmente em questões ecológicas, tornar-se mais popular fora do público católico.
Em 2020, ele estava procurando um provedor de serviços de televisão para colocar em imagens seu livro Partager la sagesse du temps (Compartilhar a Sabedoria do Tempo). O Papa escreveu o prefácio desta coletânea de testemunhos de pessoas idosas de todo o mundo. Ele reagiu livremente às histórias apresentadas e apresentou algumas memórias pessoais de “avô como os outros”. Publicado em francês em 2018 pela Ed. Jésuites, este livro não teve muito sucesso na mídia.
Para este projeto, o Papa Francisco preferiu construir uma parceria com a gigante americana Netflix em vez da VatiVision, uma plataforma audiovisual paga, chamada... “a Netflix do Vaticano”, quando foi lançada em 2020. A Netflix lançará uma série documentária em quatro episódios, na qual a figura do Papa ocupará o topo da lista. Uma entrevista exclusiva com este último marcará os passos dos episódios. A série estará disponível para assinantes em 2021.
A gigante americana já havia transmitido um filme sobre Francisco dirigido por Wim Wenders, Um Homem de Palavra (2018). Como indica o título, esse documento apresentava a verticalidade descendente do discurso católico, um dos maiores males do catolicismo.
Com Partager la sagesse du temps, pelo contrário, o Papa deixa que os seus contemporâneos, neste caso os da sua geração, falem por si próprios, optando por uma atitude mais pastoral. Sem dúvida, o público multiforme da Netflix apreciará uma postura modesta e à escuta do mundo.
Em seu discurso ao público em geral, o pontífice procura antes de tudo evitar, quando possível, a comunicação controlada e precisa, geralmente praticada no Vaticano. Uma operação que requer muitas releituras de cada frase, com o risco de lhes retirar toda a carne. Ao trabalhar fora do quadro institucional, o Papa sem dúvida perde em precisão teológica, e não faltam vozes para julgá-lo. Mas ganha em imagem... e em sua capacidade de difusão dos valores católicos.