19 Mai 2018
"O maior presente que ele dá neste filme é a esperança para o futuro. Eu vejo este filme sendo usado para meditação, em retiros e na catequese. Pessoas curiosas sobre Francisco e os que chegam à igreja vão aprender que o nosso Papa é humano, um homem que caminha entre nós e que dá o seu melhor para seguir o Senhor Jesus."
A opinião é de Rose Pacatte, publicada por National Catholic Reporter, 18-05-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen
No filme sobre Francisco há pouca informação biográfica. O Papa nasceu Jorge Mario Bergoglio em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina. O longa-metragem mostra sua eleição como Papa no dia 13 de março de 2013, o primeiro das Américas, o primeiro do hemisfério sul, o primeiro jesuíta e o primeiro Papa que com o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis. É curioso que não há nenhuma menção ao fato de que Francisco seja o primeiro Papa a ter sido ordenado padre após o Concílio Vaticano II (em 1969). Este fato, para mim, diz muito sobre a teologia de Francisco, sempre é infundida com um cuidado pastoral — uma das premissas do filme.
O filme começa com Francisco tomando o nome de São Francisco de Assis. Ele abre na cidade de Úmbria, sendo narrada reflexão que parece ter sido balizada pela Encíclica Laudato Si', sobre o cuidado da casa comum, lançada em 2015 pelo Papa. Então combina um vai e vem com dramatização contemporânea de cenas da vida de São Francisco, embora num estilo de um velho filme mudo em preto e branco. Wenders, conhecido por seu viés artístico, faz uma sábia escolha para um filme que de outra forma seria prolixo.
Palavras criam a contradição inerente do filme. A ênfase está nas palavras de Francisco sobre cinco anos de seu papado, exortando as pessoas de boa vontade para serem boas e justas, para fazer o bem. Vemos o Papa lavando os pés de prisioneiros e de sem-tetos, visitando áreas carentes em suas viagens, tocando os doentes, saudando e conversando com prisioneiros de forma emocionante. Suas palavras nos incentivam a fazer o que ele não pode, isto é, criar uma cultura de cuidados para os nossos vizinhos neste mundo, tanto os de perto e quanto os de longe.
Os temas que Wenders escolheu para tratar neste documentário de 96 minutos são os que Francisco fala com frequência e que podem ser encontrados tanto na vida de São Francisco de Assis quanto no ensino social católico: dignidade humana, o bem comum, a solidariedade, a subsidiariedade, justiça, família, comunidade, participação, trabalho e dignidade do trabalho, direito à vida, segurança, comida, cuidados com a terra, com a água e com o ar. Seus encontros inter-religiosos com líderes da fé também estão incluídos.
Duas longas entrevistas ilustradas por Wenders com imagens das viagens de Francisco são retratadas. Às vezes Francisco parece cansado ou sobrecarregado quando fala diretamente para a câmera; as melhores cenas são dele falando para as pessoas sem perceber a intrusão da câmera.
O Papa também quer que saibamos que as "políticas de exclusão dos pobres que são marginalizados em seguida passam a viver de sobras" criaram uma "cultura de desperdício". Cada um de nós é responsável por essa cultura do desperdício, diz ele. "Ninguém pode servir a dois senhores", nos lembra. Ele quer o mundo viva na harmonia da criação, porque nós não somos chamados a dominar a criação, mas para cuidarmos dela. Também fala de sofrimento, embora sua resposta seja ao mesmo tempo simples e misteriosa: ele aponta para o crucifixo.
A estima de Francisco para a ciência é fortemente mostrada no filme. O Papa adverte os governos a prestarem atenção ao que a ciência está nos dizendo sobre a Terra, pois Deus nos deu a capacidade de investigar, pensar e agir. O filme não deixa dúvidas sobre preocupação de Francisco com a Terra.
A visita de Francisco às ilhas de Lampedusa, na Itália , e Lesbos, na Grécia, chama a atenção para a crise global de refugiados que Francisco. Ele também falou dos direitos dos povos indígenas, de acolher estranhos e da necessidade de parar o auto-destrutivo comércio internacional de armamentos.
A cena de sua resposta à pergunta do jornalista no avião papal sobre o "lobby gay" está incluída: "se uma pessoa é gay e está buscando o senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgar? Devemos ser irmãos uns dos outros. O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Ele diz que ninguém deve ser marginalizado por isso; Eles devem ser integrados na sociedade."
Ele também aborda o papel das mulheres. "As mulheres tinham uma maneira distintamente diferente de olhar as coisas em comparação com os homens. Tive reuniões sobre esse problema com membros do sexo masculino e, em seguida, com membros do sexo feminino. A entrada das mulheres é extraordinariamente rica! É necessário. O mundo não pode ir em frente se não existir complementaridade ou reciprocidade entre homens e mulheres. Temos de integrar as mulheres! Porque um mundo sem liderança, aconselhamento e visão das mulheres não pode avançar."
A experiência de assistir "Papa Francisco: um homem de palavra" é parecida com a de ver uma homilia. Mas o filme tem uma qualidade mística, poética, contemplativa. Não se trata de planos estratégicos, mas da fé vivida, da esperança e do amor de Francisco. Ele é por sua vez, engraçado, carinhoso, preocupado e sério. Eu gostaria de saber histórias mais pessoais da interação do Papa com pessoas e nações, mas este filme mostra-me o coração, a amplitude de sua espiritualidade, a qualidade de seu caráter. O filme foi completado, claro, quando Francisco emitiu um pedido de desculpas às vítimas do clero abuso sexual no Chile e admitiu a cometer erros graves em sua avaliação e percepção do problema. Este filme revela o Papa como um homem com a visão e a capacidade de admitir tais falhas pessoais para o mundo inteiro.
O maior presente que ele dá neste filme é a esperança para o futuro. Eu vejo este filme sendo usado para meditação, retiros e na catequese. Pessoas curiosas sobre Francisco e os que chegam à igreja vão aprender que o nosso Papa é humano, um homem que caminha entre nós e que dá o seu melhor para seguir o Senhor Jesus.
Quais são os dois ingredientes para uma vida feliz? Para Francisco é um sorriso e um senso de humor, mas ele realmente tem que parar com as piadas de sogra. Talvez isto, infelizmente, mostre que o mundo do Papa ainda é um mundo de homens. Há trabalho a ser feito. O fato de Wenders incluir esta observação talvez diga muito sobre ele mesmo como cineasta.
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'Papa Francisco: um homem de palavra' retrata esperança e fé vivida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU