A esperança frágil da criança na manjedoura representa um feixe de alegria
Em momentos sombrios da história da humanidade há e sempre haverá razões para ser paralisado pelo medo e se entregar ao desespero. E hoje, especialmente diante de uma crise sanitária que já matou mais de 1,5 milhão de pessoas em todo o mundo somente neste ano e causou estragos que parecem irreparáveis, como o aumento do desemprego em massa - mais de 14 milhões somente no Brasil -, da fome, da vulnerabilidade dos desassistidos e exacerbou as desigualdades sociais, é difícil ter esperança e dar espaço à alegria da qual nos fala o terceiro domingo do Advento.
Além dos efeitos letais gerados pela pandemia de Covid-19 e dos problemas sociais amplamente difundidos em todo o globo, outra consequência tem chamado a atenção de psicólogos, psiquiatras, sociólogos e filósofos: "a epidemia psíquica". Entre as vozes que alertam para esse fenômeno, destaca-se a da filósofa italiana Donatella Di Cesare. Em artigo publicado no Il Manifesto e reproduzido na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, Donatella chama a atenção para as "proporções imponderáveis" geradas pelo distanciamento social e "tudo o que traz consigo: tristeza, raiva, sensação de desamparo, frustração, solidão, insônia, angústia, depressão".
Segundo ela, o pânico inicial que pegou a todos de surpresa no começo da pandemia "foi substituído por um sentimento de tristeza, de assombrada e amarga resignação", e a emergência psíquica - não menos importante do que os problemas políticos, econômicos e sociais - foi tratada "como se fosse um tabu, um tópico a ser evitado e permaneceu à margem do debate público".
O psicanalista brasileiro e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP, Christian Lenz Dunker, disse, em entrevista a BBC News Brasil, reproduzida no sítio do IHU, que "estamos em uma situação na qual precisamos fazer frente ao medo de algo que vem de fora: há um bicho lá fora e ele pode nos pegar. Mas esse medo vai se somar às angústias internas" de cada um. Entre os perfis psicológicos observados na quarentena, Dunker menciona três: o tolo, o desesperado e o confuso. "O 'tolo' sente tanto medo que precisa negar o que está acontecendo. O 'desesperado' é o contrário: ele substitui o medo de fora pela exageração das angústias que já sente. Ele acha que não pode fazer nada, que a ameaça é tão poderosa que ele está perdido. Entre esses dois polos existe o tipo misto, que é o 'confuso'. Ele transita entre o tolo e o desesperado. Ele não entende direito o que está acontecendo. Uma hora acha que tudo está perdido; depois, fica mais otimista. Ou seja, ele não sabe direito como agir", exemplifica.
Ao analisar o comportamento psíquico na sociedade do século XXI, o psiquiatra italiano Vittorino Andreoli alerta para um ponto que antecede a crise pandêmica: "Hoje vivemos mal. Por isso, acumulamos raiva, mal-estar, frustração. Existe uma raiva interna que precisa ser gerenciada". Para superar essa condição, ele defende o abandono das fórmulas que prometem a felicidade - a última tendência da euforia coaching - e propõe a redescoberta da alegria. "A alegria é um sentimento belíssimo. Todo mundo fala sobre felicidade, mas a felicidade diz respeito ao eu. A alegria é um sentimento compartilhado, diz respeito ao nós", compara.
Apesar das circunstâncias nada favoráveis para a celebração do Natal neste ano, a mensagem natalina do Conselho Mundial das Igrejas - CMI, organização ecumênica fundada em 1948, em Amsterdam, Neerlândia, com sede atual em Genebra, Suíça, é um convite à "esperança frágil da criança na manjedoura" e ao "canto dos anjos proclamando o nascimento do Cristo com grande alegria". "Nos dias mais difíceis da história, os cristãos sempre encontraram consolo e esperança na boa nova de Jesus Cristo, que começa com o nascimento do Salvador em Belém", diz o reverendo Ioan Sauca, secretário-geral interino do ICM, no vídeo publicado no sítio do IHU nesta semana.
Ele reconhece que as celebrações do Natal serão particularmente diferentes no ano da pandemia global. "Temperadas pelo distanciamento físico", menciona, "as pessoas chorarão pelos muitos mortos em todo o mundo", mas em um "mundo de dor e morte", lembra, "o acontecimento do Natal permite-nos encontrar consolo, manter a frente no alto com esperança e vislumbrar na fé profunda o triunfo da vida e do amor que representa o nascimento de Jesus. São boas notícias que infundem uma grande alegria a todas as pessoas”.
Na Encíclica Fratelli Tutti, escrita no transcorrer da crise pandêmica, enquanto cresciam as tensões internacionais e a disputa pelas vacinas, mas também floresciam ações de solidariedade, o Papa Francisco reitera que as tristezas e angústias dos homens de hoje, mas igualmente suas alegrias e esperanças, "sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração".
Ao publicá-la na véspera da Memória litúrgica de São Francisco de Assis, em outubro deste ano, oitavo do seu pontificado, o Papa convoca a humanidade ferida a ultrapassar as barreiras geográficas em direção à fraternidade e à amizade social. "O árduo esforço por superar o que nos divide, sem perder a identidade de cada um, pressupõe que em todos permaneça vivo um sentimento basilar de pertença. Porque 'a nossa sociedade ganha, quando cada pessoa, cada grupo social se sente verdadeiramente de casa", assegura. Para explicar o propósito do que seria um projeto global em prol dos bens comuns, o Papa recorre à analogia da família. Nas famílias, exemplifica, "todos contribuem para o projeto comum, todos trabalham para o bem comum, mas sem anular o indivíduo; pelo contrário, sustentam-no, promovem-no. Podem brigar entre si, mas há algo que não se move: este laço familiar. As brigas de família tornam-se reconciliações mais tarde. As alegrias e as penas de cada um são assumidas por todos. Isto sim é ser família! Oh, se pudéssemos conseguir ver o adversário político ou o vizinho de casa com os mesmos olhos com que vemos os filhos, esposas, maridos, pais ou mães, como seria bom! Amamos a nossa sociedade, ou continua a ser algo distante, algo anônimo, que não nos corresponde, não nos insere, não nos compromete?".
Em oposição à divisão mundial e ao fechamento dos países em si mesmos, Francisco estimula uma "sadia relação entre o amor à pátria e uma cordial inserção da humanidade inteira", insistindo que "a sociedade mundial não é o resultado da soma dos vários países, mas sim a própria comunhão que existe entre eles, a mútua inclusão que precede o aparecimento de todo o grupo particular. É neste entrelaçamento da comunhão universal que se integra cada grupo humano, e aí encontra a sua beleza. Assim, cada pessoa nascida num determinado contexto sabe que pertence a uma família maior, sem a qual não é possível ter uma compreensão plena de si mesma". Essa abordagem, pontua, "exige, em última análise, que se aceite com alegria que nenhum povo, nenhuma cultura, nenhum indivíduo pode obter tudo de si mesmo. Os outros são, constitutivamente, necessários para a construção duma vida plena. A consciência do limite ou da exiguidade, longe de ser uma ameaça, torna-se a chave segundo a qual sonhar e elaborar um projeto comum. Com efeito, 'o homem é o ser fronteiriço que não tem qualquer fronteira'".
Em que consiste a alegria cristã e como deixá-la transparecer quando o lamento pelas mortes e pelos desastres sociais a ocultam? A alegria da qual nos fala o Papa e a tradição da Igreja foi expressa por Francisco em uma de suas homilias na capela da Casa Santa Marta, em 2018, conforme noticiado pelo Vatican Insider e publicado no sítio do IHU. O significado da alegria cristã, esclarece, nada tem a ver com os "momentos de doce vida". “A alegria não é viver de risada em risada. Não, não é isso. A alegria não é ser divertido. Não, não é isso. É outra coisa. A alegria cristã é a paz. A paz que está nas raízes, a paz do coração, a paz que somente Deus pode dar. Esta é alegria cristã. Não é fácil guardar esta alegria”, reconhece. A alegria, portanto, “não é uma coisa que você compra no mercado”; “é um dom do Espírito”, que vibra “no momento das tribulações, no momento da provação”, acrescenta.
Na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e exultai), publicada em março do mesmo ano, na solenidade de São José, o Papa reconhece a existência de "momentos difíceis e tempos de cruzes", mas incentiva para que "nada" destrua a "alegria sobrenatural, que 'se adapta e transforma, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados'. É uma segurança interior, uma serenidade cheia de esperança que proporciona uma satisfação espiritual incompreensível à luz dos critérios mundanos".
No texto, ele frisa o sentido do humor que acompanha a alegria cristã. "Normalmente a alegria cristã é acompanhada pelo sentido do humor, tão saliente, por exemplo, em São Tomás Moro, São Vicente de Paulo, ou São Filipe Néri. O mau humor não é um sinal de santidade: 'lança fora do teu coração a tristeza' (Qo 11, 10). É tanto o que recebemos do Senhor 'para nosso usufruto' (1 Tm 6, 17), que às vezes a tristeza tem a ver com a ingratidão, com estar tão fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons de Deus", resume.
A alegria cristã também não pode ser comparada àquela que se sustenta no consumo ou no individualismo. "Refiro-me, antes, àquela alegria que se vive em comunhão, que se partilha e comunica, porque 'a felicidade está mais em dar do que em receber' (At 20, 35) e 'Deus ama quem dá com alegria' (2 Cor 9, 7). O amor fraterno multiplica a nossa capacidade de alegria, porque nos torna capazes de rejubilar com o bem dos outros: 'alegrai-vos com os que se alegram' (Rm 12, 15). 'Alegramo-nos quando somos fracos e vós sois fortes' (2 Cor 13, 9). Ao contrário, 'concentrando-nos sobretudo nas nossas próprias necessidades, condenamo-nos a viver com pouca alegria'", diz.
Ao refletir sobre a serenidade e a sobriedade da alegria cristã na Gaudete et Exsultate, Francisco rememora a importância do impulso do Espírito para vencer o desânimo e o medo. "Precisamos do impulso do Espírito para não ser paralisados pelo medo e o calculismo, para não nos habituarmos a caminhar só dentro de confins seguros. Lembremo-nos disto: o que fica fechado acaba cheirando a mofo e criando um ambiente doentio. Quando os apóstolos sentiram a tentação de deixar-se paralisar pelos medos e perigos, juntaram-se a rezar pedindo parresia: 'agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com toda a ousadia' (At 4, 29). E a resposta foi esta: 'tinham acabado de orar, quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos foram cheios do Espírito Santo, começando a anunciar a palavra de Deus com ousadia' (At 4, 31)".
O profeta Jonas é outro exemplo recordado pelo Papa. "À semelhança do profeta Jonas, sempre permanece latente em nós a tentação de fugir para um lugar seguro, que pode ter muitos nomes: individualismo, espiritualismo, confinamento em mundos pequenos, dependência, instalação, repetição de esquemas preestabelecidos, dogmatismo, nostalgia, pessimismo, refúgio nas normas. Talvez nos sintamos relutantes em deixar um território que nos era conhecido e controlável. Todavia as dificuldades podem ser como a tempestade, a baleia, o verme que fez secar o rícino de Jonas, ou o vento e o sol que lhe dardejaram a cabeça; e, tal como para ele, podem ter a função de nos fazer voltar para este Deus que é ternura e nos quer levar a uma itinerância constante e renovadora", pondera.
Na Exortação Apostólica, o Papa também chama a humanidade à santidade, incentivando cada um a ser santo em sua vida particular, tendo como exemplo o próprio Cristo e os santos da Igreja, que foram seu testemunho vivo. "Como nos sugere Santa Teresa Benedita da Cruz, pensemos que é através de muitos deles que se constrói a verdadeira história: 'Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos. Todavia a corrente vivificante da vida mística permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado'", diz. E acrescenta: "Todos somos chamados a ser santos, cada um em sua vida particular, nas pequenas ações do dia a dia. 'Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais'", aconselha.
Ser santo, esclarece o pontífice, não implica ter um "espírito retraído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é 'alegria no Espírito Santo' (Rm 14, 17), porque, 'do amor de caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na união com o amado. (...) Daí que a consequência da caridade seja a alegria'. Recebemos a beleza da sua Palavra e abraçamo-la 'em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo' (1 Ts 1, 6). Se deixarmos que o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida, então poderemos realizar o que pedia São Paulo: 'Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!' (Flp 4, 4)".
O relato pessoal do Papa nesta passagem da Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), publicada no encerramento do Ano da Fé, em novembro de 2013, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, no primeiro ano do seu pontificado, é ilustrativo para compreender o sentido da alegria cristã: "Posso dizer que as alegrias mais belas e espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias de pessoas muito pobres que têm pouco a que se agarrar. Recordo também a alegria genuína daqueles que, mesmo no meio de grandes compromissos profissionais, souberam conservar um coração crente, generoso e simples. De várias maneiras, estas alegrias bebem na fonte do amor maior, que é o de Deus, a nós manifestado em Jesus Cristo".
A mensagem de Francisco, publicada sete anos atrás, é particularmente atual e propõe uma reação frente ao diagnóstico dos especialistas sobre o agravamento da crise psíquica na quarentena: "É salutar recordar-se dos primeiros cristãos e de tantos irmãos ao longo da história que se mantiveram transbordantes de alegria, cheios de coragem, incansáveis no anúncio e capazes de uma grande resistência ativa. Há quem se console, dizendo que hoje é mais difícil; temos, porém, de reconhecer que o contexto do Império Romano não era favorável ao anúncio do Evangelho, nem à luta pela justiça, nem à defesa da dignidade humana. Em cada momento da história, estão presentes a fraqueza humana, a busca doentia de si mesmo, a comodidade egoísta e, enfim, a concupiscência que nos ameaça a todos. Isto está sempre presente, sob uma roupagem ou outra; deriva mais da limitação humana que das circunstâncias. Por isso, não digamos que hoje é mais difícil; é diferente. Em vez disso, aprendamos com os Santos que nos precederam e enfrentaram as dificuldades próprias do seu tempo. Com esta finalidade, proponho-vos que nos detenhamos a recuperar algumas motivações que nos ajudem a imitá-los nos nossos dias".
A alegria simples, genuína, lamenta o Papa emérito, Bento XVI, "tem se tornado muito rara. A alegria está hoje, de certa maneira, cada vez mais carregada de hipóteses morais e ideológicas. (...). O mundo não se converte em algo melhor se fica privado da alegria, o mundo tem necessidade de pessoas que descubram o bem, que sejam capazes, por essa razão, de experimentar alegria, e que, deste modo, recebam também o estímulo e o valor para fazer o bem. (...) Temos necessidade dessa confiança originária que, em última instância, só a fé pode proporcionar: que, em definitivo, o mundo é bom, que Deus existe e é bom. Daqui deriva também a coragem da alegria, que, por sua vez, se converte no compromisso para que os demais possam também se alegrar e receberem a boa notícia”.
Em "Uma alegria diferente" e "Alegria possível", artigos publicados na página eletrônica do IHU em 2018 e 2019, o teólogo espanhol José Antonio Pagola concorda com Francisco e Bento XVI acerca da dificuldade de sustentar a alegria nos dias de hoje. "Não é fácil a alegria. Os momentos de autêntica felicidade parecem pequenos parêntesis no meio de uma existência de onde brotam constantemente a dor, a inquietação e a insatisfação. O mistério da verdadeira alegria é algo estranho para muitos homens e mulheres. Todavia sabem quiçá rir às gargalhadas, mas esqueceram o que é um sorriso alegre, nascido do mais profundo do ser", constata. Além disso, a alegria não é imposta de fora, mas nasce no interior de cada um. "O verdadeiro gozo deve nascer do mais fundo de nós mesmos. Caso contrário, será riso exterior, gargalhada vazia, euforia passageira, mas a alegria ficará fora, à porta do nosso coração", afirma. A alegria de Jesus, de outro lado, é a "de quem dá vida e sabe criar as condições necessárias para que cresça e se desenvolva de forma cada vez mais digna e mais sã. Está aqui um dos ensinamentos-chave do Evangelho. Só é feliz quem faz um mundo mais feliz. Só conhece a alegria quem a sabe oferecer. Só vive quem faz viver", pontua.
Em sua reflexão sobre a alegria no terceiro domingo do Advento, em artigo publicado no sítio do IHU em 2011, o filósofo e sociólogo André Langer distingue a origem do medo e da alegria e, consequentemente, suas potencialidades. "O medo e a alegria não têm a mesma origem, nem produzem os mesmos frutos em nós. Enquanto o medo vem do espírito do mal e deixa o coração do cristão tímido e calculista, a alegria, vinda de Deus, faz explodir em bondade, generosidade, abertura e criatividade. O tempo do Advento é, por isso mesmo, tempo de preparação: preparar o coração para acolher a novidade radical que é o próprio Deus irrompendo no mundo. O que requer de nós uma espera vigilante, uma esperança operosa e uma expectativa ativa. Uma espera que é preparação", afirma.
Entre os personagens que nos encorajam a viver a preparação para o que há de vir com alegria, Langer menciona João Batista, José e especialmente Maria. "Cada um, a seu modo, preparou-se para acolher Jesus. João Batista, através do chamado à conversão e pelo batismo de conversão; José e Maria, renunciando aos seus projetos de vida para se abrirem ao apelo que Deus, através dos anjos, lhes fez. Maria, aplainando o caminho da sua vida, ao final do processo de discernimento e tomada de decisão, exclamou: 'Faça-se em mim segundo a tua vontade' (Lc 1, 38)."
Pagola também recorre à Virgem Santíssima para ilustrar a alegria diante do sofrimento. "Como se pode ser feliz quando há tanto sofrimento na Terra? Como se pode rir quando ainda não estão secas todas as lágrimas e brotam diariamente outras novas? Como aproveitar quando dois terços da humanidade estão afundados na fome, miséria ou guerra? A alegria de Maria é a alegria de uma mulher crente que se alegra em Deus, Salvador, o que eleva os humilhados e dispersa os soberbos, o que colma de bens os famintos e dispensa o rico vazio. A alegria verdadeira só é possível no coração do que anseia e busca justiça, liberdade e fraternidade para todos. Maria alegra-se em Deus, porque vem consumar a esperança dos abandonados. Só se pode ser alegre em comunhão com os que sofrem e em solidariedade com os que choram. Só tem direito à alegria quem luta para torná-la possível entre os humilhados. Só pode ser feliz quem se esforça por fazer felizes os outros. Só pode celebrar o Natal quem procura sinceramente o nascimento de um novo homem entre nós", diz.
No dia de hoje, 12 de dezembro, a Igreja celebra a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina, que apareceu ao índio Juan Diego na colina de Tepeyac, perto da capital do México, em 1531. Que o significado e simbolismo desta data seja um convite para encontrarmos a alegria simples e genuína de Maria, ao dizer "sim" à vontade de Deus, enquanto aguardamos o que há de vir.