25 Julho 2020
O livro “La gioia di seguirti. Lettura meditata della lettera ai Filippesi” [A alegria de seguir-te. Leitura meditada da carta aos Filipenses] é um texto de grande humanidade, sabedoria e fé concreta. Eu gostei muito dele. Dá serenidade à alma e encorajamento no caminho da vida cristã, oferecendo inúmeras intuições para um sadio equilíbrio humano e cristão.
O comentário é de Roberto Mela, professor da Faculdade Teológica da Sicília, em artigo publicado por Settimana News, 24-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Renzo Mandirola. La gioia di seguirti.
Lettura meditata della lettera ai Filippesi.
Bolonha: EDB, 2020, 296 páginas.
Formado em Teologia Bíblica, Renzo Mandirola é sacerdote da Sociedade das Missões Africanas e desempenhou o seu apostolado na África, assumindo vários papéis de responsabilidade dentro do seu instituto. Esse fato explica a concretude e a desarmante simplicidade da sua linguagem, das suas análises e das suas sugestões de vida espiritual.
A serenidade do texto de Mandirola também deriva da carta paulina comentada. Escrita em meados dos anos 50, provavelmente a partir da prisão de Éfeso, para a amada comunidade de Filipos, a carta é imbuída – paradoxalmente – de uma linguagem que convida continuamente à alegria. Ela deriva da sólida fé de Paulo em Jesus Cristo, da sua força e esperança, único Lebensraum, espaço votivo em que ele respira, se move, trabalha, evangeliza, ama e é amado.
Na sua proposta de lectio divina de Filipenses, Mandirola subdivide o texto bíblico em 12 pequenos capítulos, articulando-os em uma oração inicial, o texto bíblico relatado na íntegra e depois comentado quase versículo a versículo (Lectio), seguindo-se uma série de reflexões articuladas de modo extremamente didático e voltadas a serem aplicadas à vida pessoal, familiar, social e eclesial, encontradas no texto paulino (Meditatio). Os vários capítulos se concluem com uma Oratio, que expressa em oração os principais temas da perícope e algumas perguntas “Para a reflexão”.
Com esse livro, Mandirola sugere na prática um curso de exercícios espirituais muito concretos.
Na Carta aos Filipenses, o autor identifica uma possível espinha dorsal teológico-espiritual: o dever de fazer memória (1,1-11); anunciar o Evangelho (1,12-20); Cristo, nossa vida (1,21-26), a coragem de ser cristão (1,27-30); a serviço da comunhão (2,1-4); um exemplo a se imitar (2,5-11); compromisso pela salvação (1.12-18); a importância da amizade (2,19-30); escolher o essencial (3,1-11), permanecer na corrida (3,12-21), perseverar na alegria (4,1-9); Cristo nos basta (4,10-23).
Na Meditatio, Mandirola atualiza os temas bíblico-teológicos escolhidos, aplicando-os à vida pessoal do leitor. Saber se colocar diante de Deus, dando graças na oração compartilhada, se soma à constatação de que toda oportunidade é boa para proclamar o Evangelho, sabendo que Deus também sabe tirar o bem do mal.
Viver envolve escolher, colocando Cristo no centro e tendo em mente o serviço como teste decisivo da qualidade da própria vida. Nada de vanglória, nada de falsa humildade, mas sim alegria de uma vida da qual ninguém possa se envergonhar. Cristãos com os pés no chão, firmes, privilegiando sempre a unidade como bem supremo, lutando juntos pela fé, sabendo que a vida cristã também é uma luta.
No comportamento dos discípulos de Jesus – e em particular daqueles que têm um cargo específico de serviço na comunidade cristã – deve-se evitar a rivalidade; em vez disso, deve-se buscar o seguimento de Cristo no seu desafio da encarnação, vivendo como Cristo: unir os joelhos dobrados e as costas eretas. Presentes no mundo. Comprometidos com a salvação, vivendo a diferença cristã.
Na vida, são importantes a alegria, a serenidade, o conforto que vem da amizade oferecida e recebida, o fato de poder contar com amigos de verdade. Isso ajuda a escolher Cristo todos os dias, a conhecê-lo intimamente, relativizando o passado, tendendo ao futuro, inspirando-se na cruz de Cristo.
Dar-se bem com todos, cuidar profundamente das relações humanas e aumentar a qualidade de vida é a tradução essencial socioeclesial da vida trazida e compartilhada por Cristo com os seus discípulos. Cristo nos basta.
Na alegria serena, carregando os fardos uns dos outros, pode-se aceitar o desafio da paradoxal alegria cristã, não a achando impossível, mas, pelo contrário, como um elemento indispensável típico do caminho dos discípulos de Jesus imersos na vida cotidiana dos homens e mulheres.
As notas do texto são pontilhadas de inúmeras citações da Evangelii gaudium do Papa Francisco, além de trechos de testemunho de Martini, Bonhöffer, Francisco de Sales e outros filósofos e pensadores do passado e do presente.
Na Lectio, Mandirola relata os termos mais importantes em transliteração com acentos – com as inevitáveis imperfeições –, sugere interpretações bíblicas totalmente compartilhadas por mim e propõe quase uma dezena de traduções alternativas à Bíblia de 2008 da Conferência Episcopal Italiana que são totalmente compartilháveis.
A linguagem é plana, caracterizada pela inspiração pastoral de quem gastou – com alegria! – a vida no anúncio do Evangelho na África. Um grande valor agregado.
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O desafio da alegria cristã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU