23 Novembro 2020
A Conferência dos Bispos Católicos dos EUA mais uma vez demonstrou o quão irrelevante se tornou para a nação.
O comentário é de Robert Mickens, publicado por La Croix, 21-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A maioria dos católicos ao redor do mundo provavelmente não sabem o nome dos seus bispos locais.
E pouquíssimos saberiam dizer quem é o presidente da conferência episcopal dos seus países.
Isso provavelmente não é algo ruim.
Como os eventos recentes demonstraram, os católicos provavelmente não estão perdendo muito por não conhecer ou não ter um grande contato com esses homens da Igreja que chamam a si mesmos de pastores.
“Vejam, eu estou contra os pastores”, disse o Senhor no livro do Profeta Ezequiel.
“Vou me colocar contra os pastores. Vou pedir contas a eles sobre o meu rebanho, e não deixarei mais que eles cuidem do meu rebanho. Desse modo, os pastores não ficarão mais cuidando de si mesmos. Eu arrancarei minhas ovelhas da boca deles, e elas não servirão mais de pasto para eles” (Ez 34, 10).
A propósito, a primeira leitura para esse final de semana, a solenidade de Cristo Rei, é tirada do mesmo capítulo de Ezequiel – mas não inclui o versículo anterior.
Em vez disso, começa diretamente com: “Assim diz o Senhor Deus: “Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas”.
Entre outras coisas, “o Senhor promete enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente”, algo que os pastores não fazem.
Essa missão de cura é algo que Jesus confia aos doze apóstolos.
“E ele os enviou para proclamar o Reino de Deus e curar” (Lc 9, 2).
Os bispos da Igreja Católica colocam uma grande ênfase no fato de que eles são os sucessores de direito dos apóstolos.
Embora esses dos Estados Unidos – ao menos enquanto conferência nacional (USCCB) – parecem ter esquecido que eles tem o dever de curar. E não somente física ou espiritualmente os indivíduos, mas também as fraturas e divisões dentro das suas comunidades.
Que incluiriam as profundas e perigosas tensões políticas e sociais com sua nação, as quais estão refletindo dentro da Igreja, como eu escrevi recentemente.
Muitos dos bispos dos Estados Unidos orgulham-se de levantar a voz profética contra o mal e os demônios da contemporaneidade.
Esses “guerreiros culturais” pensam que são algum tipo de mártires brancos para a fé porque sofrem desprezo por trabalharem, pela eliminação do aborto, sua “prioridade preeminente”.
Eles têm pautado essa questão como lobistas políticos mais que como líderes espirituais. Eles trabalham para retirar a lei do aborto, precisamente porque eles carecem de liderança moral e credibilidade para convencer uma mulher de não fazer aborto.
Eles não possuem hoje o reconhecimento da autoridade dos verdadeiros pastores ou de sucessores dos apóstolos, então eles pulam na cama com qualquer um – mesmo um sociopata como Donald Trump – para ter o poder deste mundo para fazer o que eles são muito incompetentes e espiritualmente preguiçosos para realizar.
Eles não podem conquistar os corações e mentes de seu próprio povo, então eles vendem suas almas a um vigarista e justificam isso como a melhor maneira de alcançar sua “prioridade preeminente”.
A USCCB esqueceu que a prioridade preeminente dos bispos é aquela ordenada pelo Evangelho – pregar o Reino de Deus e curar.
E depois das recentes eleições presidenciais e para o Congresso, os Estados Unidos precisam desesperadamente de cura.
O presidente eleito Joe Biden, apenas o segundo católico a ser eleito para o cargo mais alto do país, está obviamente mais ciente disso do que os bispos.
Não apenas a maioria deles tem demorado a reconhecer publicamente que ele derrotou Trump, mas alguns deles também continuam a apoiar as afirmações ultrajantes do atual presidente de que a campanha de Biden roubou a eleição.
Como um corpo nacional, os bispos dos EUA não têm liderança e suas opiniões são irrelevantes para a vida da vasta maioria dos estadunidenses – incluindo os membros de sua própria Igreja.
Somente quem é rico ou tem influência nos corredores de Washington está sintonizado com as futilidades que vêm da USCCB, porque esses mediadores de poder estão, na verdade, usando os bispos como instrumentos de sua própria agenda ideológica.
Parece que nenhum bispo fez um apelo na recente assembleia virtual da USCCB para discutir o que eles como um corpo, ou a Igreja como uma comunidade, poderiam fazer para desempenhar um papel de liderança na ajuda à cura da nação.
A conferência é famosa por estabelecer comitês. Mas ninguém sugeriu que alguém olhasse como curar seu país ferido e profundamente dividido.
Em vez disso, eles acharam mais urgente formar um grupo de trabalho para prepará-los para a batalha com Biden sobre pontos de desacordo.
“Quando os políticos que professam a fé católica apoiam [o direito ao aborto], há problemas adicionais”, disse o presidente da conferência, o arcebispo de Los Angeles, José Gomez.
“Entre outras coisas, cria confusão entre os fiéis sobre o que a Igreja Católica realmente ensina sobre essas questões”, disse ele.
Como outros já disseram, os católicos nos Estados Unidos não se confundem com o ensino da Igreja. Eles apenas discordam de parte ou de tudo!
Na semana passada se teve uma oportunidade para os bispos dos Estados Unidos encerrarem sua política partidária flagrante e colocar temporariamente de lado sua fixação fanática pelo aborto.
Eles adoram se exibir como defensores da vida. Mas eles não têm coragem nem capacidade – nem mesmo previsão – para considerar como sua conferência pode ajudar os Estados Unidos a saírem da espiral de emergência nacional.
Porque se as divisões profundas e odiosas não forem curadas, é para lá que o país se dirige.
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Os Estados Unidos estão em desesperada necessidade de cura, mas não olham para os bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU