09 Outubro 2020
"À parte aqueles claramente opostos a essa visão e vocalmente mais ativos, a maioria dos outros bispos (formalmente a favor de Francisco) silenciosamente apagaram todo impulso possível ao não fazer nada e deixando que as coisas continuassem exatamente como eram antes de Bergoglio no nível de Igreja local. Nesse ínterim, perdemos irremediavelmente a geração que deveria ter garantido um futuro para as nossas Igrejas: os jovens", escreve Marcello Neri, teólogo, padre italiano e professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado por Settimana News, 08-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Aparece um pouco em toda parte o ressentimento dos "esperançosos" em relação a Francisco, culpado – assim a notícia que circula na mídia – de ter suscitado muitas esperanças, de fato, de início de seu pontificado e posteriormente tê-las decepcionado em seu desenvolvimento. O juízo: ele não passará à história como o papa das reformas da Igreja, mas como aquele que não cumpriu a promessa.
A esse juízo cortante opõe-se, pelo menos, o fato de Francisco ser o papa do pós-Concílio que gerou a oposição mais agressiva por parte daqueles que não querem nenhuma reforma da Igreja, aliás, gostariam de levá-la para trás em sua história. Ele forçou tal oposição a "protestantizar-se", onde não havia outra arma senão declarar o papa reinante mais ou menos herético.
É difícil gerar esse tipo de reação sem fazer nada em vista de uma transformação da Igreja Católica, no sentido de sua adesão mais fiel ao Evangelho. Algo mudou, ainda que seja a possibilidade de respirar na Igreja e poder caminhar para a sua forma pastoral e institucional fiel à história em que vive – que é a declinação adequada da sua adesão à destinação evangélica que lhe compete. Eu diria que isso também é um fato, se apenas pensarmos no clima que se respirava com João Paulo II e Bento XVI.
Com todas as limitações de Francisco, agora na Igreja se pode viver – mesmo aqueles que não pensam como ele e não estão de forma alguma com ele. Sinceramente, não me parece algo totalmente irrelevante. Não só isso, hoje na Igreja abriram-se espaços para a sua reconfiguração que nunca teríamos imaginado com os seus antecessores. Quanto temos utilizado esses espaços levando em consideração a atual condição da Igreja, ou seja, não apenas nosso desejo pessoal de reforma, nos últimos anos?
Certamente o homem não é perfeito, cometeu seus erros (inclusive reconhecendo-os), também tem um caráter nada fácil – nenhum problema em reconhecer tudo isso; mas também é preciso reconhecer a ele que não encontrou apoio adequado no pessoal episcopal católico (com as devidas exceções, que no entanto falam justamente de uma cumplicidade biográfica e não estrutural com sua visão da Igreja).
À parte aqueles claramente opostos a essa visão e vocalmente mais ativos, a maioria dos outros bispos (formalmente a favor de Francisco) silenciosamente apagaram todo impulso possível ao não fazer nada e deixando que as coisas continuassem exatamente como eram antes de Bergoglio no nível de Igreja local. Nesse ínterim, perdemos irremediavelmente a geração que deveria ter garantido um futuro para as nossas Igrejas: os jovens. Perante o fato de que eles já não estão mais lá onde estão as estruturas habituais das comunidades cristãs, nada inventamos para trazer estas últimas para onde vivem os jovens do nosso tempo. É difícil torná-los apaixonados pelo Evangelho de Jesus se quase nunca os encontramos. É muito cômodo esperar que eles entrem no recinto seguro de nossos hábitos um tanto bolorentos para introduzi-los à familiaridade com o Deus de Jesus – e de qualquer maneira, seria uma espera em vão.
Agora, até os idosos sabe-tudo do catolicismo diante de Francisco se adaptaram ao espírito do tempo: criticar Francisco não significa ser contra ele – diz o card. Ruini em uma entrevista, quando ele jamais tolerou tal atitude no tempo de seu império sobre a Igreja italiana. À classe católica que se sente representada por essa afirmação, esperamos mostrar como são com ele. Aos outros, que parem de reclamar e aproveitem cada mínima fissura aberta por Francisco para imaginar uma Igreja aderente ao Evangelho – nada garante que teremos outra oportunidade.
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A favor de Francisco. Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU