11 Setembro 2020
"Após a extensa escuta territorial que nós como REPAM conduzimos, percebemos que a necessidade explícita do povo no território era de um processo, uma presença relevante, credível, fraterna, próxima e comprometida da Igreja com fatos, e que isso implicava um caminho de discernimento ministerial, de aprofundamento dos ministérios existentes, de reconhecimento daqueles serviços eclesiais que já estavam dando vida na Amazônia", escreve Mauricio López Oropeza, secretário-executivo da REPAM, em artigo publicado por Vida Nueva Digital, 09-09-2020. A tradução é de Luis Miguel Modino.
A incapacidade de ambos os polos em tensão durante o Sínodo Amazônico, em questões processuais complexas como a ordenação de homens casados, tirou das mãos do Papa a possibilidade de dar um passo à frente em termos de reformas mais explícitas sobre isto, que precisavam de um verdadeiro e profundo discernimento orante.
A nota que Antonio Spadaro publicou em La Civilittà Cattolica, e o que tem a ver com o processo do sínodo e por que o Papa não pôde ir adiante com este processo, também está relacionada com todo o caminho preparatório do sínodo.
Em várias ocasiões, após a extensa escuta territorial que nós como REPAM conduzimos, percebemos que a necessidade explícita do povo no território era de um processo, uma presença relevante, credível, fraterna, próxima e comprometida da Igreja com fatos, e que isso implicava um caminho de discernimento ministerial, de aprofundamento dos ministérios existentes, de reconhecimento daqueles serviços eclesiais que já estavam dando vida na Amazônia.
Entretanto, algumas posições muito valiosas, mas ideológicas, quiseram impor um ritmo a uma mudança específica no tema da ministerialidade, no ministério ordenado, nos padres casados, que não era percebida como algo que já estava pronto ou maduro.
A riqueza de um discernimento tem a ver com a identificação dos sinais dos tempos e a oração por eles, a fim de avançar gradualmente e responder em um sentido de integridade, fraternidade, consenso, e isso foi sentido como se estivesse faltando. De fato, é importante convocar uma verdadeira autoavaliação. Em várias ocasiões dissemos isto e também recebemos reações contrárias de rejeição. Propusemos que fizéssemos uma autoavaliação sobre nossa própria incapacidade de discernir mais finamente sobre os tempos atuais, lugares e pessoas na Amazônia e no processo de reforma da Igreja, e perceber que tornamos o processo mais frágil ao torná-lo um elemento ideológico da luta de contrários.
Os grupos mais conservadores da Igreja foram fortalecidos quando este processo se tornou ideológico e perdeu o senso de discernimento. Deve-se ressaltar claramente que o Sínodo dos Bispos é um instrumento de consulta do Papa. A Episcopalis Communio, como Constituição Apostólica da Igreja, levanta a necessidade de um consenso moral para que o Papa possa tomar estes elementos de um discernimento fino, profundo e poderoso e empreender mudanças fundamentais. Como disse o Papa, não é um elemento de assembleia, não é um parlamento; e nesta questão, como em outras, sentiu-se que o senso de discernimento orante estava sendo quebrado em uma luta de opostos.
Os temas são necessários, urgentes; eles clamam por uma necessidade de mudança na realidade, mas a questão é: qual é o processo discernido à luz do Espírito para dar os passos viáveis, os passos possíveis, e para ir em direção ao mesmo destino? Penso que esta é uma lição muito grande. Quando Spadaro entrevistou o Bispo de Roma em outro momento, ele disse que o Papa quer conduzir a Igreja a um processo de exercícios espirituais. E neste caso específico, no Sínodo Pan-Amazônico, percebemos que era necessário purificar a intenção e compreender que não se tratava de impor uma ideia, nem uma visão particular, auto-referencial, por mais valiosa e necessária que fosse, mas de contribuir com esse consenso moral para que o Papa tivesse todos os elementos e desse um passo adiante.
É realmente muito significativo ler estas palavras do que o Papa discutiu com Antonio Spadaro, porque ele nos deixa muitas lições e, ao mesmo tempo, confirma a noção de kairos. O kairos é um tempo propício, um tempo de Deus, que neste caso está ligado a uma caminhada de quase 60 anos com o Concílio Vaticano II, e não se resolve em um elemento de um evento eclesial ou em um momento particular. A questão é como continuar semeando essas sementes de conversão em um momento de kairos, mesmo que nós mesmos não vejamos os resultados e frutos que pensamos, sentimos e experimentamos que o Senhor está nos chamando. É um processo que nos ultrapassa, e que nos faz sentir humildes, simples e em uma contribuição para um processo maior, que é muito saudável porque purifica a intenção.
A Igreja não é uma ONG, é uma presença de Deus no meio da realidade que quer acompanhar os grandes processos de mudança. Pode parecer-nos lento, em certo sentido por causa de nossa urgência de mudança, mas este tempo favorável garantirá que quando ocorrer - porque esta mudança no ministério, nos padres casados, ocorrerá - será de forma sustentada e sólida, que se projeta ao longo do tempo e não se torna um elemento de luta, que quando vier uma mudança no governo ou na liderança da Igreja, então ela poderá ser retirada; mas que será algo orgânico, de dentro, do Espírito e do discernimento orante.
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Discernir a Conversão à luz do Sínodo Amazônico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU