02 Setembro 2020
"Pedro Casaldaliga partiu, tendo seu corpo apenas com uma estola feita por amigos da Nicarágua, os pés descalços e foi enterrado no cemitério, às margens do Araguaia entre um peão e uma prostituta, sem qualquer sinal de poder, como ele sempre viveu, revivendo a Cristo que também assim retornou ao Pai", escreve José Afonso de Oliveira, professor aposentado da UNIOESTE.
Deixou a vida para estar junto de Deus eternamente o nosso querido amigo Pedro Casaldaliga, bispo de São Felix do Araguaia, muito mais do que tudo isso um pastor que envolveu a sua própria vida na totalidade de lutar por todos aqueles que lhe foram confiados pela Igreja.
Em 1971, às margens do Araguaia, a céu aberto em noite linda e estrelada, Pedro Casaldaliga era sagrado bispo, recebendo os seus símbolos, um chapéu de palha como mitra, um remo como báculo e um anel de tucum. O Evangelho lindo e comentado naquela solenidade era do bom vaqueiro, que cuida de suas ovelhas, clara referência a Cristo e a Pedro Casaldaliga seu servidor.
Pedro sempre foi um homem de Deus, vivenciando o Evangelho em sua integralidade, colocando em prática tudo aquilo que foi preconizado pelo Concílio Ecumênico Vaticano II e, mais do que isso, pelo Pacto das Catacumbas com alguns padres conciliares liderados por Dom Helder Câmara que iniciavam ali uma nova forma de ser Igreja a qual Pedro, não estando presente, viveu com toda intensidade todo esse gesto profético.
Pedro foi um homem da Igreja e jamais do poder. Nunca teve qualquer ideia, ação de, como bispo, utilizar símbolos do poder eclesiástico, viver distante do seu povo, andar longe dos andares do povo.
Sempre rodeado pelos pobres de sua área de atuação, o seu ministério episcopal surgiu com um grito contra a exploração, através de sua primeira carta pastoral e, nesse sentido, uma visão de futuro pois que denunciava a exploração existente em toda a Amazônia onde estava a sua área de atuação.
Trabalhou com intensidade e grande dinamismo sendo um dos fundadores do Comissão Pastoral da Terra – CPT – órgão ligado à CNBB e também ao Conselho Indigenista Missionário – CIMI – também ligado a CNBB, tanto um quanto o outro prestam um serviço relevante de denuncia de abusos, crimes e, mais do que isso, orientam todo um trabalho nessas áreas das periferias, no dizer do papa Francisco, de alto significado e importância.
Grande homem de sensibilidade poética, considerado um dos nomes modernos da poesia da língua espanhola, Pedro extravasava seus sentimentos através do lirismo poético, de forma muito refinada de bem trabalhada.
Homem do nosso mundo e deste tempo que estamos vivendo, conturbado e espetacular, tempo de uma grande transição onde o ser humano deve voltar a ocupar a centralidade da vida em sociedade.
Acometido de mal de Parkinson Pedro teve, ao final da vida, momentos de intensa dor, ficando praticamente incomunicável, mas muito atento a tudo o que está acontecendo neste momento no Brasil e em toda a região amazônica.
Podemos dizer que o Sínodo da Amazônia teve nele um grande modelo que, tempos anteriores já denunciava toda uma forma de ocupação predatória e de marginalidade social muito forte e intensa.
Pedro Casaldaliga partiu, tendo seu corpo apenas com uma estola feita por amigos da Nicarágua, os pés descalços e foi enterrado no cemitério, às margens do Araguaia entre um peão e uma prostituta, sem qualquer sinal de poder, como ele sempre viveu, revivendo a Cristo que também assim retornou ao Pai.
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Pedro do Araguaia, o pastor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU