13 Agosto 2020
Ritual ocorreu no Cemitério Karajá, área onde eram sepultados indígenas e trabalhadores sem terra explorados.
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 12-08-2020.
O sepultamento de Dom Pedro Casaldáliga ocorreu na manhã desta quarta-feira (12), no Cemitério Iny (Karajá) à beira do Rio Araguaia, em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. O velório e o enterro foram acompanhados de muita simplicidade, serenidade e gratidão, que condizem com a trajetória do bispo.
“Nós viemos para essa celebração muito emocionados, e a celebração também foi emocionante. Pedro sempre quis ser enterrado na beira do Araguaia, de baixo de pé de pequi, no Cemitério dos Karajá. E a gente queria ver esse desejo dele cumprido”, afirma Frei Paulinho.
De fato, foi Casaldáliga quem pediu para ser enterrado no “Cemitério Karajá”, como é chamada na região a área onde eram sepultados indígenas e trabalhadores sem terra que foram explorados e, muitas vezes, assassinados pelos grileiros da região.
Durante o velório, que começou às 18h desta terça-feira (11), indígenas karajá realizaram uma homenagem ao bispo, seguida pelo sepultamento. Segundo Telma Araújo, amiga do bispo, esse foi um dos momentos mais emocionantes da cerimônia.
“Eu achei que foi uma cerimônia muito simples, muito a cara do Pedro. Respeitaram o que o Pedro sempre quis. Um momento que eu achei muito alto a homenagem que os índios karajá fizeram a Pedro em gratidão, e também o destaque que tiveram os cuidadores e as pessoas que a vida toda trabalharam com o Pedro. A sensação foi de muita gratidão, alegria e compromisso, principalmente, com as causas do Pedro”, afirma Araújo.
Gilberto Carvalho, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, destacou o quão emocionante foi a cerimônia. “Eu vim cumprir uma missão, além de representar o ex-presidente Lula, uma missão pessoal de gratidão, reconhecimento e, sobretudo, de pedido de forças ao Pedro, nesse momento tão difícil que nós estamos atravessando”.
Da mesma maneira, Sara Piovani Braga, de 16 anos, também chama a atenção para o reconhecimento da trajetória do bispo. E lembra: “uma das coisas de Dom Pedro que eu acho que a juventude deveria levar é humildade e amor ao próximo”.
Casaldáliga morreu no último sábado (8), em Batatais, interior de São Paulo, onde estava internado desde o dia 4 de agosto para cuidar de um derrame pulmonar. O religioso convivia com o mal de Parkinson, que contribuiu para o agravamento de seu estado de saúde. Com a saúde fragilizada, o religioso respirava por aparelhos e recebia alimentação por uma sonda.
Sua morte gerou profunda comoção e manifestação de diversas personalidades, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se manifestou nas redes sociais. “Nossa terra, nosso povo perde hoje um grande defensor e exemplo de vida generosa na luta por um mundo melhor, que nos fará muita falta.
Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile também lastimou a morte do religioso. “Me sinto privilegiado por ter sido amigo do grande Dom Pedro Casaldáliga, um profeta e um personagem da história do Brasil que viveu coerentemente com as suas ideias e vivenciou o evangelho de sua forma. Dom Pedro esteve sempre comprometido com os trabalhadores, o povo, os indígenas, os sem terra, os quilombolas e quis viver como eles. Acima de tudo, nos ajudou a pensar a América Latina."
Um dos expoentes da Teologia da Libertação, assim como Casaldáliga, Leonardo Boff lamentou a perda do amigo. “Foi um grande pastor, que leva os seus fiéis para as paisagens verdejantes, participando de sua dor e de suas alegrias. É um profeta, que denuncia o latifúndio e anuncia a boa nova de Jesus, mas é um poeta, um poeta da altura de São João da Cruz. Pastor, profeta, poeta e um santo que nos recorda as virtudes do evangelho, da simplicidade e da paixão incondicional.”
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Sepultamento de Dom Pedro Casaldáliga é marcado por emoção e homenagens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU