24 Agosto 2020
Com a maldade, fazem-se bons negócios no mercado da credulidade popular. E somos especialistas nisso na Itália. Estilo simpático, insidiosa, de aspecto machão desleixado, pronta para camuflar as infâmias que profere como piadas – porque agora o perfil hitleriano-mussoliniano atrai apenas os fanáticos –, e você encontrará imediatamente alguém que lhe oferecerá um pedestal para as suas ofertas especiais.
A reportagem é de Gad Lerner, publicada por Il Fatto Quotidiano, 21-08-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Steve Bannon é um charlatão que conseguiu arrecadar 25 milhões de dólares com a venda online de tijolinhos da maldade: 330.000 pessoas caíram nessa. “We build the wall” [Nós construímos o muro]: abram as carteiras que nós cuidaremos da construção do muro de fronteira. Para afastar os imigrantes do México que, na campanha eleitoral, Donald Trump definia como “ladrões, traficantes e estupradores”, incentivado pelo próprio Bannon.
E ele prometia, além disso, que esse muro seria financiado com o dinheiro deles, dos mexicanos. Porque esse é, desde os tempos dos nazistas e dos judeus, o truque dos maus encantadores do povo: convencê-los de que é ele, o povo de bem, a vítima que agora finalmente pode se rebelar graças aos homens determinados que se colocaram à sua frente.
Hoje sabemos que Trump, tendo se tornado presidente, não conseguiu que as suas vítimas pagassem o muro mexicano. E então Bannon, dispensado e desapontado, decidiu seguir sozinho com o crowdfunding.
Naturalmente, Bannon e os seus camaradas juravam que nenhum centavo dessa coleta acabaria nos seus bolsos. Mas, para não cair nessa, bastava acompanhá-lo nas suas viagens de jato particular entre os Estados Unidos e a Europa, documentados no filme “The Brink”, de Alison Klaymane, que o próprio Bannon quis, convencido de que beneficiaria o seu prestígio.
Esse é o calcanhar de Aquiles dos charlatães populistas: a sua sobrevivência precisa de uma contínua exibição exagerada. Tendo caído na desgraça no círculo íntimo de Trump, depois de apoiar descaradamente a violência dos supremacistas do Right Rally em Charlottesville, em 2017, Bannon teve que encenar diretamente a sua comédia de grande teórico do populismo mundial. Ele não tinha nenhum dos instrumentos culturais para isso e os compensava com a physique du rôle.
O blefe foi mais do que suficiente para conquistar a plateia provinciana da Itália. Dentre as credenciais que levaram Marcello Foa à presidência da Rai, sublinha-se a confiança com Steve Bannon. Salvini e Meloni competiram para se mostrar ao seu lado, quando ele fundava um improvável “O Movimento” e oferecia (naturalmente em troca de altas taxas) a sua consultoria aos piores movimentos extremistas da direita europeia.
Até um mosteiro de origens medievais em Ciociaria, a Cartuxa de Trisulti, foi-lhe concedida como sede de um igualmente improvável “Instituto Dignitas Humanae”. Bannon não carece de imaginação para as siglas. Sabe-se lá quais outras ele encontrarão atrás das grades em Nova York.
À espera de que os charlatães e as charlatãs italianos tuítem a sua solidariedade militante a seu guru Bannon, talvez denunciando a “justiça cronometrada” da qual ele seria vítima, é interessante sublinhar como, mais uma vez, os imigrantes são confirmados como o ingrediente mais lucrativo para esses traficantes de identidades manipuladas. Ateus que fingem ser religiosos. Patriotas que desprezam a história nacional. Fascistas sem a coragem de admitir isso.
O que os une é a conveniência de maltratar os imigrantes. De zombar dos seus sofrimentos. De jogá-los em um gueto para depois descrevê-los como contagiados de Covid-19. De boicotar aqueles que se preocupam em resgatá-los no mar. É sempre possível lucrar com isso.
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Steve Bannon, o charlatão que inspirava a direita - Instituto Humanitas Unisinos - IHU