04 Março 2020
O Brasil, especialmente na região amazônica, tem se tornado um lugar onde defender os direitos é se colocar em risco. Os ataques se sucedem, também contra aqueles que fazem parte das pastorais sociais da Igreja católica. Num desses episódios, a semana passada foram atacados os padres Dennis Koltz e Sisto Magro, da Comissão Pastoral da Terra – CPT, no Amapá. Eles foram vítimas do ataque de um fazendeiro de soja, Mário Junior Rocha, na área de Campina do São Benedito, Pacuí. Ele é mais um dos muitos fazendeiros que tem invadido o estado, provocando desmatamento e grilagem de terras públicas.
Padre Sisto Magro (esquerda) e padre Dennis Koltz (direita). (Foto: Marco Antônio P. Costa | SN)
Dentro das atividades da CPT está a defesa dos direitos humanos e o registro de conflitos agrários. O ataque aconteceu no momento em que fotografavam uma placa de licenciamento para desmatamento de uma fazenda para averiguar a legalidade e validade, que foi descoberta estar vencida desde agosto de 2019. Alem dos socos, foram ameaçados de morte e bateram propositalmente no seu carro, que se encontrava parado.
Diversos organismos, pastorais, bispos e padres tem manifestado seu apoio nos últimos dias. Dentre eles, um grupo de padres de todas as regiões do Brasil, que acompanham diversas pastorais sociais e as CEBs, denominados Padres da Caminhada, tem enviado uma nota de apoio, assinada também por alguns bispos. A nota, na linha de outras enviadas para os padres agredidos, destaca que “os que buscam seguir de perto Jesus e assumem tal missão evangelizadora junto aos empobrecidos, na luta pelos direitos à terra, ao trabalho, ao pão e à moradia também sofrem ameaças, perseguições e violência em seus corpos”.
Como padres que participam de processos de evangelização similares aos realizados pelos padres Dennis Koltz e Sisto Magro, a nota afirma que “nós não devemos nos conformar aos projetos dos poderosos deste mundo, nem mesmo ficar indiferentes à situação vivida por grande parte de nosso povo”. Diante da realidade que o Brasil vive atualmente, que a nota denomina como “tempos sombrios”, que tem como consequência que “a violência aumenta cada vez mais para com os mais frágeis e contra os povos tradicionais”, eles destacam que existem “irmãos corajosos e com forte espírito evangélico que se comprometem com os mais pobres”.
A nota, que narra os fatos acontecidos, enfatiza a solidariedade fraterna e as preces para com quem vive desde o “compromisso com o Evangelho de Jesus Cristo e no serviço aos irmãos e irmãs nestas terras do Amapá, e em toda a nossa “Querida Amazônia””.
A nota foi enviada por Luis Miguel Modino.
“Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar o Evangelho aos pobres: enviou-me para proclamar a liberdade aos presos e, aos cegos, a visão; para pôr em liberdade os oprimidos e proclamar um ano do agrado do Senhor’. Então, começou a dizer-lhes: ‘Hoje cumpriu-se esta palavra da Escritura que acabais de ouvir’.” (Lc 4,17-19.21)
Nesta narrativa presente no Evangelho de Lucas encontramos o programa da ação de Jesus e que é fundamento para nossa missão como presbíteros da Igreja, continuadores da missão de Jesus. Lembra-nos ainda esta narrativa que a Boa Notícia é dirigida aos pobres. Alguns presentes aprovam enquanto outros ficam em dúvida. Porém, há os que rejeitam o programa de Jesus. A Boa Notícia para os pobres significa uma má notícia aos ricos e poderosos. A violência contra Jesus surge pelo fechamento à partilha do poder, dos bens da criação e da vida. Aqueles que vivem às custas dos pobres se enfureceram com Jesus, chegando ao ponto de querer jogá-lo no abismo.
Os que buscam seguir de perto Jesus e assumem tal missão evangelizadora junto aos empobrecidos, na luta pelos direitos à terra, ao trabalho, ao pão e à moradia também sofrem ameaças, perseguições e violência em seus corpos. Os continuadores da missão de Jesus, nós não devemos nos conformar aos projetos dos poderosos deste mundo, nem mesmo ficar indiferentes à situação vivida por grande parte de nosso povo. É nosso dever e missão estar juntos ao povo santo de Deus e “buscar o Reino de Deus e a sua justiça” (cf. Mt 6,33). Nosso desafio se torna ainda maior nestes tempos sombrios pelo quais estamos passando. A violência aumenta cada vez mais para com os mais frágeis e contra os povos tradicionais. Mas ainda encontramos irmãos corajosos e com forte espírito evangélico que se comprometem com os mais pobres.
Por isso, queremos aqui manifestar a nossa solidariedade e apoio aos dois irmãos que foram impedidos de cumprir sua missão profética junto à CPT (Comissão Pastoral da Terra) de Amapá. Os padres Dennis Koltz e Sisto Magro foram agredidos na terça-feira, dia 25 de fevereiro, por um fazendeiro de soja na área de Campina do São Benedito, Pacuí. Os dois padres têm uma missão importante na defesa de direitos humanos e atuam no registro de conflitos agrários para a publicação anual do Caderno da CPT, como todos conhecemos. Eles estavam fotografando uma placa de licenciamento para desmatamento de uma fazenda para averiguar a legalidade e validade, que por sinal está vencida desde agosto de 2019! Neste momento o padre Dennis foi violentamente atacado pelo suposto dono da fazenda, Mario Junior Rocha com socos e com outras ameaças contra sua vida, além de uma batida proposital no carro, que quase o fez tombar.
Aos nossos irmãos, padres Dennis Koltz e Sisto Magro, manifestamos nossa solidariedade fraterna e asseguramos nossas preces. Sintam-se acompanhados por cada um de nós e contem conosco nesta caminhada de compromisso com o Evangelho de Jesus Cristo e no serviço aos irmãos e irmãs nestas terras do Amapá, e em toda a nossa “Querida Amazônia”, que também sonhamos livre de toda ganância e de todo colonialismo! Que Nossa Senhora da Amazônia, Mãe do coração trespassado que sofreis nos vossos filhos ultrajados e na natureza ferida, seja a presença materna e força na caminhada!
1. Pe. Celso Carlos Puttkammer dos Santos – Soure – PA – Diocese de Caçador/Prelazia de Marajó
2. Pe. Francisco Gecivam Garcia - Dioc. Maringá/PR
3. Pe. Geraldino Rodrigues de Proença – Diocese de Apucarana-PR
4. Pe. Rui Fernando - Diocese Apucarana/ PR
5. Pe. Aquino Júnior - Diocese de Limoeiro do Norte - CE
6. Pe. Edegard Silva Júnior- Diocese de Pemba- Moçambique
7. Pe. Vilson Groh, Arquidiocese de Florianópolis
8. Pe. Edson André Cunha Thomassim - São Leopoldo -Coordenador Estadual da Past. Carcerária RS
9. Pe. Luis Miguel Modino - Arquidiocese de Manaus
10. Pe. Marcelo de Oliveira - Arquidiocese de Campinas SP
11. Pe. Antonio Manzatto, Arquidiocese de São Paulo
12. Pe. Alex José Kloppenburg, Diocese de Bage, RS
13. Pe. José Roberto Moreira, Bocaina do Sul, SC
14. Pe. Vitor Galdino Feller, Arquidiocese de Florianópolis, SC.
15. Pe. Rodrigo Schüler de Souza Diocese de Osório, RS
16. Pe. João Pedro de Liz, Urubici - Diocese de Lages, SC
17. Pe. Flávio Corrêa de Lima - Diocese de Novo Hamburgo / RS
18. Pe. Leandro de Mello - Arquidiocese de Passo Fundo RS
19. Pe. Mauro Batista Pedrinelli - Arquidiocese de Londrina, PR
20. Pe. Júlio Renato Lancellotti arquidiocese de São Paulo pastoral de rua
21. Pe. Medoro de Oliveira Souza Neto - Diocese de Valença, RJ.
22. Pe. Ezael Juliatto, Arquidiocese de São Paulo
23. Pe. Pascal A. Bekububo, SX. Pastoral Indigenista, Conceição do Araguaia, PA.
24. Frei Wilmar Villalba, OFM Conv - Ubatuba – SP
25. Pe. Domingos Rodrigues - Diocese de Bagé/RS
26. Pe. Antonio Lopes, Limoeiro do Norte - CE
27. Pe. Dirceu Luiz Fumagalli, Arquidiocese de Londrina
28. Pe. Diego Giuseppe Pelizzari - CIMI – SUL
29. Pe. Jefferson Nogueira da Mata – Diocese de Apucarana – PR
30. Pe. Lino Batista de Oliveira – Diocese de Apucarana – PUC Londrina - PR
31. Pe. José Geraldo Vidal. Pastorais Sociais da diocese de Xingu
32. Pe. Domingos Ormonde, Diocese de Duque de Caxias - RJ
33. Pe. Antonio Fontinele de Melo, Porto Velho- RO.
34. Pe. José Amaro Lopes de Sousa. Diocese de Xingu, Altamira, PA
35. Pe. José Domingos Bragheto-Pastoral Operária Arquidiocese de São Paulo- SP
36. Pe. Leomar Antonio Montagna - Arquidiocese de Maringá - PR.
37.: Pe. Marcos Roberto Almeida dos Santos - Arquidiocese de Maringá - PR.
38. Pe. Luiz Ceppi,Rio Branco-Ac - Ass. Extrativismo
39. Pe. Luiz Carlos Palhares. Santo Inácio-Pr. Diocese de Apucarana.
40. Frei Atílio Battistuz, OFM - Prelazia do Marajó
41.Pe. Ivanil Pereira da Silva, diocese de Umuarama, PR
42. Pe. Antônio José de Almeida, Diocese de Apucarana, PR
43. Pe. Hermes Antonio Tonini, diocese de Lages-SC
43. Pe. Paulo Joanil da Silva - Belém /PA
44. Pe. Danilo Pena, Arquidiocese de Curitiba - PR
45. Pe. Luiz Ceppi .Rio Branco-AC
46. Pe. Marcos Just Arquidiocese de Curitiba – PR
47. Pe. Jorge Pereira de Melo Arquidiocese de Londrina – PR
48. Pe. Adamor Lima -Diocese de Abaetetuba/PA
49. Pe. Sebastião Rodrigues da Silva - Diocese de Cornélio Procópio-PR
50. Pe. Nadir Luiz Zanchet - Diocese de Balsas/MA.
51. Dom Manoel João Francisco, bispo de diocese de Cornélio Procópio – PR
52. Pe. Severino Leite Diniz - Diocese de Lins – SP
53. Pe. Altair Manieri, Arquidiocese de Londrina- PR
54. Pe. Vileci Basílio Vidal - Diocese de Crato – CE
55. Diác. Jorge Luiz - Arquidiocese de São Paulo – SP
56. Pe. Jorge Corsini, Diocese de Registro – SP
57. Pe. Benedito Ferraro, Arquidiocese de Campinas-SP.
58. Pe. Raimundo Vanthuy Neto - Diocese de Roraima -RR
59. Pe. Sérgio Eduardo Mariucci – SJ
60. Dom Erwin Kräutler – Bispo Emérito do Xingu – PA
61. Dom Cláudio Hummes – Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM
62. Dom Pedro Brito Guimarães – Arquidiocese de Palmas – TO
63. Dom Vital Corbellini – Bispo de Marabá – PA
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Padres da Caminhada enviam nota de solidariedade com os padres agredidos no Amapá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU