30 Novembro 2019
A França corre o risco de ter sua última Black Friday nesta sexta-feira (29). Em tempos de urgência climática, várias ONGs ecologistas organizam um boicote à jornada de promoções e descontos importada dos Estados Unidos. Além dos coletivos civis, a deputada Delphine Batho, sem partido, apresentou uma emenda parlamentar que proíbe essa operação comercial fora dos dois períodos de liquidação regulamentados no país, em janeiro e junho.
A reportagem é de Adriana Moysés, publicada por Radio France Internacional - RFI, 29-11-2019.
Dezenas de ativistas de movimentos ambientalistas bloquearam na tarde desta quinta-feira (28) uma central de distribuição da gigante americana Amazon em Bretigny-sur-Orge, localidade a 42 km ao sul de Paris. Eles impediram a saída de caminhões carregados de produtos que deveriam abastecer o comércio para a Black Friday.
Os militantes instalaram barricadas com a ajuda de fardos de palha e eletrodomésticos usados, como máquinas de lavar, fogões e micro-ondas. Nas faixas pintadas à mão, liam-se frases como "Amazônia: pelo clima, pelo emprego, pare a expansão, pare a superprodução", "A Amazon ou o clima?" e "Stop superprodução".
Durante o protesto, uma militante explicou que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU advertiu nesta semana que o mundo não pode mais continuar adiando as ações radicais necessárias para reduzir as emissões de gases do efeito estufa se deseja evitar uma catástrofe climática. "Estamos diante de uma mudança radical de hábitos de consumo da sociedade e precisamos fazer isso rapidamente, protegendo os trabalhadores e seus direitos", disse a ativista. Ela afirmou que a escolha de bloquear o depósito da Amazon aconteceu porque a empresa americana declara em sua estratégia comercial ter a intenção de vender cada vez mais produtos novos, por preços mais baixos, e usando como meio de transporte o avião, considerado poluente.
Para manter viva a esperança de limitar o aquecimento a global a +1,5 ºC - o objetivo ideal do Acordo de Paris - seria necessário reduzir anualmente as emissões de gases em 7,6%, entre 2020 e 2030. Isto significa um corte 55% entre 2018 e 2030, adverte o IPCC.
⯑ Blocage d'#Amazon
— Amis de la Terre FR (@amisdelaterre) November 28, 2019
"A la veille du #BlackFriday, ce premier blocage permet d’interpeller les députés sur l'adoption d'un moratoire qui permettrait de juguler l’expansion de la multinationale." explique Alma Dufour, des Amis de la Terre.#StopAmazon#LoiEconomieCirculaire pic.twitter.com/AtImgmKIiK
O protesto em frente à Amazon reuniu entre 50 e 100 ativistas dos grupos ANV-COP21 e Amigos da Terra. Eles criticaram o excesso de consumo induzido pela Black Friday e a poluição que representa as milhares de entregas geradas pela promoção. Pelo menos oito ativistas foram presos pela polícia.
Novas ações, organizadas pelas ONGs Extinction Rebellion, Juventude pelo Clima e Attac, estão previstas nesta sexta-feira (29), quando muitos franceses fazem filas desde a madrugada na entrada das lojas.
No início da semana, a ministra da Transição Ecológica, Elisabeth Borne, criticou "o frenesi do consumo" e a poluição gerada pelo evento. Ao mesmo tempo, os deputados franceses votaram pela proibição das campanhas de propaganda da Black Friday. Eles propõem integrar a publicidade da Black Friday às "práticas comerciais agressivas", puníveis com prisão por dois anos e multa de € 300.000.
Para a deputada Delphine Batho, autora da emenda parlamentar, os comerciantes que aderem à Black Friday recorrem a técnicas de propaganda enganosa. Ela considera o evento uma "aberração de consumo excessivo e de desperdício de recursos". Muitos lojistas admitem que desaprovam a operação, mas afirmam participar da promoção para não perder os clientes para a concorrência.
A associação de defesa do consumidor UFC-Que Choisir alerta sobre os descontos enganosos. Nas etiquetas dos produtos, alguns lojistas propõem uma redução de 50% do preço de fábrica. Mas o montante apontado como preço inicial pode datar de dois anos ou mais, quando o produto foi lançado no mercado. Passados dois anos, é normal que o preço da mercadoria caia à metade, principalmente no caso dos eletroeletrônicos.
Na avaliação da secretária de Estado da Transição Ecológica, Brune Poirson, "não adianta proibir". Segundo ela, o governo prefere promover a compra de bens de segunda mão e lançou, nesta semana, uma campanha nas redes sociais para incentivar esse tipo de comportamento, principalmente entre os jovens.
A ideia do governo francês vai na boa direção, mas não é uma novidade. Desde 2017, a França conta com o movimento Green Friday, lançado por um grupo de empresas que criou o projeto Envie (vontade, em português).
A iniciativa oferece empregos e programa de treinamento para jovens sem qualificação profissional, que trabalham em oficinas de reciclagem e conserto de produtos de segunda mão. Em dois anos, o projeto Envie já conta com 400 estruturas em todo o país, que participam da operação comercial da última sexta-feira de novembro com o selo Green Friday.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Ativistas decretam o “Block Friday” para denunciar consumo na França - Instituto Humanitas Unisinos - IHU