26 Novembro 2019
"Desculpem!" Gira em torno dessa palavra carta que o bispo de Belluno-Feltre, D. Renato Marangoni, escreveu a cônjuges separados, divorciados, casados civilmente ou não casados. Um fruto, entre os primeiros na Itália, dos dois Sínodos sobre a família organizados pelo Papa Francisco e de sua carta apostólica pós-sínodo Amoris laetitia, que causou tanta polêmica entre os chamados tradicionalistas.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 25-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Existe uma palavra inicial - escreve Marangoni – que preciso lhe confidenciar: desculpem! Existe nesta palavra a nossa consciência de ter-vos ignorado muitas vezes em nossas comunidades paroquiais. Talvez vocês também tenham sofrido por nossas atitudes de julgamento e crítica em relação a vocês. Também declaramos por muito tempo que vocês não poderiam ser totalmente admitidos nos sacramentos da penitência e da Eucaristia, enquanto em muitos de vocês havia um desejo de serem sustentados pelo dom dos sacramentos e pelo afeto de uma comunidade".
Para o prelado "nisso nos tornamos rígidos sobre uma visão muito formal das situações familiares que vocês viviam. Estávamos errados em não considerar também a situação pessoal, os sonhos que vocês haviam alimentado, a vossa vocação para a vida conjugal com os projetos de vida que ela envolvia, embora atravessados por conturbações familiares complicadas, onde tantos fatores podem ter sido decisivos para criar obstáculos a tudo isso. É precisamente nessas situações complexas que a responsabilidade pessoal precisa ser sustentada e ajudada justamente em sua fragilidade. Para aqueles que entre vocês ficaram desanimados e deixaram as nossas comunidades paroquiais, estamos aqui para dizer que sentimos sua falta e que precisamos de vocês e de seu testemunho de vida. Estamos cientes de que os eventos conturbados que vocês atravessaram e que perturbaram e machucaram vossos afetos familiares, podem ajudar a nós todos a considerar a vida como um dom nunca dado como certo, como uma responsabilidade nunca concluída, como uma possibilidade de recomeçar o caminho da existência pela promessa que ele representa”.
Uma abertura compartilhada também pelo bispo de Vittorio Veneto, monsenhor Corrado Pizziolo, empenhado em implementar as indicações contidas na Amoris laetitia. Na sua diocese, de fato, foi decidido "prover para determinados casais que não vivem plenamente o matrimônio cristão a possibilidade de poder participar dos sacramentos". Tudo no final de um "caminho de acompanhamento" administrado pelo pároco ou diretamente pelo bispo. Essas são iniciativas importantes que estão marcando uma mudança de mentalidade, especialmente dentro da Igreja italiana. Um testemunho de que os processos fortemente desejados e iniciados por Bergoglio estão começando a trazer frutos.
O papa sempre foi muito claro: "Os divorciados e recasados não são excomungados e não devem ser tratados como tais: eles sempre fazem parte da Igreja". A partir disso foi iniciado o caminho sinodal que agora está conduzindo a aberturas concretas, como as que ocorreram nas dioceses de Belluno-Feltre e Vittorio Veneto. Mas a atenção, dentro de cada diocese, especialmente na Itália, ao tema dos divorciados recasados tem um precedente ilustre. Em 2008, causou muita agitação a decisão do então arcebispo de Milão, cardeal Dionigi Tettamanzi, de endereçar uma carta a cônjuges em situação de separação, divórcio e nova união. Era intitulada O Senhor está próximo daqueles que têm o coração ferido.
"Em primeiro lugar - escrevia o cardeal - quero lhe dizer que não podemos nos considerar estranhos: vocês, para a Igreja e para mim bispo, são irmãs e irmãos amados e queridos. E esse meu desejo de entrar em diálogo com vocês nasce de um sincero afeto e da consciência de que em vocês existem perguntas e sofrimentos que muitas vezes lhes parecem negligenciados ou ignorados pela Igreja. Gostaria então de lhes dizer que a comunidade cristã tem consideração por suas dificuldades humanas. Claro, alguns de vocês experimentaram certa dureza na relação com a realidade eclesial: não se sentiram compreendidos em uma situação já difícil e dolorosa; talvez não tenham encontrado alguém pronto a ouvir e ajudar; eventualmente ouviam palavras que tinham o gosto de um julgamento sem misericórdia ou de uma condenação sem apelo. E puderam alimentar o pensamento de terem sido abandonados ou rejeitados pela Igreja". Mas hoje parece que as coisas estão começando a mudar.
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Aquele “desculpe” a separados e divorciados é o sinal de que as coisas estão mudando na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU