Abusos sexuais. “É a primeira vez que há um reconhecimento da responsabilidade da Igreja”. Entrevista com José Andrés Murillo

José Andrés Murillo. Foto: Reprodução / Twitter

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27 Fevereiro 2019

A poucas horas do encerramento da cúpula para tratar da proteção de menores na Igreja, convocada pelo Papa Francisco, no Vaticano, José Andrés Murillo, diretor da Fundação para a Confiança, falou com La Tercera a respeito de suas considerações acerca desta atividade que reuniu bispos de todo o mundo.

A entrevista é de María José Navarrete, publicada por La Tercera, 24-02-2019. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

O encontro alcançou suas expectativas?

Há décadas, a Igreja perdeu a oportunidade de ser o que deveria ser na luta contra o abuso, culpando as vítimas, tratando-as como inimigas, revitimizando-as de maneira inaceitável. Dito isto, é a primeira vez que há um reconhecimento da responsabilidade da Igreja. Poderia ter sido melhor, mais profunda, é certo. No entanto, de forma inédita a Igreja se submete a um escárnio forte assim, público, sem se defender, nem se justificar.

Quais são, em sua avaliação, os pontos fortes da cúpula?

Alguns dos temas que o Papa Francisco tratou nesta cúpula, conversamos pessoalmente com ele em nossa visita ao Vaticano, em abril de 2018. Espero que tenham sido úteis.

Para mim, o forte é que se escuta uma progressiva mudança no discurso. E a realidade é composta de discursos, razão pela qual é valioso que parta daí. O norte está posto em que a Igreja seja um refúgio para as vítimas de abuso sexual e não mais um refúgio dos abusadores. É uma intenção ainda muito distante da realidade, mas valorizo que seja dita.

Além disso, é valioso que se leve em consideração a ONU e outras organizações internacionais de Direitos Humanos da infância. Há bem pouco tempo, a Igreja as questionava. Isto é uma mudança importante.

Em que aspectos havia fragilidade?

Na falta de medidas concretas para chegar a ser e realizar o que se declara. Mas, entendo que o caminho terá que ser percorrido passo a passo. Apesar de ser uma instituição tremendamente hierárquica, uma monarquia, entendo que o Papa quer democratizar um pouco mais a maneira da Igreja atuar, mas fica a sensação de discursos pouco férteis, palavras bonitas, sem realidade. Isso pode ser nefasto porque confirmará o duplo discurso, a dissociação que parte do abuso.

Também a falta de intenções de investigar de maneira séria e profunda as causas que tornaram possível que na Igreja fossem cometidos abusos, o acobertamento, a impunidade, a revitimização e a invisibilização das vítimas. Fala-se como se fosse óbvio, mas não é. É fundamental que se chegue ao fundo do problema, posto que, se isso não é feito, é altamente possível que se repetia, se desdobre, inclusive se estenda de maneira silenciosa, com a fantasia de ter sido feito algo sério.

Durante o encontro, o Papa por um lado mostrou vídeos com depoimentos das vítimas e, por outro, afirmou que aqueles que acusam a Igreja são “amigos do diabo”. Acredita que está dando sinais equivocados às vítimas de abusos?

É parte da complexidade do problema. É inaceitável maltratar as vítimas, e isso ocorre quando os processos não são bem conduzidos, como ocorreu aqui. Considera-se as vítimas como inimigas. Tenta-se evitar o problema culpando aqueles que portam uma verdade que dói. Preferem negar a verdade. O Papa está no meio do caminho e é compreensível.

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