07 Novembro 2018
Padre era um defensor das vítimas de abuso sexual do clero, que lançou um abaixo-assinado pedindo a renúncia do cardeal Philippe Barbarin, de Lyon.
A reportagem é de Céline Hoyeau, publicada por La Croix International, 06-11-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto os bispos franceses realizavam seu primeiro encontro com vítimas de abuso sexual do clero no dia 3 de novembro, a notícia da não renomeação do Pe. Pierre Vignon como juiz do tribunal canônico interdiocesano de Lyon provocou uma onda de protestos das vítimas de abuso.
O padre de 64 anos, que há muito advoga em nome das vítimas, pediu nos últimos dois anos que os bispos franceses as encontrassem durante uma de suas assembleias plenárias em Lourdes.
O Pe. Vignon, juiz canônico das províncias de Lyon e Clermont-Ferrand desde 2002, não obteve a renovação do seu mandato para outros seis anos, que deveria começar quando os novos estatutos que governam o tribunal entrarem em vigor.
O Pe. Nicolas de Boccard, chefe do tribunal eclesiástico de Lyon, confirmou isso ao Pe. Vignon no dia 1º de novembro.
O Pe. Vignon, que é da Diocese de Valence, trabalhava exclusivamente em casos matrimoniais, e não em casos de pedofilia.
No entanto, ele também atuou em prol de uma vítima do fundador do grupo Points Coeur.
Desde 2010, ele também se envolveu oficialmente no tratamento de casos de abuso sexual, inclusive no aconselhamento de algumas vítimas.
Ele também foi oficialmente nomeado pelos bispos como capelão de La Parole Libérée, a associação de Lyon para as vítimas do padre pedófilo Bernard Preynat. As vítimas, agora na casa dos 30 e 40 anos, afirmaram que o Pe. Preynat abusou sexualmente delas quando eram escoteiros entre 7 e 12 anos na região de Lyon, entre 1986 e 1991.
No entanto, as frequentes aparições do Pe. Vignon nos canais nacionais de rádio e televisão nos últimos meses começaram a causar irritação.
Assim também como as muitas cartas que ele enviou à hierarquia católica, apelando para que seus membros adotassem uma atitude de franqueza e assumissem suas responsabilidades.
“Eu tenho uma personalidade voltada à liberdade de expressão, o que tem suas vantagens e inconveniências”, disse ele. “O Senhor me fez assim, e sou grato por isso.”
Mas a gota d’água que fez o copo transbordar e que explica a decisão dos bispos foi o abaixo-assinado lançado pelo Pe. Vignon em agosto, pedindo a renúncia do cardeal Philippe Barbarin, de Lyon. O cardeal Barbarin e outras lideranças diocesanas foram acusados de não terem feito uma denúncia policial envolvendo o Pe. Preynat.
Ao explicar isso, o Pe. Vignon disse que estava agindo em resposta ao chamado do Papa Francisco à mobilização contra a pedofilia entre o clero católico.
Embora o abaixo-assinado tenha recolhido mais de 105.000 assinaturas, ele resultou em sérias críticas ao papel do Pe. Vignon, inclusive por parte de outros defensores das vítimas.
“Meu bispo me explicou (no dia 31 de outubro) que minha posição como juiz não era compatível com o fato de o cardeal Barbarin ser moderador do tribunal”, explicou o Pe. Vignon, que trabalha em Vercors, na Diocese de Valence.
“Na Igreja, você julga em nome dos bispos, e, portanto, era incoerente que ele julgasse em nome do bispo cuja renúncia ele havia pedido”, confirmou uma fonte com conhecimento do caso.
Enquanto isso, o arcebispo Georges Pontier, presidente da Conferência dos Bispos da França, disse à France Info que “a confiança havia sido rompida”.
“Eu lamento essa decisão, mas a aceito e, em particular, não me arrependo do que disse neste verão, porque eu disse isso em consciência e continua sendo válido”, disse o Pe. Vignon ao jornal Libération.
“Estamos consternados com a atitude das lideranças católicas, que mais uma vez demonstraram sua incapacidade de evoluir e permaneceram presas em uma forma mortal de clericalismo", disse François Devaux, presidente de La Parole Libérée ao jornal Libération.
Devaux, que havia sido convidado para se encontrar com os bispos em Lourdes, havia recusado essa oferta anteriormente.
“Que tipo de sinal Barbarin está enviando, pouco antes do encontro com as vítimas em Lourdes?”, perguntou outra vítima.
Enquanto isso, em um comunicado divulgado pela sua presidente, Anne Soupa, no dia 2 de novembro, a Conferência dos Batizados/as atacou o que caracterizou como “uma privação do direito de fala”.
A decisão de não renomear o Pe. Vignon “interpreta mal o seu papel como denunciante” e “encoraja os padres a permanecerem em silêncio poucas semanas depois de a Igreja ter dito que visava à transparência”.
Outra juíza canônica de Lyon, Bénédicte Draillard, que optou por renunciar discretamente no ano passado, disse que “discordava da forma como as vítimas eram tratadas na Diocese de Lyon”.
“Eu senti que tinha um conflito de lealdade entre as vítimas e a instituição”, disse ela ao La Croix nesta semana.
No entanto, ela não assinou o abaixo-assinado do Pe. Vignon, já que “não era seu papel, pois não se pode ser juiz e parte”, disse ela.
Na visão de Draillard, teria sido melhor que os leigos e clérigos se organizassem para advogar por “uma comissão externa de inquérito, encomendada por Roma, como foi feito no Chile, a fim de jogar luz pacificamente sobre os responsáveis”.
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Afastamento de juiz eclesiástico na França causa tempestade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU