07 Agosto 2018
Realizado entre os dias 03 e 05 de agosto em Luziânia-GO, o III Encontro Nacional da Articulação das Pastorais do Campo encerrou-se com a discussão acerca de dois documentos produzidos durante a atividade. São eles a “Carta do Terceiro Encontro Nacional das Pastorais do Campo” e a “Moção de Apoio e Solidariedade as Companheiras e Companheiros em Greve de Fome por Justiça no STF”. Participaram do Encontro, tal como da elaboração da Carta e da Moção, agentes de pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Cáritas Brasileira, Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
A reportagem é de Mário Manzi, publicado por Conselho Missionário Indigenista Missionário - Cimi, 06-08-2018.
A carta em questão trata do contexto político atual enfrentado por povos tradicionais, Pastorais do Campo e demais movimentos sociais. O documento, além de denunciar a continuidade do golpe, personificada nos retrocessos que pautam o Governo Temer, e o contexto de manipulações midiática e jurídica em vigência, também convoca os povos atingidos por esse cenário a utilizarem da união como ferramenta de enfrentamento. Para Cléber César Buzatto, secretário executivo do Cimi, a carta se constitui como “posicionamento das organizações das Pastorais do Campo, acerca da atual situação política, reafirmando a causa [das Pastorais], em defesa de uma sociedade justa, pluricultural, pluriétnica, fazendo frente às agressões que a sociedade vem sofrendo”.
O segundo documento, a moção, redigida coletivamente, evidencia a pertinência da ação de Zonália Santos, Rafaela Alves, Jaime Amorim, Luiz Gonzaga, Vilmar Pacífico, Frei Sérgio Gorgen. Os seis manifestantes protocolaram manifesto em favor da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 31 de julho deste ano e iniciaram, em seguida a este ato, greve de fome sob a mesma reivindicação. A moção expressa a sensibilidade das Pastorais do Campo à iniciativa do grupo e ressalta a coragem dos seis manifestantes em confrontar a “onda de políticas antidemocráticas e de extermínio do governo golpista de Michel Temer”.
Em seguida às discussões sobre a moção e a carta, a plenária iniciou a leitura das estratégias apontadas pelos grupos de trabalho, formados desde o início do Encontro. Os eixos a que se dedicaram os grupos foram: Enraizamento; Formação; Articulação Externa; Comunicação e Mobilização. Destes eixos, foram selecionados os pontos que tratavam das Eleições 2018 e agrupados em um eixo específico.
As linhas apontadas buscaram abordar o planejamento conjunto – entre as Pastorais do Campo – para o período dos próximos três anos. Um dos pontos que permeou as linhas de ação a curto prazo foi o processo eleitoral de 2018, desta forma, os grupos de trabalho estabeleceram estratégias a curto prazo a fim de reforçar a participação dos movimentos sociais nas eleições que se avizinham.
A conclusão do Encontro ocorreu após realização de mística relembrando mártires e personalidades que marcaram ou inspiraram as Pastorais do Campo. O momento também foi destinado à avaliação das atividades, segundo divisão em grandes regiões. Foram apreciados pontos favoráveis e desfavoráveis a fim de iniciar a preparação para o próximo Encontro.
“Jesus disse: Estejam atentos e tenham cuidado com o fermento dos Fariseus e com o fermento de Herodes”
Marcos 8,15
Nós, representantes das pastorais sociais do campo – Pastoral da Juventude Rural (PJR), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas Brasileira, Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) – reunidos de 3 a 5 de agosto de 2018 em Luziania/GO, em nosso terceiro encontro declaramos que:
Fortalecidos pela linha pastoral do Papa Francisco, reafirmamos nosso compromisso evangelizador, levando a Boa Nova da libertação junto aos povos indígenas, comunidades tradicionais, pescadoras e pescadores e camponesas e camponeses, em defesa dos seus territórios, dos seus modos de vida e de suas culturas, que garantem a diversidade alimentar e subsistência da humanidade.
A nossa união é o principal instrumento de ação contra a força do capital, especialmente em um momento em que a idolatria do mercado está espoliando os bens coletivos da criação, confiados aos povos da terra, das águas, e das florestas. Este contexto coloca em risco a casa comum, os direitos ancestrais dos povos; o clima de nosso planeta e a soberania alimentar e nacional.
Rejeitamos as iniciativas em curso, materializadas em políticas que tem como objetivo entregar os territórios e as águas aos grupos que representam o capital privado, sejam fazendeiros, madeireiros, mineradoras, petroleiros e aqueles travestidos de mecanismos ambientalmente sustentáveis.
Frente aos golpes contra a democracia, os retrocessos do Governo Temer, a manipulação midiática, a judicialização do processo eleitoral e político, a prisão de Lula e o impedimento de sua candidatura, reafirmamos que combateremos o avanço dos setores conservadores seja nas urnas ou em qualquer outra tentativa de aparelhamento do Estado.
Nestes tempos tão conturbados e duros contra os povos, precisamos ouvir os sinais do Espírito, renovando nosso compromisso evangélico, e depurar as estruturas de fé de nossas igrejas. Convertemo-nos, nós mesmos, aos ideais mais puros do Reino.
Conclamamos assim a todos os povos, trabalhadoras e trabalhadores do campo e da cidade, a recusar este sistema de padrão destrutivo, marcado pela desigualdade, pela violência e pela violação dos direitos humanos.
Reafirmamos nossa posição anticapitalista e antifascista contra a frente neoliberal, a favor da consolidação da perspectiva do Bem Viver e da construção do Reino até a plena libertação dos povos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pastorais do Campo divulgam documentos a respeito dos retrocessos políticos no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU