24 Mai 2018
Maioria dos estudos mostra que grande parte dos ecossistemas terão redução de biodiversidade de plantas e animais, associado com menor área disponível para essas espécies.
A reportagem é de Ingrid Soares, publicada por Correio Braziliense, 22-05-2018.
No Dia Internacional da Biodiversidade, comemorado nesta terça-feira (22/5), especialistas alertam para espécies que estão ameaçadas no país e sobre metas ambientais governamentais que dificilmente serão alcançadas até 2020.
O WWF Brasil organizou um levantamento de estudos sobre mudanças climáticas e biodiversidade de 2004 a 2017 e apresenta um cenário preocupante. Segundo André Nahur, coordenador de Mudanças Climáticas do WWF Brasil, a maioria dos estudos mostra que grande parte dos ecossistemas terão redução de biodiversidade de plantas e animais, associado com menor área disponível para essas espécies.
“As grandes ameaças à biodiversidade são os desmatamentos, queimadas e efeitos nas mudanças climáticas. Até 2050, podemos ter uma redução do açaí na Amazônia. No Cerrado, o pequi, a arnica e a mangaba poderão sofrer uma redução de até 90% de distribuição. Isso trará implicações na economia dos municípios que tem esse alimento como fonte de sustento”.
Continua depois da publicidade Nahur explica que o Ipê Amarelo, emblemático no Distrito Federal, já demonstra alteração genética por diferença de temperatura, aumentando o risco de extinção. Animais como o Tamanduá-Bandeira e o Tatu-Canastra também estão em perigo. Um outro cenário mostra que com o aumento da temperatura, doenças como a malária e a dengue se espalharão com mais facilidade. No Brasil, estima-se uma provável expansão do mosquito Aedes aegypti para o sul até 2050. “Até o final do século haverá um aumento de temperatura de 3ºC ou mais. No Nordeste, isso significaria 5º a 6º C a mais do que hoje. Toda essa questão da biodiversidade, floresta e ecossistema são fundamentais para garantir a sobrevivência. Para mudar isso, precisamos promover a economia florestal e a manutenção de áreas preservada. A educação ambiental também é fundamental. A faixa de desmatamento na Amazônia é de 40%, no Cerrado de 50%”, relata.
Ele finaliza dizendo que ainda há muito a ser feito. “Devemos comemorar o que já conseguimos. Mas temos que olhar para o futuro, para a conservação e manutenção. Temos espécies que ainda nem foram descobertas. Tem uma perda silenciosa que a ciência não consegue estimar”.
Entre 2011 a 2020, um Plano Estratégico de Biodiversidade que busca deter a perda da diversidade biológica foi traçado entre os países, as chamadas Metas de Aichi. O analista de Projetos Ambientais, Robson Capretz, ressalta que o Brasil detém 15% da biodiversidade mundial e que os pesquisadores acreditam que quase 80% dos seres vivos do planeta ainda não foram catalogados. Para ele, das 20 metas estabelecidas no documento, pelo menos três dificilmente serão alcançadas em até dois anos.
“A meta 11 prevê a conservação de pelo menos 17% das zonas terrestres e de águas continentais, e 10% das zonas costeiras e marinhas e outras medidas eficientes de conservação. No entanto, temos espécies que não são satisfatoriamente protegidos, como os corais da amazônia, por exemplo. A meta 12 prevê que em 2020, a extinção de espécies em extinção conhecidas deve estar prevenida e a situação de conservação, melhorada. Está longe. O Ministério do Meio Ambiente tem uma lista vermelha de fauna e flora, nem todos têm plano de ação e estratégia definida e continuam sendo exploradas.”
E continua. “Tem a meta 15, que fala sobre a Convenção do Clima, que pede a restauração de, pelo menos, 15% de ecossistemas degradados. Infelizmente, não temos essa taxa de reparação. Estamos no caminho, mas precisamos acelerar. O ponto positivo é que as metas estabelecidas ajudam a manter o foco. Mas terão que ser rediscutidas. Temos que cobrar fiscalização, que não sejam apenas criadas, mas que funcionem”, analisa.
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Para especialistas, metas ambientais dificilmente serão alcançadas até 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU