19 Setembro 2017
Entre 2015 e 2016, 2,4 milhões de pessoas a mais sofreram com a subnutrição; índice se mantém baixo em comparação com outras regiões
A reportagem é de Thays Ferrari Puzzi, publicada por FAO Brasil, 18-09-2017
O número de pessoas que sofrem com a fome na América Latina e no Caribe aumentou em 2,4 milhões de 2015 a 2016, alcançando um total de 42,5 milhões, segundo o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2017.
“A fome está aumentando na América Latina e no Caribe pela primeira vez na última década. Isso é inaceitável e todos os latino-americanos e caribenhos deveriam se sentir pessoalmente afetados por esse retrocesso. Não podemos dar um passo atrás, colocando em risco a saúde, o bem-estar ou mesmo a vida de milhões de pessoas”, disse o Representante Regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Julio Berdegué.
O novo conjunto de dados mostra que a fome, em 2013, afetava 39,1 milhões de pessoas (6,3% da população regional), subiu para 40,1 milhões em 2015 (6,3%) e alcançou 42,5 milhões em 2016, o que representa 6,6% da população regional.
O relatório observa que a prevalência da subnutrição, no mundo, aumentou 11% em 2016. Isso significa que 815 milhões de pessoas sofrem com a fome mundialmente. O aumento foi observado na maior parte das regiões do mundo, mas os maiores retrocessos se deram em partes da África e da Ásia.
Embora os níveis da fome permaneçam baixos na América Latina e no Caribe em comparação com o resto do mundo em desenvolvimento, há sinais claros de que a situação está se deteriorando.
Esse declínio é particularmente forte na América do Sul, onde a fome cresceu de 5%, em 2015, para 5,6%, em 2016, o que representa a maior parte do aumento da fome na região.
Ainda que a fome não tenha aumentando no Caribe, a sub-região segue tendo a maior prevalência de fome na região: 17,7%.
“Nos últimos anos, a América Latina e o Caribe foi um líder mundial na redução da fome. Agora, segundo os dados, estamos seguindo a preocupante tendência mundial”, ressaltou Berdegué.
O relatório deste ano é uma publicação conjunta da FAO, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e do Programa Mundial de Alimentos (PMA).
Segundo o Representante Regional da FAO, a desaceleração econômica da região, resultado da queda dos preços das commodities que a região exporta e encolhimento econômico global, tem impactado a segurança alimentar na América Latina e no Caribe.
“A contração econômica impacta o emprego e a renda das pessoas. Além disso, afeta as receitas fiscais, com os consequentes ajustes que reduzem a capacidade dos governos de manter sistemas de proteção às famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade”, explicou Berdegué.
“O aumento do preço dos alimentos também é um fator que pode influenciar as tendências observadas”, sinalizou.
O estudo destaca, ainda, que a existência de conflitos prolongados é uma das principais causas da fome. Mundialmente, 19 países enfrentam longas crises e mais da metade das pessoas que passam fome – 489 milhões – vivem em países afetados por conflitos.
Uma boa notícia é que, entre 2005 e 2016, a maior parte das regiões do mundo reduziu a desnutrição crônica infantil. Os melhores progressos foram registrados na Ásia e também na América Latina e no Caribe.
Regionalmente, a desnutrição crônica infantil caiu de 15,7%, em 2005, para 11%, em 2016. O progresso foi observado em todas as sub-regiões durante o mesmo período: Centro América, baixou de 21,9% para 15,4%; América do Sul, caiu de 13,5% para 9,5%; Caribe, diminuiu de 8,6% para 5,3%.
Sobre o tema, Berdegué destacou: “Esse é um ótimo sinal em meio ao panorama geral negativo. É muito provável que algumas políticas públicas dirigidas para a infância expliquem esse bom resultado. Me refiro, por exemplo, aos programas de alimentação escolar e a expansão, em muitos países, da cobertura dos sistemas de atenção às meninas e meninos menores de idade”.
É importante destacar que as taxas de desnutrição infantil aguda continuam sendo excessivamente altas em algumas regiões do mundo, ainda que se mantêm baixas na América Latina e no Caribe, onde somente 1,3% das meninas e meninos menores de cinco anos sofreram com a desnutrição aguda em 2016.
De acordo com o relatório, a prevalência global da obesidade mais do que duplicou entre 1980 e 2014. Em 2014, mais de 600 milhões de pessoas eram obesas, aproximadamente, 13% da população adulta mundial.
O problema é mais grave na América do Norte, na Europa e na Oceania, onde 28% dos adultos são obesos, enquanto que na América Latina e no Caribe, aproximadamente, um quarto da população adulta atual é considerada obesa.
Na América Latina e no Caribe, o sobrepeso das crianças menores de 5 anos aumentou de 6,8% em 2005 para 7% em 2016, taxa que supera as da Ásia, da África e a média mundial (6%).
“Junto com o aumento da fome, a América Latina e o Caribe vivem uma gravíssima epidemia de sobrepeso e obesidade. A tendência regional é constrangedora, especialmente no que se refere para as meninas e meninos menores de cinco anos, cujo desenvolvimento e futuro estão sendo prejudicados pela má alimentação”, disse Berdegué, destacando que a obesidade afeta quase 4 milhões de crianças latino-americanas e caribenhas.
Berdegué convoca para o enfrentamento a todas as formas da malnutrição com a promoção de sistemas alimentares que priorizem os mais pobres, que são os que gastam a maior parte da renda com comida e têm muitas dificuldades para acessar alimentos saudáveis e nutritivos.
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Aumenta a fome na América Latina e no Caribe: 42,5 milhões de pessoas estão subnutridas, segundo a FAO - Instituto Humanitas Unisinos - IHU