11 Fevereiro 2017
Durante três dias, parecia que o mundo ia desabar, até que, de repente, surgiu alguém que decretou o fim da história. Não foi Francis Fukuyama, mas sim o humilde Guido Mocellin, diligente titular no jornal Avvenire de um observatório sobre a presença da Igreja na web.
A nota é de Sandro Magister, publicada no seu blog Settimo Cielo, 09-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sim, os cartazes. Eles tinham aparecido nas ruas de Roma na manhã de sábado, 4 de fevereiro, e apostrofavam o papa em dialeto romano com um “A France’, ma n’do sta la tua misericordia?” [algo como: “Mas ô, Chico, onde está a tua misericórdia?”], depois de listar quatro ou cinco atos imperiais dele, incluindo a “decapitação” dos Cavaleiros de Malta.
Seguiu-se imediatamente um coro de indignadas condenações dos detratores e, mais ainda, dos seus “clientes”, além de uma sincera solidariedade com o vilipendiado, em uma sucessão de declarações entre o cardeal vigário, Agostino Vallini, o cardeal Marc Ouellet, a presidência da Conferência Episcopal Italiana, descendo pela hierarquia, mas não em audiência, até o diretor da revista La Civiltà Cattolica, Antonio Spadaro, e o número um da “escola de Bolonha”, Alberto Melloni, que, no jornal La Repubblica, reivindicava até que o Papa Francisco despojasse da púrpura, mesmo que apenas pela “metade daquilo que disse e fez”, o infeliz cardeal Gerhard L. Müller, como se fosse ele, sabe-se lá por quê, o supremo mandante da pasquinada.
Depois, de repente, todos calados. E todos vendo o Festival de Sanremo.
Porque foi justamente lá, em Sanremo, a origem da turbulência, de acordo com a meticulosa reconstrução feita por Mocellin no Avvenire.
Remontando “link após link” a origem dos cartazes, ele descobriu que o seu alvo não devia ser o papa, mas outro Francisco, o popularíssimo capitão da Roma, Francesco Totti, culpado por aparecer como convidado no Festival de Sanremo, ato intolerável para alguns torcedores da Lazio.
Só que esses torcedores, a fim de atrasar a entrega do texto do manifesto à tipografia, induziram esta a trabalhar em um texto fictício, um copia-e-cola produzido por um técnico gráfico deles, que é também “correspondente de Roma da agência Catholic Enough”. E, naquele ponto, o estrago tinha sido feito.
O encarregado da foto, lidas as palavras, colocou o papa, em vez de Totti, e, quando os torcedores da Lazio ainda não tinham tomado contato com o texto, os cartazes estavam afixados nos muros da cidade.
“Fiquem tranquilos: ninguém tem nada contra o Papa Francisco”, concluía Mocellin no seu relato no Avvenire, na manhã de quarta-feira, 8 de fevereiro.
E, na noite desse mesmo dia, Francesco Totti estava em Sanremo, contando para 14 milhões de telespectadores que, uma vez, de brincadeira, no vestiário, tinham cortado a parte inferior das suas meias, de modo que os dedos ficaram de fora: “Eu estava como o Padre Pio”.
Inacreditável, mas verdadeiro. Só faltava aparecer no palco do Ariston o outro Francisco, o papa.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Inacreditável, mas verdadeiro: nos cartazes de Roma, não devia estar o papa, mas o jogador Francesco Totti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU