17 Novembro 2016
“Se o mal é contagioso, o bem também o é”: este é um lema do Papa Bergoglio (Ángelus de 15 de fevereiro de 2015). Com ele intitulo a minha segunda contribuição sobre “o contágio” de Francisco. Publiquei, no mês de novembro passado, as perguntas e as respostas que fiz (e obtive) com os moradores e comerciantes do Bairro Monti (Roma), onde moro. E também aquelas que fiz a mim mesmo e àqueles que visitam o meu blog. A partir disso, penso ter chegado a uma preocupante conclusão: há muito entusiasmo verbal, mas poucos fatos.
A reportagem é de Luigi Accattoli e publicada por Religión Digital, 16-11-2016. A tradução é de André Langer.
Nesta segunda contribuição avalio o “contágio” de Francisco nos bispos e nos sacerdotes. Parto dos bispos: neste coletivo o entusiasmo com suas palavras é menor, muito baixo. Espero que, por uma espécie de lei da compensação, sejam muito mais fortes nos fatos. Preciso averiguá-lo. Para isso, centrarei a minha atenção, primeiramente, nos fatos, e em seguida, em um momento posterior, voltarei sobre a hipótese que preside estas linhas.
Nas viagens que faço para dar conferências, pude escutar agradecimentos e elogios de muitos cristãos comuns pelo Papa Francisco. E também as reservas de alguns padres. No entanto, creio que os bispos que “questionam” este pontificado são proporcionalmente em número muito maior que os sacerdotes.
Como está claro, não faltam aqueles que estão entusiasmados e procedem em conformidade com este entusiasmo. Em todo o caso, interessam-me mais os bispos que prestam atenção aos fatos e não tanto às palavras e aos discursos. O Papa argentino exerce realmente alguma influência sobre os nossos bispos? Em caso afirmativo, qual é a o sentido desta influência?
Chama-me muito a atenção do caso de Domenico Sigalini, bispo de Palestrina, pelas decisões que tomou no que se refere à moradia:
“Há alguns anos, eu não moro mais no palácio episcopal, mas em diferentes casas que me são postas à disposição pelos padres ou fiéis. Nos últimos 19 meses, eu morei em 18 municípios, dois terços da diocese, morando em cada um deles durante um mês. Queria conhecer a geografia e a população, tocar as diversas situações. Agora, estou fazendo a mesma coisa com a visita pastoral: fico uma semana em cada uma das 40 paróquias. Sempre celebro ou concelebro ali e faço uma breve homilia todas as manhãs. Assim, posso conhecer as pessoas, ouvi-las, falar com elas com o coração na mão; sem nenhum limite. Agindo desta maneira, penso ter encontrado um modo de estar perto das pessoas. Àquelas pessoas que têm pena de mim, digo que para viver basta ter um quarto. A realidade é que todos são generosos hospedando-me e me tratam muito bem”.
Não faltará quem diga: para o bispo Sigalini as coisas são fáceis, porque Palestrina é uma diocese pequena. É verdade: trata-se de uma diocese suburbicária, isto é, localizada em subúrbios da urbe, com apenas 114 mil habitantes.
Mas também encontrei uma relação semelhante com os fiéis no bispo de uma grande diocese: Franco Giulio Brambilla, de Novara: 564 mil habitantes em um território muito vasto.
Brambilla, uma vez terminado o Sínodo diocesano, colocou em prática uma vista pastoral “residencial” que prevê uma permanência dele durante dois meses – 60 dias distribuídos em três etapas – em cada um dos oito vicariatos ou arciprestados, de modo que possa encontrar-se com os responsáveis pela pastoral, com todos os sacerdotes e leigos que o queiram e com todos os animadores das unidades pastorais. Uma escolha, disse-me Franco Giulio, “que visa conhecer diretamente, ‘in loco’, cada uma das pessoas e cada situação em sua singularidade”.
Eu conheço há muito tempo tanto Sigalini como Brambilla e vejo neles bispos que, segundo o Papa Francisco, “têm cheiro de ovelha”, quer tenham poucas ou muitas ovelhas.
Semelhante à escolha de Sigalini, no que diz respeito à moradia e à celebração matinal, é a diocese do novo arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi: hospeda-se em uma residência sacerdotal, na Rua Barberia – onde tem um pequeno quarto, no mesmo andar em que moram três bispos auxiliares eméritos – e celebra todas as manhãs, inclusive com homilia, no altar do Sacramento na Catedral.
Para o lugar de Zuppi, no setor Centro de Roma, foi chamado Gianrico Ruzza, pároco de São Roberto Bellarmino, a igreja romana da qual foi titular o cardeal Bergoglio: está em busca de uma moradia que o mantenha em contato com as pessoas e estuda como poder ser bispo auxiliar no mundo dos jovens. Vamos ver o que vai decidir.
O Centro também é o meu setor, e me considero um bom amigo de Zuppi e já o sou de Ruzza que me chamou, certa vez, para falar na Paróquia São Roberto sobre o Papa Francisco e me consultou sobre como deveria ser a Pastoral da Juventude. Seguindo as iniciativas papais, Gianrico já tinha colocado em marcha em sua antiga paróquia um serviço de chuveiros e um refeitório para os “sem teto”.
No que diz respeito à moradia e missa diária, muito semelhante à escolha de Zuppi é a do novo arcebispo de Trento, Lauro Tisis, antes vigário-geral desta arquidiocese: “Vou continuar a morar onde morei até agora”, disse no dia do anúncio da sua nomeação, ou seja, na residência do clero. Tisis também decidiu ficar com o seu carro, rejeitando um carro melhor; e cada manhã celebra missa – com homilia – para os universitários, na capela da cúria da arquidiocese.
No que diz respeito à moradia, também devemos citar o bispo de Cesena-Sarsina, Douglas Regattieri, comprometido com a remodelação de sua residência para convertê-la em uma “casa de família” da Comunidade Papa João XXIII. E está fazendo isso com explícita referência aos convites de Francisco para compartilhá-la com os pobres e sempre estar acessível, isto é, disponível para receber e encontrar-se com quem o procure.
O modo e o lugar como moram e a homilia matutina são os eixos vertebradores desta mini-pesquisa. Estou aberto a recolher outras indicações de quem queira me ajudar a este respeito. Peço a quem me ler que me dê uma mão para ampliar o campo de observação, indicando-me que bispos se encontram, de fato, na longitude da onda proposta pelo Sucessor de Pedro.
Interessam-me, obviamente, também outros aspectos do “contágio”. Até aqui me referi a bispos com os quais falei e de quem posso confirmar as declarações que fizeram e que acabo de transcrever. Mas, tive a oportunidade de ler muitos outros sinais do “contágio bergogliano” entre os nossos bispos, aos quais me refiro seguidamente, e que, lidos nos jornais, na internet, ou que ouvi dizer, são, simplesmente, falsos.
Este seria o caso do cardeal Francesco Montenegro de Agrigento que, viajando com uma vespa, falaria com migrantes empregando a mesma linguagem evangélica do papa. A verdade é que isto era algo que ele já fazia antes da chegada do Papa Francisco, e é muito provável que tenha sido nomeado cardeal por esta proximidade de palavra e fatos. E foi decisão sua que um grupo de pobres o acompanhasse no dia da sua investidura.
O mesmo se deve dizer do cardeal Edoardo Menichelli, que conheço pessoalmente: continuou usando o mesmo carro que antes de ser nomeado cardeal e é ele mesmo que o dirige. Desde sempre, o padre Edoardo falou do acompanhamento das famílias feridas com a mesma delicadeza com que o urgiu o papa que veio do “fim do mundo”.
O novo bispo de Pádua, Claudio Cipolla, sozinho, em seu pequeno carro, percorre a vastíssima diocese que preside para encontrar-se com cada um dos 774 presbíteros, além dos religiosos e leigos que querem falar com ele.
O recente arcebispo de Modena, Erio Castellucci, mora na cúria da arquidiocese com uma família de migrantes albaneses e rejeita qualquer tipo de título: “Não quero, na medida do possível, ser tratado como ‘Excelência’. Prefiro ser chamado pelo meu nome”, disse na homilia de posse na diocese.
Seria interessante saber como funciona este assunto do abandono dos títulos, já tentada há muito tempo pelo cardeal Pellegrino, uma vez terminado o Concílio, e ao qual estão mais dispostos os bispos da América Latina que os nossos. O cardeal Bergoglio, em Buenos Aires, era para todos o “padre Jorge”. Aqui, só os amigos de antes continuam a chamar pelo seu nome quem é ordenado bispo, mesmo que o eleito prefira que todos o façam.
Também gostaria de saber como estão, na vida cotidiana, os novos bispos ordenados nos últimos meses e que, por exemplo, escolheram um báculo de madeira (Roberto Carboni, franciscano conventual missionário em Cuba e agora prelado de Ales-Terralba); ou aquele que anunciou que gostaria de continuar a viver em uma comunidade de padres e não isolados no palácio episcopal (Renato Marangoni, padre paduano, nomeado bispo de Belluno); ou aquele que vendeu o carro Opel Astra que lhe deram de presente quando fez sua entrada na diocese, destinando o dinheiro arrecadado à construção de um dormitório para os sem teto (Luigi Renna, bispo de Cerignola-Ascoli Satriano). O presente foi objeto de fortes polêmicas e, igualmente, a decisão de vendê-lo. Conclusão: um bispo não deve prestar atenção nas polêmicas nestas decisões pessoais.
O que aconteceu com a proposta de “compartilhar” o salário, formulada há dois anos pelo cardeal Gualtiero Bassetti aos trabalhadores da cúria de Perugia, “para que, aqueles que ganham mais, estejam dispostos, por razões éticas e de caridade, a receber menos neste momento de dificuldades econômicas”? No que deu a contribuição voluntária do clero de toda a Itália para criar um fundo que facilitasse a ocupação juvenil, proposta de que falou o arcebispo Giancarlo Bregantini?
Eu não sou pessimista em relação ao “contágio” dos nossos bispos às palavras e ao exemplo do papa. Tenho em mente as dificuldades para assumi-lo, que talvez sejam maiores em lugares pequenos. E, também, naqueles não tão pequenos. Assim que você se move, jogam pedras em você: “Você quer estar no centro das atenções”; “você está deixando em maus lençóis o seu predecessor”; “você está querendo ser cardeal pela via rápida”.
Bastam estas palavras do cardeal Giuseppe Betori sobre a dificuldade de seguir o papa em sua proximidade com as ovelhas, quando o hospedou em Florença em novembro passado:
“Eu o acompanhei todo o dia e fiquei admirado com a sua dedicação a todos, crianças, idosos, pobres, doentes, detentos. As pessoas gostam de um homem com estas características, mas nós pastores temos um problema: o nível do exemplo a seguir ficou muito alto”.
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Quantos seguem o exemplo de Francisco? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU