27 Mai 2016
O que mudou a minha vida desde que Francisco existe? Pouco ou nada. Muito nas conversas, desde aquela nobre das conferências até aquela maledicente dos círculos menores. Muito pouco nos fatos. Tento lhes explicar.
A análise é do vaticanista italiano Luigi Accattoli, publicada na revista Il Regno, de outubro de 2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Voltei a escrever sobre o papa por uma grande demanda da Corsera e de revistas, sites e editores: mas esse é um efeito externo, profissional. Não vale.
Rezo mais por ele. Sempre o fiz, mas era uma intenção ritual. Até mais com a doença de João Paulo II. Mas como se faz com um parente no hospital. Agora, em vez disso, rezo tremendo pelas decisões que Francisco deve tomar. É a única mudança de verdade.
Serenidade na confissão
Eu falo com os mendigos e os vendedores de rosas que eu ajudo como antes com alguns euros. Também aperto a mão deles, pergunto sobre o país, os filhos, se são cristãos ou muçulmanos, se rezam. É uma sugestão de Francisco, e eu a implemento. Depois, me "autotributei" para ajudar a paróquia a acolher os refugiados. Isso também eu considero um contágio bergogliano. Não encontro outra coisa que tenha mudado na minha vida. E parece-me pouco.
Faço a pergunta a amigos próximos e distantes. Um visitante do blog me responde assim: "Os amigos padres me dizem que, com este papa, eles se sentem mais livres para dar a sua opinião. Eu vejo entusiasmo por parte de pessoas que, até fevereiro de 2013, sonhavam com igrejas transformadas em estacionamentos. Em suma, mudou o sentimento midiático, que tornou o papa uma figura muito popular. Mas não mais do que isso".
Insisto em perguntar o que mudou para ele: "Quando eu vou me confessar, sempre penso que o perdão de Deus é mais forte do que as minhas fraquezas. E sou grato por isso".
Outro visitante confirma: "Reencontrei a serenidade na confissão. Ela me ajuda a redescobrir a importância do amor e da atenção concreta aos irmãos".
Uma visitante: "Uma irmã minha voltou a participar da missa, e um casal da paróquia decidiu batizar o filho já grande. Os padres citam Francisco e estão contentes com o seu radicalismo evangélico, também ficaram contentes com o Sínodo. Em geral, todos estão contentes pelo fato de que aquilo que tem a ver com a Igreja já não é mais necessariamente feio e ruim".
Entre os visitantes, quase todos relatam alguns sinais positivos, mas ninguém tem opiniões excessivas.
"Certamente, mudou o clima religioso, mas a religião não é a fé. Uma sobrinha minha, que faz voluntariado, diz que reacendeu a sua fé."
"Entre os colegas, a maioria pouco praticantes, eu noto uma atitude benevolente quando se fala de participação na missa. Antes, eu tinha a impressão de ser olhado como alguém com velhos hábitos. Pessoalmente, Francisco me estimula. Mesmo quando ele escandaliza com os seus gestos improvisados. Talvez, o que me apaixona é justamente a sua oferta de estímulos, ao invés de uma suma concluída."
"Eu tento ser menos irritadiça e antissocial. Não que antes eu não fizesse isso, mas eu tento com mais convicção. Ao meu redor, eu não vejo grandes mudanças, só porque, no fundo, éramos assim antes também; na prática, há continuidade nas coisas positivas. Eu diria que fiz mais voluntariado nos tempos de Bento XVI, Com efeito, tive uma mudança maior naquele período. Mas muitas coisas ditas por Francisco também me mudaram, embora não compartilhe tudo e, às vezes, também fique com raiva."
Retorno à missa
"Há menos hostilidade em relação ao papa. Mas é uma simpatia pessoal por Francisco, não pela Igreja, que é criticada ou amada como antes. Espero que o Jubileu (que é fruto do pontificado de Francisco) convença os sacerdotes a dedicarem mais tempo às confissões: a partir disso, alguma coisa realmente pode mudar. Palavras como ternura e misericórdia agradam a todos, mas não são o suficiente para converter alguém."
Uma visitante insere a relação com Francisco na história da sua fé: "Eu me converti há 30 anos graças à ternura e à misericórdia. Eu tinha me tornado ateia depois de abandonar o Deus da minha infância, sempre pronto para castigar a nós, pecadores. Tinha ficado impressionada com a morte de Romero, e outros acontecimento tinha me aproximado de novo, mas o fato continuava sendo que o único Deus que eu conhecia era aquele assustador. Uma noite, eu estava indo para o restaurante universitário, e começou a chover como um dilúvio. Eu procurei refúgio em uma igreja. Havia um confessionário com uma luzinha acesa e, sem nem mesmo saber por que, me aproximei. O padre me falou com ternura de um Deus que é amor, que estava me esperando, que sempre tinha me amado, e eu senti um calor repentino no coração, soube que eu tinha encontrado o que tinha buscado sem nem mesmo saber. E agora, com Francisco, parece que eu estou vivendo em um sonho: eu tinha deixado de esperar em Romero bem-aventurado. E muitas coisas que ele diz e faz, eu tinha ouvido dizer e fazer na América Latina, há anos. E reencontrá-las agora em um papa é uma coisa muito bonita. Francisco me fez voltar para a missa. Eu tinha sofrido muito com Bento XVI e com o seu desejo de voltar ao passado".
Um visitante continua muito crítico em relação a Francisco no âmbito doutrinal: "Ele me deu e continua dando satisfações de verdade em relação à doutrina social. Quando eu dizia aquilo que Francisco diz, olhavam para mim como um marciano. Sobre a piedade popular e sobre a relação direta com Deus, como filhos, isso também me deu satisfação. Mas eu tenho dificuldade para conjugar o sentido que eu dou à palavra misericórdia com e o sentido que ele lhe dá".
Pároco apaixonado
Outro, ao contrário, simpatiza totalmente: "Notei um maior entusiasmo por parte do clero, especialmente no Sul da Itália. Ao menos essa é a impressão que eu tive no verão passado. Aqui no Norte, talvez (sem generalizar), custamos um pouco mais a entrar no modus agendi de uma pessoa que vem do Sul do mundo, mas estamos a caminho. Pessoalmente, Francisco me levou a aprofundar as temáticas da pobreza e da justiça".
Eu falo muito sobre o papa com o meu pároco, Francesco Pesce, que está seduzido por ele: "Mais do que contágio, para mim, eu falaria de enamoramento. Eu gosto do seu estilo, da sua linguagem, do seu modo de viver o ministério, do seu magistério. Eu gosto da sua franqueza, do fato de ele incluir todos e cada um, da sua coragem e da sua ternura. Eu gosto de ser um pequeno enfermeiro nesse grande hospital de campanha. Em uma palavra, eu gosto muito dele. Eu acho que a história vai repetir a afirmação do Evangelho de João: 'Veio um homem enviado por Deus cujo nome era Francisco'. Eu diria que ele é um profeta no meio de nós".
De acordo com o pároco, a passagem histórica marcada pelo papa argentino deve ser lido em chave bíblica, com referência – digamos – a este dito de Jesus: "O Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue a um povo que produzirá seus frutos" (Mt 21, 43).
"Talvez – argumenta o padre Francesco – esse novo povo também seja o povo das pedras descartadas, que talvez foram buscar o Senhor em outro lado, porque a nossa Igreja estava fechada, e o Senhor se deixou encontrar por eles em algum lugar. Eu diria que o contágio de Francisco, naquilo que eu vejo na minha paróquia, é o retorno das pedras descartadas, que antes se sentiam julgadas e abandonadas; um retorno ao confessionário, à missa e à conversa com o sacerdote; um retorno não só de quantidade, mas também de qualidade. Alguns que antes não vinham nunca agora passam pela igreja para um momento de oração."
Sempre as mesmas coisas
Eu converso com muitos padres romanos e devo dizer que nem todos pensam como o meu pároco. Há alguns que acusam Francisco de sempre dizer as mesmas coisas, de uma teologia fraca, de pensar sempre nos distantes e não nos próximos, e depois a desatenção à doutrina e à verdade imutável.
Há também a resistência ao convite a hospedar os refugiados nas paróquias e nas arejadas novidades em matéria de acolhida às famílias feridas.
Mas, entre as pessoas do bairro Monti, o sentimento dominante é semelhante ao do pároco. Uma jovem que trabalha em um restaurante (engajada na paróquia e com o peso de um divórcio nas costas), diz: "Mudou tudo. Agora, o papa parece que um nosso amigo de confiança, que você sente perto e com o qual pode contar. Você se sente protegida e mais serena. Os padres estão mudando. E nós logo percebemos quem se adapta ao papa, mas não pode vê-lo, e, ao contrário, quem gosta dele. Depois, também há outra mudança: agora, as pessoas, quando veem o papa na televisão, aqui no restaurante, nos pedem para aumentar o volume".
O jornaleiro da Via Cavour me diz que vende muitas cópias da revista Il Mio Papa e que fala muito sobre Francisco com os clientes, algo que antes não acontecia. Ele observa que os leitores dos jornal Il Giornale, Il Foglio e Liberto estão descontentes com aquilo que o papa diz ou, melhor, estão "justamente decepcionados com a sua pessoa".
A caixa do bar La Licata reitera que não é religiosa, mas está muito bem informada sobre as palavras do papa: eu ressalto isso para ela, e ela me diz que o caso a "preocupa".
Confiança e simpatia dos jovens
A dona da academia e o seu companheiro, que são praticantes, me dizem que percebem mais confiança e simpatia para com o papa, até mesmo nos jovens que são seus clientes.
A moça da pizzaria da Via Leonina confessa que ainda não consegue ir à missa aos domingos, mas quer recomeçar e, enquanto isso, entra de manhã e de noite na igreja para se recolher um pouco, porque se sente "contagiada por essa grande pessoa": ela usa o termo "contágio" sem que eu o tivesse antecipado. Ela está feliz pelo fato de o pároco manter a igreja sempre aberta, porque assim ela pode ir lá quando está livre.
Conclusão provisória: algo se move. Menos do que gostaríamos, mais do que os opositores do papa argentino estão dispostos a reconhecer. Vou voltar ao assunto, olhando também para os bispos e para a Cúria.
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O "contágio" do papa: algo se move, mas ainda é pouco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU