27 Mai 2016
Há uma influência do papa argentino sobre os bispos? E em que direção? O exemplo a se seguir é, certamente, "alto", e os entusiasmos e as boas práticas não faltam.
A análise é do vaticanista italiano Luigi Accattoli, publicada no blog da revista Il Regno, 23-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se "o mal é contagioso, o bem também o é": é um lema do Papa Bergoglio (Ângelus, 15-02-2015) que eu coloco como logotipo da minha segunda análise sobre o contágio exercido por Francisco.
Relatei aqui, em novembro passado, as perguntas que eu fiz a pessoas próximas e aos comerciantes do bairro Monti de Roma, onde eu moro, e aquelas – talvez mais rigorosas – que eu fiz para mim mesmo e para os visitantes do meu blog, e surgiu daí um quadro desequilibrado: entusiasmo verbal, mas poucos fatos.
Agora, abro a análise sobre bispos e padres. Parto dos bispos: aqui, o entusiasmo das palavras é menor, muito menor, e espero que, em compensação, seja maior o dos fatos. Mas devo verificar isso. Este capítulo é um lançamento de pedra: vou voltar ao assunto e vou aproveitar a repercussão que virá da queda da pedra.
Uma semana em cada paróquia
Nos giros de conferências, escutei cristãos comuns gratos e elogiosos ao Papa Francisco, apenas com os padres – às vezes – cheios de reservas. Os bispos que "se interrogam" me parecem proporcionalmente mais frequentes do que os padres. Mas não faltam os entusiasmos e as boas práticas. Dirijo-me a estas, mais do que às palavras. Há uma influência factual do papa argentino sobre os nossos bispos? E em que direção?
O caso que me atrai é o de Domenico Sigalini, bispo de Palestrina, e diz respeito à moradia: "Há alguns anos, eu não moro mais no palácio episcopal, mas em casas diversas, que são postas à minha disposição pelos párocos ou pelos paroquianos. Assim, durante 19 meses, eu circulei pelos 18 municípios e pelas duas frações da diocese, ficando um mês em cada um. Eu queria conhecer a geografia e a população, tocar as situações. Agora, estou fazendo a mesma coisa para a visita pastoral: fico uma semana morando em cada uma das 40 paróquias. Sempre celebro ou concelebro, e faço uma breve homilia todas as manhãs. Assim, eu posso conhecer as pessoas, escutá-las, falar com elas com o coração na mão. Encontrei um modo próprio para estar entre as ovelhas, de perto. Para viver, basta um quarto, eu digo àqueles que têm pena de mim. Todos são generosos ao me hospedar e me tratam muito bem".
Alguém poderá dizer: Sigalini se dá bem porque Palestrina é uma diocese pequena. É muito verdade: sede suburbicária, ou seja, sob a Urbe, com apenas 114.000 habitantes. Mas eu encontrei uma saída semelhante em relação às ovelhas no bispo de uma grande diocese: Franco Giulio Brambilla, de Novara: 564.000 habitantes em um território muito vasto.
Brambilla, tendo recém-concluído o Sínodo diocesano, iniciou uma visita pastoral "residencial", que prevê uma permanência dele de dois meses – 60 dias distribuídos em três períodos – em cada um dos oito vicariatos, a fim de encontrar os agentes de pastoral, todos os padres e os leigos que desejarem, os responsáveis e os animadores das unidades pastorais. "Uma escolha – diz Franco Giulio – que visa ao conhecimento direto, in loco, das realidades individuais e das pessoas individuais."
Eu conheço Sigalini e Brambilla há muito tempo, e tiro a conclusão de que um bispo de acordo o coração do Papa Francisco tenta farejar as ovelhas, quer tenha poucas, quer tenha muitas.
Semelhante à escolha de Sigalini, no que diz respeito à moradia e à celebração da manhã, é a do novo arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi: ele se hospeda em uma casa do clero na Via Barberia – onde ele tem um pequeno apartamento no mesmo andar já habitado por três bispos auxiliares eméritos – e celebra todas as manhãs, com homilia, no altar do Sacramento da catedral.
Missa com homilia
Ao lugar de Zuppi, no setor Centro de Roma, foi chamado o padre Gianrico Ruzza, ex-pároco de San Roberto Belarmino, a igreja romana da qual o cardeal Bergoglio era titular: ele se propõe a buscar uma moradia que o mantenha em contato com a população e está estudando uma forma para poder olhar como bispo auxiliar para o mundo dos jovens. Veremos o que ele vai inventar...
O setor Centro também é onde eu moro, e eu era um bom amigo de Zuppi e já o sou de Ruzza, que, uma vez, me chamou para San Roberto para falar precisamente do Papa Francisco e já me perguntou sobre a aproximação aos jovens.
Ao longo da linha das iniciativas papais, o padre Ruzza tinha começado na sua grande paróquia um serviço de chuveiros e um refeitório para os sem-teto.
Em termos de casa e de missa dos dias da semana, é muito semelhante à escolha de Zuppi a do novo arcebispo de Trento, Lauro Tisi, ex-vigário geral da mesma arquidiocese: "Vou continuar morando onde eu estou agora", disse ele no dia da publicação da nomeação, isto é, em uma casa do clero.
O padre Tisi também decidiu manter o seu carro popular, sem buscar outro carro oficial; e celebrar a missa todas as manhãs – com homilia – para os universitários, na capela do arcebispado.
Em termos de casa, também deve ser nomeado o bispo de Cesena-Sarsina, Douglas Regattieri, que está realizando uma transformação da sua residência para abri-la para uma "casa de família" da Comunidade Papa João XXIII e ele está fazendo isso com referência explícita aos convites de Francisco à partilha com os pobres e à acessibilidade, isto é, à oportunidade de que o bispo seja sempre acessível por parte daqueles que o buscam.
O modo e o lugar da moradia e a homilia matinal parecem ser para mim os elementos sensíveis dessa mini-investigação. Quem quiser me ajudar com indicações, que as anote. De fato, eu peço àqueles que me leem que me deem uma mão para ampliar o campo de observação, indicando-me bispos locais que tenham se colocado ativamente nas pegadas do primaz da Itália.
Título de excelência
Também me interessam, obviamente, outros aspectos do contágio. Até aqui, citei bispos com os quais falei e, portanto, tenho certeza daquilo que escrevi. Mas eu li muitos outros sinais do contágio bergogliano entre os nossos bispos, que relato sumariamente a partir da leitura dos jornais ou de sites da internet, ou por ouvir dizer.
O cardeal Francesco Montenegro, de Agrigento, circula de vespa e fala dos migrantes com a mesma linguagem evangélica do papa. Ele já fazia isso antes da chegada do Papa Francisco, e talvez seja por causa dessa proximidade de linguagem e de gestos que ele foi criado cardeal. E ele quis um grupo de pobres nas "visitas de calor" no dia da posse.
É análoga a parábola do cardeal Edoardo Menichelli, que eu conheço pessoalmente e sempre circulou com um carro popular, que ele dirige por conta própria. Desde sempre, o padre Edoardo fala das famílias feridas com o mesmo escrúpulo do acompanhamento que hoje é mandado pelo papa que veio do fim do mundo.
O novo bispo de Pádua, Claudio Cipolla, sozinho, com o seu pequeno automóvel, percorre a vasta diocese para se encontrar, um por um, com todos os 774 padres, além dos religiosos e leigos que querem falar com ele.
Carro vendido, dormitório construído
O recente arcebispo de Modena, Erio Castellucci, tem consigo, no arcebispado, uma família de imigrantes albaneses e recusa qualquer cerimônia. "Eu não gostaria que usassem comigo, se possível, a qualificação de 'excelência' e preferiria ser chamado pelo nome", disse ele na sua homilia de ingresso.
Eu estou curioso para saber como funciona esse despojamento dos títulos, já tentada por muitos desde o cardeal Pellegrino no dia seguinte ao Concílio, mas que tem mais apego na América Latina do que na Itália.
O cardeal Bergoglio, em Buenos Aires, para todos, era o "padre Jorge", enquanto aqui, na Itália, apenas os amigos de antigamente continuam a chamar pelo nome aquele que se torna bispo, mesmo que o eleito prefira que todos os façam.
Eu também gostaria de saber como estão, na vida cotidiana, os novos bispos dos últimos meses que quiseram um báculo de madeira (Roberto Carboni, franciscano conventual, ex-missionário em Cuba e agora bispo de Ales-Terralba); ou aqueles que anunciaram que queriam continuar morando em uma comunidade de padres e não isolados no episcopado (Renato Marangoni, padre de Pádua, que se tornou bispo de Belluno); ou aqueles que venderam o automóvel Opel Astra, que lhes tinha sido dado no momento do ingresso na diocese, destinando os recursos para a construção de um dormitório para os sem-teto (como Luigi Renna, bispo de Cerignola-Ascoli Satriano). O presente tinha criado polêmicas, e outras tantas foram desencadeadas pela venda. Moral da história: um bispo não deve prestar atenção nas polêmicas.
O que aconteceu com a "partilha dos salários", proposta há dois anos pelo cardeal Gualtiero Bassetti aos empregados da Cúria de Perugia, "para que aqueles que ganham mais se adaptem, por um motivo ético e de caridade, a receber menos neste momento de dificuldade econômica"?
Como acabou a autotributação do clero de toda a Itália para constituir um fundo de apoio do emprego juvenil, do qual falou uma vez o arcebispo Giancarlo Bregantini?
Pedras jogadas
Eu não sou pessimista sobre o contágio que chega aos nossos bispos das palavras e do exemplo do papa. Eu levo em conta as dificuldades para segui-lo, que talvez sejam maiores em um ambiente pequeno ou, no entanto, não menores.
Assim que você se move, jogam pedras em você: "Ele quer se mostrar, está jogando uma luz ruim sobre o antecessor, está em busca de um cardinalato fora das regras"...
Sobre a dificuldade de seguir o papa na sua proximidade às ovelhas, vale esta reflexão do cardeal Betori, quando o teve como hóspede em Florença, em novembro passado: "Eu estive atrás dele o dia inteiro e admirei a sua dedicação para com todos, das crianças aos idosos, os pobres, os doentes, os presos. As pessoas não acham difícil gostar de um homem assim, mas, certamente, o problema para nós, pastores, é que temos esse exemplo alto a seguir".
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O "contágio" do papa. E o primeiro efeito sobre os bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU