23 Fevereiro 2016
A polêmica na Austrália em torno da mais alta autoridade financeira vaticana intensificou-se na quinta-feira, 18-02-2016, com documentos vazados sugerindo que o Cardeal George Pell, já sob críticas por sua resposta a acusações de abuso sexual cometido pelo clero, estaria sendo ele próprio investigado por supostamente abusar de cinco a 10 meninos.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 19-02-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O departamento onde Pell trabalha em Roma imediatamente emitiu um comunicado chamando tais acusações de “sem fundamento e completamente falsas”.
Segundo o texto divulgado, Pell já foi investigado por essas acusações há mais de 15 anos atrás. O resultado da investigação, conhecido na Austrália como o Relatório Southwell – chamado assim por causa do ex-juiz australiano A.J. Southwell, que cuidou do caso –, está em domínio público desde 2002.
“Ele nega veementemente qualquer irregularidade”, diz o texto, e se “a polícia deseja questioná-lo, ele vai cooperar, tal como tem cooperado com todas as investigações”.
Atualmente, Pell atua como o secretário para a Economia no Vaticano, com efeito sendo o chefe do departamento financeiro, cargo que assumiu desde que o Papa Francisco o nomeou em fevereiro de 2014.
As antigas acusações contra Pell, que agora são assunto de uma sindicância, teriam vazado à imprensa recentemente por autoridades policiais no estado australiano de Victoria. Reportagens na imprensa dizem que as supostas vítimas, que remontam a quando Pell era um sacerdote na cidade de Ballarat em Victoria e, mais tarde, arcebispo de Melbourne, estão sendo ouvidas.
As acusações estariam sendo revistas por mais de uma dúzia de detetives da unidade policial “Sano Taskforce”, criada para estudar relatos de abusos sexuais que surgem com o trabalho da Comissão Real da Austrália. Os documentos vazados, no entanto, não trouxeram informação alguma sobre os resultados da investigação.
Segundo o departamento onde trabalha Pell, o prelado nada sabia sobre a investigação até surgirem reportagens na imprensa.
Antes que a nova polêmica viesse à tona, Pell tinha marcado para prestar, pela terceira vez, um depoimento diante da Comissão Real via videoconferência direito de Roma durante por três dias a partir de 29 de fevereiro.
Dada a coincidência, pensa-se em Roma que o momento para esses documentos vazarem logo agora foi “claramente pensado para causar o máximo dano ao cardeal e à Igreja Católica, além de buscar enfraquecer o trabalho da Comissão Real”.
“Em todo esse tempo, a polícia do estado de Victoria não deu nenhum passo no sentido de ir atrás das falsas acusações que estão sendo feitas. No entanto o cardeal certamente não tem objeção alguma a que eles revisem os materiais que levaram o juiz Southwell a não indiciá-lo”, lê-se no comunicado divulgado pelo departamento em que o cardeal atua.
“O cardeal está certo de que a polícia vai rapidamente chegar à conclusão de que as acusações são falsas”, lê-se.
Inicialmente, Pell prestaria depoimento à Comissão Real em dezembro passado, porém um médico o aconselhou a não se submeter à longa viagem até a Austrália devido a problemas cardíacos.
No começo deste mês, o presidente da Comissão Real, o juiz Peter McClellan, concordou em permitir que Pell prestasse esclarecimentos direto de Roma, o que incitou uma campanha coordenada por sobreviventes de abusos sexuais infantis e apoiadores para angariar dinheiro e enviar sobreviventes de abusos clericais a Roma a fim de testemunharem a audiência.
Em um comunicado divulgado quarta-feira, 17-02-2016, o cardeal disse que não seria contra encontrar-se com sobreviventes: “Conforme o Cardeal Pell fez em audiências anteriores, ele está preparado para se encontrar com e escutar as vítimas, bem como para manifestar o seu apoio irrestrito”.
Diante da Comissão Real, Pell irá falar sobre o seu suposto papel em movimentar um padre pedófilo em Ballarat entre paróquias enquanto era padre assistente para a região de Ballarat East, de 1973 a 1983.
Nenhuma das investigações até agora feitas levou o parlamento victoriano a achar provas de irregularidades.
O prelado australiano de maior destaque na atualidade já se reuniu em privado várias vezes com vítimas de abuso sexual clerical. A última vez que ele falou diante da Comissão Real, ele o fez na presença de algumas das vítimas. A Comissão não decidiu ainda se as vítimas terão autorização para entrar no local da sessão desta vez.
Em 1996, Pell se tornou o primeiro membro da hierarquia católica australiana a abordar o abuso clerical sexual infantil. Três meses depois, ao se tronar arcebispo de Melbourne, ele criou a iniciativa chamada Melbourne Response para ajudar as vítimas.
“Na verdade, ele foi o primeiro bispo nesse país a agir [diante dos escândalos de pedofilia]”, disse Dom Anthony Fisher, sucesso de Pell em Sydney, ao sítio Crux em entrevista exclusiva em julho passado.
“Há um desejo de se manchar a imagem de alguém, para que um grande nome entre para a história”, disse ele. “Querem pôr Pell em praça pública e jogar tomates nele (...) querem humilhação”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal Pell nega ter abusado de meninos na Austrália - Instituto Humanitas Unisinos - IHU