17 Julho 2014
O The Boston Globe teve uma conversa face a face na semana passada com o cardeal George Pell, o formidável prelado australiano que está conduzindo o esforço de limpeza financeira para o papa. Segue uma amostra do que ele nos disse.
A nota é de John L. Allen Jr., publicada no jornal The Boston Globe, 12-07-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis a entrevista.
De uma forma abrangente, o que o senhor está tentando fazer?
Basicamente, a ambição é sermos enfadonhamente bem sucedidos, para sair das páginas de fofocas. O objetivo é que nos tornemos um modelo de boas práticas na administração financeira. Ao longo do caminho, nós não vamos gerar menos receitas para as obras da Igreja. Nós também temos que ter cuidado para preservar o patrimônio do Vaticano, de modo que não coloquemos nada em risco através de mudanças de curto prazo.
Existe uma certa resistência da velha guarda italiana?
Há tristeza e um pouco de antagonismo em alguns setores, isso é certo.
Como o senhor lida com isso?
Ouvindo suas queixas e explicando o que estamos tentando fazer. Também precisamos ter certeza de que há uma percentagem significativa de italianos na nova liderança, porque somos muito dependentes de sua cooperação.
Relatos na mídia italiana acusaram Jean-Baptiste de Franssu, o novo presidente do banco vaticano, junto com Joseph Zahra, de Malta, e Francesco Vermiglio, da Itália, todos membros do Conselho da Economia, de fazerem parte de um "lobby maltês" que busca lucrar com os investimentos do Vaticano. Como o senhor responde a isso?
Essas acusações são coisas de "Alice no País das Maravilhas". Elas são superficiais, e a falta de precisão é extraordinária. De Franssu e Zahra não têm interesses econômicos comuns de qualquer natureza, e eles nunca sequer tinham se encontrado antes de atuar em uma comissão de estudo no ano passado. Ambos são homens ocupados que dedicaram uma enorme quantidade de tempo gratuitamente para a Igreja. As acusações são muito, muito estranhas. Fizemos uma boa análise da situação e decidimos que não há nada com relação a isso.
De Franssu, Zahra e Vermiglio têm o seu apoio total?
Eles certamente têm todo o meu apoio.
Os cínicos dizem que viram ondas anteriores de supostas reformas financeiras, e no fim nada muda nunca. O que torna essa reforma diferente?
Ninguém de que se tem memória viu nada como isso antes. O que há de tão novo são as reformas estruturais. Agora temos diferentes focos de autoridade e de pesos e contrapesos. Também estamos injetando alguns dos melhores profissionais do ramo financeiro de todo o mundo na liderança dessas diferentes agências, e elas não vão permanecer se os negócios não forem executados corretamente.
Nós nunca vimos tal injeção de liderança leiga nas fileiras superiores da Igreja, como estamos vendo agora com as finanças. Isso é extremamente saudável, porque é uma área em que nós, clérigos, não temos necessariamente qualquer especialização. Daqui para frente, você não será capaz de mudar o sistema de volta ao que era antes simplesmente substituindo uma pessoa. Toda uma rede de instituições está sendo criada, com mais por vir.
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''Queremos sair das páginas de fofocas''. Entrevista com o cardeal George Pell - Instituto Humanitas Unisinos - IHU