22 Novembro 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 23, 35-43 que corresponde à Festa de Cristo Rei, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Segundo o relato de Lucas, Jesus agonizou em meio às zombarias e ao desprezo daqueles que o rodeavam. Ninguém parece ter compreendido sua vida. Ninguém parece ter captado sua entrega aos que sofrem, nem seu perdão aos culpáveis. Ninguém viu no seu rosto o olhar compassivo de Deus. Neste momento, ninguém parece perceber naquela morte nenhum mistério.
As autoridades religiosas caçoam dele com gestos depreciativos: “A outros ele salvou. Que salve agora a si mesmo. Se é de fato o Messias de Deus, ‘o Escolhido!’, Deus virá em sua defesa”.
Também os soldados aderem às zombarias. Eles não acreditam em nenhum Enviado de Deus. Zombam do letreiro que Pilatos mandou colocar na cruz: “Este é o Rei dos judeus”. É absurdo que alguém possa reinar sem poder. Ele deve demonstrar sua força salvando-se a si mesmo.
Jesus permanece calado, porém não desce da cruz. Que faríamos nós se o Enviado de Deus procurasse sua própria salvação fugindo da cruz que o une para sempre a todos os crucificados da história? Como poderíamos acreditar num Deus que nos abandonasse para sempre à nossa sorte?
De repente, em meio a tantas zombarias e desprezo, acontece uma surpreendente invocação: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares em teu Reino”. Não é um discípulo nem um seguidor de Jesus. É um dos criminosos crucificados junto dele. Lucas o propõe como exemplo admirável de fé no Crucificado.
Este homem a ponto de morrer executado sabe que Jesus é um homem inocente, que não fez nada mais que o bem para todos. Intui na sua vida um mistério que escapa dele, mas está convencido de que Jesus não será derrotado pela morte. De seu coração nasce uma súplica: somente pede a Jesus que não o esqueça. Só Jesus pode fazer alguma coisa por ele.
Jesus responde imediatamente: “Hoje mesmo você estará comigo no Paraíso”. A partir deste momento os dois estão unidos na angústia e na impotência, mas Jesus o acolhe como companheiro inseparável. Os dois morreram crucificados, mas entraram juntos no mistério de Deus.
Em meio à sociedade descrente de nossos dias, muitos vivem confusos. Não sabem se acreditam ou não acreditam. Quase sem sabê-lo, levam no seu interior uma pequena e frágil fé. Às vezes, sem entender por que nem como, sobrecarregados pelo peso da vida, invocam Jesus à sua maneira.
“Jesus, lembra-te de mim”, e Jesus o escuta: “Você estará sempre comigo”. Deus tem seus caminhos para encontrar cada pessoa, e nem sempre é por onde nós pensamos. O decisivo é ter um coração para abrir-nos ao mistério de Deus encarnado na nossa própria vida.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Lembra-te de mim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU