23 Novembro 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 18,33-37 que corresponde à Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O julgamento contra Jesus teve lugar provavelmente no palácio em que residia Pilatos quando ia a Jerusalém. Ali se encontram numa manhã de abril do ano 30 um réu indefeso chamado Jesus e o representante do poderoso sistema imperial de Roma.
O evangelho de João relata o diálogo entre ambos. Na realidade, mais que um interrogatório, parece um discurso de Jesus para esclarecer alguns temas que interessam muito ao evangelista. Num determinado momento, Jesus faz esta solene proclamação: “Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo: para ser testemunha da verdade”. “Todo o que pertence à verdade escuta a minha voz.”
Esta afirmação recolhe um traço básico que define a trajetória profética de Jesus: sua vontade de viver na verdade de Deus. Jesus não só diz a verdade, mas procura a verdade, e só a verdade de um Deus que quer um mundo mais humano para todos seus filhos.
Por isso Jesus fala com autoridade, mas sem falsos autoritarismos. Fala com sinceridade, mas sem dogmatismos. Não fala como os fanáticos, que tratam de impor a sua verdade. Tampouco como os funcionários, que a defendem por obrigação, apesar de não acreditarem nela. Não se sente nunca guardião da verdade, mas testemunha.
Jesus não converte a verdade de Deus em propaganda. Não a utiliza em proveito próprio, mas em defesa dos pobres. Não tolera a mentira ou o encobrimento das injustiças. Não suporta as manipulações. Jesus converte-se assim em “voz dos sem voz, e voz contra os que têm demasiada voz” (Jon Sobrino).
Esta voz é mais necessária que nunca nesta sociedade apanhada numa grave crise econômica. A ocultação da verdade é um dos mais firmes pressupostos da atuação dos poderes financeiros e da gestão política submetida às suas exigências. Querem fazer viver a crise na mentira.
Faz-se todo o possível para ocultar a responsabilidade dos principais causadores da crise e ignora-se de forma perversa o sofrimento das vítimas mais débeis e indefesas. É urgente humanizar a crise colocando no centro de atenção a verdade dos que sofrem e a atenção prioritária à sua situação cada vez mais grave.
É a primeira verdade exigível a todos se não queremos ser inumanos. O primeiro dado prévio a tudo. Não podemos acostumar-nos à exclusão social e à desesperança em que estão caindo os mais débeis. Os que seguimos Jesus, temos de escutar sua voz e sair instintivamente em defesa dos últimos. Quem é da verdade escuta sua voz.
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