28 Julho 2017
Publicamos aqui o comentário do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste XVII Domingo do Tempo Comum, 30 de julho (Mt 13, 44-52). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Evangelho deste domingo nos apresenta as últimas parábolas recolhidas por Mateus no capítulo 13, chamado precisamente de “discurso parabólico”. Como nas parábolas anteriores, Jesus não recorre a ideias abstratas, mas entrega imagens, para que os ouvintes acolham facilmente a palavra, conservem-na no coração e, recordando-a, atualizem-na no seu cotidiano.
Essas imagens visam mais uma vez a fazer com que se compreenda a dinâmica do reino dos céus, o modo com que Deus pode reinar e efetivamente reina naqueles que são capazes de voltar a ele, de se converter e de aderir à boa notícia trazida por Jesus Cristo.
Das três parábolas de hoje, as primeiras duas são inseparáveis, enquanto a terceira, em nível temático, parece uma retomada da parábola da boa semente e do joio (cf. Mt 13, 24-30.36-43).
Jesus diz acima de tudo: “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo”.
Há um tesouro escondido, portanto, por muito tempo ignorado e enterrado em um campo, certamente para protegê-lo de eventuais furtos: se, porém, foi escondido, é para ser encontrado no tempo oportuno. O agricultor que possui esse campo desenterra o tesouro e, tomado de grande espanto, age como um homem prudente: logo esconde novamente o tesouro, depois põe à venda tudo o que possui, avaliado como muito pouco em relação ao tesouro descoberto. Com o dinheiro obtido, portanto, pode comprar aquele campo, de modo a se tornar proprietário também daquele tesouro preciosíssimo.
A parábola é simples, muito compreensível, porque “a outra coisa” significada pelo tesouro é justamente o reino dos céus, a única realidade que justifica a venda de tudo o que se tem para poder tomar parte nele, como Jesus afirma mais adiante, dirigindo-se a um jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (Mt 19, 21). Do mesmo modo, aqui Jesus revela ao ouvinte da época, assim como a nós hoje, que o reino de Deus é o tesouro que não tem preço, e, justamente por isso, a fim de adquiri-lo, é preciso se despojar de todos os bens, as riquezas, as propriedades. De fato, se estas são uma presença na vida do ser humano e reinam sobre ele, impedem precisamente que Deus reine (cf. Mt 6, 24: “Não podeis servir a Deus e a Mamom, o ídolo da riqueza!”).
Além disso, ainda no Sermão da Montanha, Jesus tinha advertido com clareza: “Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde os ladrões assaltam e roubam. Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Mt 6, 19-21).
Quem quer seguir Jesus e tomar parte no Reino que vem deve se despojar de tudo o que tem, daquilo que na vida humana é segurança e garantia. Isso só pode ser feito se compreendermos o mistério do reino dos céus confiado justamente aos discípulos (cf. Mt 13, 11) e se permanecermos consciente de que trazemos esse tesouro em vasos de barro, mostrando, assim, que ele vem de Deus e não de nós mesmos (cf. 2Co 4, 7).
Algo semelhante também acontece com um comerciante, que, no exercício do seu ofício, um dia, descobre uma pérola de grandíssimo valor. Como comerciante que é, ele também se exercita na busca de pérolas preciosas, mas mesmo ele fica surpreso e espantado ao encontrar essa pérola única. Como faz para possuí-la? Vende todos os seus bens e a compra, porque, aos seus olhos, ela tem um valor inestimável: vale a pena vender tudo, sacrificar tudo por essa realidade descoberta e avaliada como incomparável.
Ambas as parábolas têm como verdadeiros protagonistas os objetos, o tesouro e a pérola, que tomam posse dos dois homens, apreendem-nos e causam as suas ações. Ao mesmo tempo, precisamente, ambas enfatizam as ações, ou seja, a resposta humana diante do dom incomensurável do reino dos céus.
Sim, estamos diante do radicalismo evangélico de Jesus, que nos pede para nos despojarmos para acolher o Reino. E atenção: não se trata de se despojar apenas no início do seguimento, de uma vez por todas, mas de renovar a cada dia essa renúncia, em situações diferentes e em etapas diferentes da vida.
Durante o caminho da vida, de fato, embora no início nos despojamos daquilo que tínhamos, ainda recebemos tantas coisas e adquirimos outras. A ameaça do ter, a libido possidendi, sempre se opõe ao senhorio do reino de Deus sobre a nossa vida. Por isso, com muita sabedoria, um padre do deserto, abba Pambo, advertia: “Devemos nos exercitar para nos despojar daquilo que temos até a morte, quando nos será pedido para dizer ‘amém’ ao despojamento da nossa própria vida”.
Essa necessidade radical nos dá medo, talvez hoje mais do que nunca, imersos como estamos na sociedade do bem-estar; mas, se compreendemos o dom do Reino, a alegria da boa notícia que é o Evangelho, então torna-se possível vivê-la, justamente em virtude da graça que nos atrai e nos faz fazer o que não queríamos e não seríamos capazes de realizar apenas com as nossas forças.
Então poderemos dizer, junto com o Apóstolo Paulo: “Por causa de Cristo (...) perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e de ser encontrado nele” (Fl 3, 7-9). E tudo isso – não se deve esquecer – só pode ser realizado animado pela alegria, aquela da qual Jesus nos fala explicitamente a propósito do agricultor.
Quem segue Jesus, portanto, não diz: “Abandonei”, mas: “Encontrei um tesouro”; e não humilha ninguém, não se sente melhor do que os outros, mas está simplesmente na alegria por ter encontrado o tesouro. Em última análise, de fato, a medida do ser discípulo de Jesus é o pertencimento a ele, não o desapego das coisas (que, no máximo, é uma consequência disso): um verdadeiro seguimento se faz impulsionado pela alegria!
A terceira parábola narra “uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. Assim”, explica Jesus, “acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí, haverá choro e ranger de dentes”.
Há um tempo para pescar e um tempo para avaliar as diversas qualidades de peixes que acabaram na rede. Há peixes bons e peixes ruins, como na comunidade cristã, composta por homens e mulheres “pescados” através do anúncio do Evangelho (cf. Mt 4, 19) e reunidos em uma comunidade que não pode ser apenas de puros e justos.
Mas virá o dia do juízo, e então haverá o discernimento: será a hora da separação entre aqueles que participarão da plenitude do Reino e aqueles que, tendo escolhido a morte, prová-la-ão...
Essa imagem nos assusta e não queremos encontrá-la entre as palavras de Jesus: custamos a pensá-la como Evangelho, como boa notícia. Mas, mediante essa última parábola, Jesus quer nos dar um aviso: ele não destina ninguém à morte eterna, mas adverte, porque sabe que o juízo deverá ocorrer. Será na misericórdia, mas ocorrerá, como confessamos no Credo: o “Senhor Jesus Cristo (...) de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos, e o seu Reino não terá fim”. Por outro lado, rejeitar o dom do Reino não pode equivaler a acolhê-lo: é dom, é graça, é amor!
Na conclusão do longo discurso, Mateus registra um diálogo entre Jesus e os seus discípulos:
“‘Compreendestes tudo isso?’
Eles responderam: ‘Sim’.
Então Jesus acrescentou: ‘Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas’.”
Quem compreende essas parábolas de Jesus é como um escriba que, tendo se tornado discípulo de Jesus, possui um grande tesouro: o tesouro da sabedoria (cf. Sb 8, 17-18; Pr 2, 1-6), tesouro inestimável e inesgotável (cf. Sb 7, 14).
Se um discípulo é consciente desse tesouro, por dom de Deus, pode extrair dele coisas novas e coisas antigas, porque reconhece em cada palavra do Antigo e do Novo Testamento “Jesus Cristo, sabedoria de Deus” (1Co 1, 24). “Em Cristo”, de fato, “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria de Deus” (Cl 2, 3).
Trata-se, simplesmente, de reiterar isso, de estar convencido, de não se cansar de recorrer a esse tesouro dia após dia. De fato, é ao tesouro de Jesus Cristo, ao tesouro que é Jesus Cristo, que todas as nossas buscas nos levam: quanto mais o tempo passa, mais nos damos conta de que é sempre a ele que voltamos para confrontar os nossos pequenos passos na aquisição da sabedoria. É ele, a sua palavra, o seu sentir, o seu viver em nós que potencializa todo o nosso caminho. É ele que, sempre de novo, diz ao nosso coração: “Avança para águas mais profundas (cf. Lc 5, 4), não te canses de buscar (cf. Mt 7, 7), abre os teus horizontes, porque eu estou sempre contigo (cf. Mt 28, 20)”.
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O tesouro de Jesus Cristo e do Reino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU