25 Outubro 2019
Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: «Dois homens subiram ao Templo para rezar; um era fariseu, o outro era cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como esse cobrador de impostos. Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. O cobrador de impostos ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ Eu declaro a vocês: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva, será humilhado, e quem se humilha, será elevado».
Leitura do Evangelho segundo Lucas 18,9-14 (Correspondente ao 30º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Jesus continua ensinando ao grupo de pessoas que o seguem. Conta uma nova parábola dirigida, como narra o texto, “para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros”. É uma parábola própria de Lucas e nela apresenta-se uma vez o amor preferencial de Jesus pelos pobres, pelos marginalizados da sociedade, em contraposição com os que se consideram os possuidores da fé e da justiça divina. Jesus relata uma parábola para convidar seus ouvintes a viver um caminho de humildade e de conversão a Deus. Os fariseus, opositores da Boa Notícia que traz Jesus, consideram que pelo cumprimento dos numerosos preceitos e normas eles são justos diante de Deus. E ainda têm o direito de desprezar as pessoas que consideram indignas diante de Deus.
Há dois homens que “subiram ao Templo para rezar”. O texto apresenta claramente a diferença entre eles: um fariseu e um publicano. O fariseu era parte do grupo dos “piedosos”, dos defensores da Torah e de seu cumprimento rigoroso. E o cobrador de impostos que pelo seu próprio trabalho era considerado uma pessoa indigna, ligada aos romanos e a seu serviço. Para os judeus eram pessoas impuras e tinham fama de utilizar o dinheiro para si mesmas. É importante lembrar que este grupo de pessoas estava privado de alguns direitos cívicos, políticos e religiosos. Jesus coloca assim duas situações social, religiosa e culturalmente opostas e sua atitude diante de Deus.
Lendo o texto, aprecia-se a descrição de cada um deles. O fariseu de pé, erguido, com os olhos no alto em contraposição com o publicano que “ficou a distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito”. Contemplo assim estes dois homens que realizam sua oração no Templo. O fariseu centrado em si mesmo, que se considera justo e com autoridade para julgar o outro. E o cobrador de impostos, que se sabe pecador, fica a distância e clama a Deus pela sua misericórdia e compaixão.
A oração do fariseu é uma referência de seu agir diante de Deus e por isso considera-se superior aos demais: “eu te agradeço” ”não sou como os demais homens”, “eu faço jejum duas vezes por semana”, “eu dou o dízimo de toda a minha renda”. O sujeito da enumeração do seu atuar é ele mesmo: “eu”! Mas qual é a imagem de Deus que está por trás deste tipo de oração? É um Deus que contabiliza as que são consideradas boas obras e as registra uma por uma? O agir de Deus está centrado em recompensas ou castigos? O fariseu apresenta-se diante de Deus vangloriado pelo seu comportamento, envaidecido e com soberbia. Para ele, a salvação é uma conquista da pessoa que, se leva uma vida irrepreensível, merece ser salva. Seu comportamento determina o agir de Deus.
Em contraposição está o cobrador de impostos que fica a distância, “nem se atrevia a levantar os olhos para o céu”, “bate o peito”, se sabe pecador e por isso se dirige a Deus desde sua necessidade. Ele precisa da misericórdia de Deus e sua realidade clama por um Deus misericordioso: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador”.
Na sua oração o publicano comunica a imagem de um Deus que escuta a súplica dos pecadores, dos que o procuram desde sua necessidade. Um Deus que não deixa ninguém na sua miséria, um Deus que “ergue da poeira o fraco e tira do lixo o indigente” (Sal 112). Um Deus que ouve o grito dos que o invocam com coração abatido e atende sua prece (cfr Sal 61).
A parábola que narra Jesus gera rejeição diante da atitude do fariseu. Mas é preciso considerar em que momento da nossa vida aparece uma atitude similar. Quantas vezes nos consideramos com capacidade de julgar os demais, seja pelo seu agir, pela sua vida, pelo seu posicionamento diante da vida e tantas outras situações de nosso cotidiano? Pensemos também nos momentos que nos consideramos mais dignos, melhores, mais capazes que as demais pessoas.
A parábola é um convite de Jesus para todos os cristãos a formar comunidades que sejam servidoras e saibam reconhecer sua necessidade da misericórdia e do amor de Deus. O orgulho e a vaidade são contrários à Boa Notícia que Jesus vem nos comunicar. Jesus não quer cristãos cumpridores de normas e indiferentes à realidade social que os rodeia; sacrifícios observantes das normas do culto que alimentam o orgulho e são injustos diante das demais pessoas e da realidade social.
Deus é amor, mas seu amor é preferencial com os pobres e os desvalidos, os desprotegidos e marginalizados pela nossa sociedade. Deus não vira as costas diante do pobre e do indigente, pelo contrário, escuta seu clamor e atua em consequência. Como filhos de Deus somos convidados a amar com sua mesma sensibilidade e amor pelas vítimas de injustiça, da exclusão e de tudo aquilo que gera morte, segregação, destruição.
Neste domingo somos convidados a reconhecer a autossuficiência na nossa vida e, desde nossa realidade de pessoas necessitadas de Deus, abrir nossos ouvidos ao clamor dos mais pobres e agir em consequência.
Te agradeço Senhor
porque sou como os outros homens.
Tento estar seguro de mim
ante tua ausência,
e acerto minha contabilidade
para não ser surpreendido
ao final da jornada.
Comparo-me com os outros
e olho de cima
aos que julgo pecadores,
e na comparação, não em ti,
coloquei minha segurança.
Também tenho elaboradas
condenações em voga,
publicanos ao serviço
dos que impõem seu império,
mas escondo na ambigüidade
meus pecados de sempre,
armadilhas radicais contigo,
cortes abismais com o outro.
Também eu tenho meus seguros
de economias e dízimos,
pequenas moedas efetivas
com as quais pretendo negociar
a falta de entrega a teu mistério.
Também eu saio satisfeito
de ouvir-me a mim mesmo
de pé no centro do templo.
Como os outros homens,
já posso abrir-me a teu perdão
dando-me golpes ao peito
ao lado do publicano. (Lc 18, 4-14)
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“Deus ergue da poeira o fraco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU