O encontro de Angicos e a constelação de saberes. Artigo de Matias Soares

Foto: Philippe Bout/Unsplash

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26 Novembro 2025

"Uma aliança pela educação, sem dúvida, nos oferecerá luzes para que um autêntico desenvolvimento aconteça em nossas paragens norte-rio-grandenses. Essa constelação de saberes, sobre a qual o Papa Leão nos fala, precisa ganhar corpo e ser assumida pelas lideranças do povo", escreve o padre Matias Soares, pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório-Natal/RN, Capelão da UFRN.

Eis o artigo.

A Arquidiocese de Natal, em parceria com outras instituições da sociedade civil potiguar, juntamente com as Dioceses de Caicó e Mossoró, está empenhada em promover um Pacto Educativo Estadual. Essa Aliança não acontecerá de forma genuína e profunda sem um amplo movimento que envolva os cidadãos. Não se faz pacto social e democrático sem a participação do povo. Podemos fazer ‘contratos’ sociais; mas sem deveras firmarmos pactos. A pactuação exige boa fé e compromisso com uma causa. Sem isso, esbarramos nas burocracias inférteis e intenções imediatas.

O que a Igreja, na pessoa do saudoso Papa Francisco, e agora atualizada pelo Papa Leão XIV, propõe é uma ampla sinfonia colaborativa de todos os sujeitos sociais e das instituições que os representam em vista do bem comum e da justiça social, tendo em vista a garantia e o investimento num processo educativo de qualidade e inclusivo para todos os potiguares.

A proposta do Pacto Educativo Estadual já fora defendido em nossa Arquidiocese desde dois mil e vinte dois, quando foi celebrada a Campanha da Fraternidade, com a temática da “Fraternidade e Educação”. Naquele momento, infelizmente, estávamos ainda a enfrentar, tanto pessoalmente, quanto socialmente, as sequelas da pandemia de Covid. A Campanha não teve a ressonância que costumeiramente se tem. Contudo, o “setor universidades” - pastoral universitária - já propusera a urgência de uma ‘Aliança pela Educação’ em nosso estado.

Com a chegada do nosso atual Arcebispo, Dom João Santos Cardoso, a proposta foi retomada a partir de visitas institucionais feitas aos ambientes educativos - IFRN e UFRN. O projeto apresentado pelo Papa Francisco é uma proposta de civilização, ou melhor, reinvenção de ‘culturas’ educativas que acontecem pela formação de ‘conversão de consciências educativas e educadoras’, já que o seu ponto de partida é o primado da pessoa humana em todo o processo educativo.

O Papa Leão, recentemente, nas celebrações do jubileu da educação, em Roma, além de nos apresentar mais três princípios - uma paz desarmada e desarmante, a urgência da ética no uso da inteligência artificial e o cultivo da vida interior - e o Cardeal Newmann como copatrono da educação, falou de “constelações dos saberes”. Com isso, nos traz a imagem de que o processo educativo é uma construção permanente e integrada de vários objetos de conhecimento. A educação também necessita de uma ecologia educativa: uma integração dos componentes do processo educativo. A modernidade nos tirou essa fundamentação - basta fazermos a leitura das obras de René Descartes (1596-1650) - e particularizou os saberes considerando só os seus objetos específicos. O Pacto Educativo Global é uma possibilidade que nos é oferecida para que não limitemos as potencialidades da educação às ambiências acadêmicas e de ensino. O saber para ser eivado de sabedoria, nestes ‘admiráveis tempos novos’, deve partir da pessoa à criação e desta à pessoa, com todas as suas situações existenciais e sociais. Os dez princípios, que devem nortear os “pactos educativos”, com a proposta dos pontífices, possibilitam uma educação integral e inclusiva da pessoa humana, tendo em vista a sua dignidade e relações, desde a sua concepção até o seu fim natural.

Desta forma, o ‘Encontro de Angicos’, que acontecerá no dia vinte e sete de novembro deste ano, no campus da Ufersa, faz parte de uma agenda e é uma chamada ao processo permanente de mudança de mentalidade acerca da urgência de uma educação inclusiva e que favoreça a todos os cidadãos. Inseridos em dramas sociais tão patentes, como as situações de violência, desigualdades e injustiças, nós, potiguares, devemos assumir o esteio da educação como caminho de desenvolvimento em contexto e na cultura contemporânea.

Uma aliança pela educação, sem dúvida, nos oferecerá luzes para que um autêntico desenvolvimento aconteça em nossas paragens norte-rio-grandenses. Essa constelação de saberes, sobre a qual o Papa Leão nos fala, precisa ganhar corpo e ser assumida pelas lideranças do povo. A classe política não pode ser indiferente a essa causa. Ela precisa ser uma paixão. Não pode ser assunto só de campanhas eleitoreiras. Mas uma convicção de um direito que precisa ser garantido e abraçado por todos e para todos. Confiemos e apostemos nessa nobilíssima luta. O povo potiguar será o maior beneficiado. Assim o seja!

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