A nova paternidade: presença real para construir vínculos. Artigo de Robson Ribeiro

Foto: Alfonso Scarpa/Unsplash

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26 Novembro 2025

"A presença paterna deixa de ser um gesto opcional para se tornar um elemento essencial na construção de uma geração mais segura, equilibrada e capaz de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Cuidar, afinal, é mais do que dividir tarefas; é oferecer presença, estabilidade e amor em um tempo que tanto carece de vínculos profundos e reais", escreve Robson Ribeiro, teólogo, filósofo e professor. É formado em História, Filosofia e Teologia, áreas nas quais trabalha como professor em Juiz de Fora (MG).

Eis o artigo.

A transformação do papel paterno ao longo das últimas décadas é um dos movimentos sociais mais significativos no campo da educação familiar e do desenvolvimento infantil. Diferentemente das gerações anteriores, marcadas por uma distância maior entre pai e filho nas tarefas cotidianas, os pais atuais têm assumido uma postura mais participativa e afetiva. Do trocar fraldas às histórias antes de dormir, eles se fazem presentes não como ajudantes ocasionais, mas como corresponsáveis no cuidado.

Essa mudança cultural revela um cenário instigante: a relação entre pais e filhos nunca foi tão marcada pela presença e pela afetividade como hoje. A relação entre pais e filhos na atualidade apresentam uma realidade intrigante, enquanto muitos pais do passado tinham pouca atuação direta nas rotinas diárias, os pais millenials, ou geração Y, nascidos entre 1981 e 1996, vêm ocupando um espaço inédito na parentalidade contemporânea. Eles se preocupam mais em estar presente em casa, reorganizam o tempo para priorizar os filhos e constroem vínculos emocionais mais sólidos desde os primeiros meses de vida. Muitos pais de gerações anteriores, ou seja, geração Baby Boomers, nascidos entre 1946 e 1964, e a geração X, nascidos entre 1965 e 1980, tinham menos tempo para estar com os filhos, tendo em vista às necessidades de trabalhar e ausência dos lares. Já a geração Y, ou millenials, mostram sua verdadeira intenção ao assumirem as funções do lar e a criação dos filhos.

Essa presença ativa não beneficia apenas as crianças, embora elas sejam as mais favorecidas. Quando os pais se envolvem na educação e participam do cotidiano dos filhos isso contribuem para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças e adolescentes. Há impactos diretos no bem-estar materno, com redução da depressão pós-parto, e melhorias na dinâmica familiar como um todo. A figura paterna, antes restrita à função de provedor, hoje ganha um papel essencial na construção da afetividade e do equilíbrio familiar.

Essa discussão se torna ainda mais relevante quando observamos as fragilidades emocionais que marcam a geração Z. É uma geração que cresceu em meio à hiperconectividade, ao excesso de estímulos, à pressão por desempenho e à constante comparação social. Muitos jovens demonstram dificuldades em lidar com frustrações, em regular emoções e em construir relações profundas e estáveis. A presença apenas virtual do mundo não supre a necessidade humana de vínculos reais, previsíveis e afetivos.

Nesse cenário, a participação ativa dos pais se mostra decisiva. Há um problema intrigante: temos a geração Y que seria a salvação do mundo e precisa estar emocionalmente estável para oferecer segurança, escuta, limites consistentes e convivência diária. Quando os pais se fazem presentes não apenas física, mas emocionalmente, oferecem um chão que ajuda o jovem a enfrentar suas inseguranças, cultivar resiliência e desenvolver autonomia. A ausência paterna, ao contrário, tende a intensificar o vazio emocional que tantos adolescentes relatam.

A parentalidade contemporânea, portanto, não é apenas uma tendência cultural, mas uma resposta concreta às demandas emocionais de uma juventude marcada pela fragilidade, pela ansiedade e pelo excesso de estímulos externos. O novo pai, que participa, acolhe, brinca, orienta e acompanha, torna-se uma figura estruturante para crianças e adolescentes que aprendem a se reconhecer e a se fortalecer na relação com ele.

Assim, a presença paterna deixa de ser um gesto opcional para se tornar um elemento essencial na construção de uma geração mais segura, equilibrada e capaz de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Cuidar, afinal, é mais do que dividir tarefas; é oferecer presença, estabilidade e amor em um tempo que tanto carece de vínculos profundos e reais.

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