"Reformar um sistema político que leva o planeta e os seres humanos para sua derradeira destruição, é a mais desenfreada irresponsabilidade de quem se diz de esquerda".
O artigo é de Alexandre da Silva Francisco, advogado, estudante do bacharelado e mestrando em filosofia pela Unisinos, membro da equipe do Instituto Humanitas Unisinos - IHU
Havia um certo "marasmo" na política da segunda metade do século XX até a primeira década do século XXI. Cozinhava-se a sociedade em banho maria, ou melhor, em uma panela de pressão. A crença após a segunda guerra mundial em um mundo universal, sem fronteiras, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU). O otimismo parava no ar. A péssima notícia é que fomos todos enganados.
A crença de que o Estado Democrático de Direito Moderno seria o ideal político para que todas as civilizações deveriam caminhar, esconde em seu bojo um pequeno vírus letal que com o passar dos segundos vai se multiplicando e corroendo toda humanidade de dentro para fora.
Cada década que fica para trás, percebemos o mais evidente. O aumento do ódio político, doenças mentais e físicas nos consomem; e consumimos o consumo que nos consome. Atestamos o fogo na floresta, fogo no planeta, fogo no imigrante, fogo no diferente; afinal, é tudo em nome do “avanço civilizacional”. A extrema-direita adora.
A armadilha que nos metemos é gigantesca. Um emaranhado de mil nós, que para desenrolar vai levar muito tempo. Mesmo assim nos recusamos a iniciar o processo.
Questiono-me, revolução ou reforma? Vejamos.
Revolução tem como principal objetivo alterar um determinado objeto por completo, uma forma que já está posta, trocando por uma nova. A reforma por outro lado, não altera nada de forma significativa. Pelo contrário, a reforma “disfarça” o problema, posterga-o, pois busca manter o objeto.
Imagine por exemplo uma mesa de madeira. Ao olhar o objeto por fora, ele é belo, reflete o carpete do chão em suas formas, bem lustrada e cuidada. Mas nem tudo é o que parece. Dentro do móvel há um pequeno foco de infestação de cupim.
Ao identificar as fezes do inseto, o dono da mesa toma as providências necessárias para que a praga não destrua o item. Coloca-se veneno, mas não resolve por completo, os cupins se espalham ao longo dos meses, corroendo a mesa. O dono então resolve dedetizar todo o ambiente. Infelizmente, após alguns meses, a mesa já está completamente infestada por colônias e mais colônias do inseto. Não há solução.
Mesmo que o dono tente reformar o item, a praga já está em seu interior, o móvel está podre por dentro. É necessário substituí-lo, pois o próprio fundamento está destruído, ou melhor, qualquer atitude será em vão, pois apenas retardará a deterioração da mesa.
O pequeno exemplo dado, é apenas um exercício de imaginação para refletirmos acerca do atual cenário político contemporâneo. O Estado Democrático de Direito (direito para aqueles que tem dinheiro e poder, e exclusão; encarceramento para os demais) nesse modelo burguês, serve única e exclusivamente aos interesses das classes dominantes, e mesmo que a esquerda mundial domine o cenário eleitoral no futuro, não haverá real mudança política e social se a esquerda utilizar o modelo democrático do estado liberal burguês para fazer suas “reformas”.
Reformar um sistema político que leva o planeta e os seres humanos para sua derradeira destruição, é a mais desenfreada irresponsabilidade de quem se diz de esquerda. É preciso lutar pela substituição completa do Estado criado pela burguesia, pós feudalismo, pós revolução francesa e americana. Esse modelo, está podre e nos destrói um segundo após o outro.
Este artigo é a primeira parte de outros em que pretendo aprofundar o tema. Em breve trarei novas reflexões.