Erasmo Esteves é o nome do RG de Erasmo Carlos. Pioneiro do rock no Brasil, em uma época que se fazia até passeata contra o gênero, Erasmo ficou famoso, além de ter feito parte do movimento da Jovem Guarda, pela parceria de sucesso com Roberto Carlos. Mas Erasmo ia muito além disso tudo. Trouxe em sua discografia traços de pop, romântico, rock in roll, samba, sendo essas músicas mercadológicas ou não. Erasmo não teve o sucesso comercial de seu parceiro Roberto, mas não fez feio. Com uma poesia extremamente simples e métricas muito brasileiras, Erasmo ousou e arrasou. Infelizmente, no último dia 22 ele faleceu no Rio de Janeiro, vítima de paniculite.
A nossa coluna "Pautas de brasilidade" de hoje vai mergulhar na obra desse carioca da Tijuca que de mau só tinha a fama. O gigante doce, como era conhecido no meio artístico, deixou uma obra quase impecável, e que a grande crítica dita especializada demorou anos para reconhecer. Eu, Marcelo Zanotti, trago aqui hoje uma lista praticamente impossível de ser feita, que deixa a gente com gosto de quero mais, mas que tenta fazer um panorama desses 81 anos de vida praticamente inteiros dedicados a música:
O capixaba Carlos Imperial era um letrista razoável, atento aos modismos e com o faro do sucesso, mas, sobretudo, figura de grande importância no processo de popularização do rock no Brasil. Participou de uma infinidade de programas de rádio e televisão e ajudou na iniciação profissional de vários artistas, inclusive Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Carlos Imperial fez então uma letra rebelde e divertida. Em 1968, em parceria com Eduardo Araújo, fez uma música leve que, na ocasião, se encaixava como uma luva na imagem do Tremendão, apelido de Erasmo nos tempos do programa Jovem Guarda (1965-1969; TV Record São Paulo). A música foi gravada no álbum "O Tremendão" de 1968:
Na década de 70, Erasmo e Roberto Carlos começam a transição musical se afastando da Jovem Guarda. Roberto mergulha no romantismo e Erasmo experimenta novos caminhos, como esse samba-rock ao melhor estilo de Jorge Ben Jor, numa levada com os funkeiros do Trio Mocotó.
No final de 1977, Nara Leão e Erasmo Carlos apresentaram no programa “Fantástico”, da Globo, a música “Meu Ego”, mais uma parceria do Tremendão com Roberto Carlos. A música havia sido lançada, naquele mesmo ano, no LP “Os Meus Amigos São Um Barato”, confirmando o pioneirismo de Nara, que dava a partida nos álbuns de duetos na música brasileira.
Sabe o clichê “antes só do que mal acompanhado”? Pode ser uma boa resposta ao eu lírico da canção de Erasmo Carlos. “Mesmo Que Seja Eu” é o relato de um homem sobre a vida, segundo ele solitária, de uma mulher. Talvez a intenção dele tenha sido se declarar um homem apaixonado e protetor e é nesse ponto que, muitas vezes, torna-se difícil identificar o abuso em um relacionamento. A gravação é de 1982:
Na década de 2000, a parceria com Roberto dá uma diminuída e Erasmo se permite compor com parceiros da então nova geração da MPB. Lançada em 2001, no álbum "Pra Falar de Amor", a música foi composta por Erasmo, Marisa Monte e Carlinhos Brown, e gravada em dueto com Marisa Monte:
Erasmo Carlos até o fim da vida, incansavelmente, produziu e se renovou. Em um país onde a indústria fonográfica se perde no marasmo da industrialização musical, Erasmo era um sopro de novidade. Pouco antes de morrer recebeu a notícia que venceu a categoria "Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa" do Grammy Latino com o álbum "O futuro pertence à... Jovem Guarda". O disco, lançado em fevereiro de 2022, reúne oito canções lançadas entre 1964 e 1966 nas vozes de artistas da Jovem Guarda, ou da pré-Jovem Guarda, mas que, até então, eram inéditas na voz do cantor. Erasmo concorria na categoria com Baco Exu Do Blues ("Qvvjfa?"), Criolo ("Sobre Viver"), Lagum ("Memórias (De Onde Eu Nunca Fui)") e Juçara Marçal ("Delta Estácio Blues"). Ou seja, até o fim, Erasmo provou que não existe música "velha" ou "nova", afinal, se a música é boa não tem idade.