A nossa menina dos olhos de ouro, a MPB, é uma sigla muito abrangente. Música Popular Brasileira pode ser qualquer ritmo que seja produzido no país. Não necessariamente bossa nova, ou aquelas músicas que parecem de elevador. MPB vai de samba até forró, de funk até frevo, de Tom Jobim até MC Marcinho. Música popular, que o povo ouve, produzida aqui, seja em português ou não.
Esse estilo da nossa música, por vezes ousado, por vezes repetitivo e até mesmo por vezes combativo, já teve também brigas homéricas entre cantores e/ou compositores, que tornaram nossa música rica. Na nossa coluna "Pautas de brasilidade" de hoje, eu, Marcelo Zanotti, listo aqui as 5 maiores brigas que já aconteceram nesse país tupiniquim:
A vida conjugal do cantor e compositor Herivelto Martins e da cantora Dalva de Oliveira foi sempre tumultuada. Após dez anos de casamento, separaram-se e protagonizaram escândalos e barracos, mas também protagonizaram um dos duelos musicais mais criativos e envolventes na história da MPB. Num dueto entre Núbia Lafayette e Noite Ilustrada, segue um pot-pourri com as melhores canções dessa briga:
Após viverem um affair, que inclusive originou a música "Eu sou a outra", de Carmen Costa, ela e Ataulfo Alves, que na época do ocorrido era casado, tiveram o embate final que, para nossa sorte, foi registrado em disco. Em 1966, anos depois do caso amoroso dos intérpretes, eles se encontraram no programa "Bossaudade" da TV Record de São Paulo e, de improviso, resolveram essa briga da melhor forma possível: transformaram ela em samba.
A disputa entre Marlene e Emilinha Borba, rainhas do rádio nas décadas de 40 e 50, era alimentada mais pelos respectivos fã-clubes do que pelas próprias cantoras. Marlene era conhecida como “A Maior” e Emilinha Borba como a “Garota Grau Dez”. Pouco antes de falecerem, ambas se encontraram no programa "Jovens Tardes", da Rede Globo, e botaram a briga em pratos limpos:
A polêmica Noel Rosa x Wilson Batista durou menos de três anos, mas rendeu músicas interessantes e virou parte do folclore musical brasileiro. Quando o entrevero começou, na década de 1930, o boêmio da Vila já era um respeitado compositor, frequentador da Lapa, amigo de famosos e com o nome feito no meio radiofônico. Já o garoto Wilson ainda era um aprendiz, candidato a malandro e disposto a qualquer coisa para se tornar conhecido. Justamente por isso muitos até hoje não entendem por que Noel começou a briga. “Lenço no Pescoço”, de Wilson, foi respondida com “Rapaz Folgado”, de Noel. “Palpite Infeliz” foi retrucada com “Mocinho da Vila”. “Feitiço da Vila” e “Terra de Cego” deram fim ao embate. Anos depois, o grupo MPB-4, representando Wilson, e a maior intérprete de Noel Rosa de todos os tempos, Aracy de Almeida, reproduziram a peleia:
O embate mais famoso da música no sul do país, sem dúvida, foi entre Teixeirinha e Gildo de Freitas. Ainda hoje existem muitas dúvidas a respeito da briga entre Gildo de Freitas e Teixeirinha, se ela era de verdade ou brincadeira mostrada através dos versos. Gildo acusou Teixeirinha de quebrar um trato segundo o qual os dois gravariam o primeiro LP juntos. Já Teixeirinha, defendendo-se, afirmou que, se o amigo demorou em gravar, e mais ainda para alcançar o sucesso em disco, foi por culpa dele próprio. E as brigas acabaram trazendo sucesso e repercussão para ambos, apesar de alguns momentos de mais belicosidade entre Gildo e Teixeirinha. A seguir, duas músicas que fizeram parte dessa briga: primeiro, "Relho Trançado", de Teixeirinha; e segundo, "A Resposta do Relho Trançado", com Gildo de Freitas.
Se eu pedir pra ti descrever sua visão de música, o que me diria? Imaginaria uma pessoa briguenta ou uma pessoa calma? E um grupo musical, como uma linda orquestra, será que estão em harmonia ou existem brigas nos bastidores?
Bem, nem só de harmonia vive o músico. Este mundo lindo e encantador também está cheio de pequenas e grandes picuinhas entre artistas. As 5 listadas aqui hoje são um grão de areia nessa enorme praia que é a MPB. Quem perdeu? Não sei, mas sei muito bem quem ganhou: o público, que pode ver todos esses sentimentos variados em forma de canção. Até semana que vem, e seguimos firme na luta.