23 Novembro 2018
Agostino Bea foi chamado de "avô" do Concílio. Ele já tinha às costas uma biografia muito movimentada quando sua vida teve uma virada decisiva. Apesar de sua idade avançada, ele se tornou um precursor decisivo do ecumenismo do Concílio Vaticano II - inspirado na ideia da "atualização". Ele morreu há 50 anos, em 16 de novembro de 1968.
A reportagem é de Mathias Altmann, publicada por Settimana News, 17-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na idade de 79 anos, normalmente quando a vida é direcionada para o ponto de chegada, Agostino Bea, cardeal jesuíta alemão, acabou tendo um novo começo. João XXIII confiou-lhe a importante tarefa de imprimir ao Concílio Vaticano II impulsos decisivos para uma nova orientação da Igreja no campo do ecumenismo.
Bea é considerado até hoje um "conservador criativo" que sempre teve diante do olhar o legado da Igreja, mas segundo o espírito de João XXIII, que queria uma "atualização" da fé e da vida da Igreja. Sua intenção não era uma nova Igreja, mas uma Igreja renovada. É por isso que Bea foi uma das figuras centrais do Concílio.
Ele nasceu em 28 de maio de 1881 no sul de Baden, em Riedböhringen, perto de Donaueschingen. Vinha de uma condição simples: seu pai era carpinteiro, e fazendeiro como atividade secundária.
Logo ele se mostrou muito dotado, então seus pais enviaram esse seu único filho para o ginásio de Constance e Rastatt. Durante os anos de escola, ele que vinha de uma aldeia católica, entrou em contato com os protestantes pela primeira vez. Essa experiência teve uma influência duradoura em seu futuro compromisso com o ecumenismo, como ele mesmo relatou em 1967: "Em nossa classe estavam representadas diferentes religiões cristãs e diferentes credos religiosos. E mesmo assim nos entendíamos e trabalhávamos juntos harmoniosamente. Então eu comecei a entender que, com todo o respeito à fé específica dos membros de outras denominações, este não tinha que ter só um respeito frio, mas uma sincera estima, na verdade, eles podiam ser realmente amados. "
Depois de ter passado, em 1900, o exame de maturidade com excelentes notas, iniciou o estudo de teologia católica na Universidade de Friburgo. Em 1902 ele entrou na Ordem dos Jesuítas, que na época havia sido proibida na Alemanha, na esteira do Kulturkampf.
Ele completou o noviciado e continuou seus estudos na Holanda, antes de ser ordenado sacerdote em 1912.
Os superiores logo reconheceram suas habilidades e confiaram-lhe missões importantes. Após a readmissão dos jesuítas na Alemanha, Agostino Bea, em 1921, tornou-se o primeiro Provincial da província jesuíta meridional, com sede em Munique. Durante esse período, ele conheceu o núncio apostólico Eugenio Pacelli, de quem se tornou um importante conselheiro em problemas bíblicos.
Quando, em 1939, Pacelli ascendeu ao trono papal com o nome de Pio XII, Bea, que em 1924 foi nomeado professor de teologia bíblica na Universidade Gregoriana de Roma e desde 1930, era diretor do Pontifício Instituto Bíblico, se tornou seu confessor. Ele permaneceu no comando do Instituto bíblico até 1949. Nessa época, foi um dos principais responsáveis da nova tradução latina dos Salmos, uma obra que lhe garantiu grande reconhecimento.
Com a eleição do Papa João XXIII em 1958, a vida de Bea teve uma virada decisiva: Papa Roncalli, filho de agricultores como Agostino Bea, em 1959 nomeou-o cardeal e, em 1960, confiou-lhe a presidência da “Secretaria para a promoção da unidade dos cristãos", que havia sido reconstituída em vista do iminente Concílio Vaticano II. Nessa função, Bea teve um papel decisivo no curso do Concílio: quis que o Secretariado para a unidade tivesse uma incumbência similar às das outras comissões, na preparação dos textos a serem entregues ao Concílio para o debate.
A principal preocupação de Bea no Concílio foi a relação com as comunidades eclesiais protestantes e com o povo judeu que deveriam ser baseadas em um novo fundamento teológico. Assim couberam ao Secretariado para a unidade, entre outras coisas, o decreto sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, e a declaração Nostra Aetate sobre as relações da Igreja com o judaísmo e as religiões não-cristãs.
Ele logo compreendeu a importância dos discursos do papa que queria um Concílio pastoral que promovesse a unidade dos cristãos. Por isso, ele fez da orientação pastoral e ecumênica dos textos um critério decisivo, do qual considerava especificamente responsável o Secretariado pela unidade que dirigia. Além de seu papel no Concílio e, como presidente do Secretariado para a unidade, Bea conseguiu promover, através de uma extensa rede de intervenções e hábeis relações públicas, uma reorientação ecumênica da Igreja.
Na base do ecumenismo de Bea havia a convicção do inalienável pertencimento à Igreja através do batismo e, consequentemente, um conceito da Igreja em vários níveis. Para isso, era necessário nutrir benevolência e estima em relação às Igrejas separadas. Em redefinir a relação entre a Igreja e o Judaísmo, para Bea era decisivo o fato que, na condenação de Jesus, apenas uma parte do povo judeu estava presente, e principalmente por ignorância. As gerações subsequentes não tiveram nenhuma responsabilidade pela morte de Jesus. O mais importante devia ser o reconhecimento que Deus é fiel à sua eleição e ao seu pacto de aliança.
Em 1962, três anos após sua nomeação como cardeal, Bea finalmente recebeu a consagração episcopal do papa João XXIII.
Após o final do Vaticano II, ele colaborou em várias congregações romanas. A vivacidade do espírito, a intuição vigilante e a flexibilidade na idade muito avançada fazem parte dos aspectos mais surpreendentes da vida de Bea.
Quando ele ainda estava vivo, providenciou que seu último local de descanso não fosse Roma, mas a sua terra natal - ao lado de seus pais. Um pouco maliciosamente, o cardeal deve ter pensado que lá rezariam mais por ele do que em Roma.
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Agostino Bea, o "avô" do Concílio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU